Projeto de psicologia estimula a prevenção ao suicídio

Profissionais e estudantes promovem roda de conversas e oferecem atendimento gratuito no Portal da Amazônia, em Belém

ter, 04/09/2018 - 09:52

O Projeto Psicologia nas Ruas realizou no domingo (2) um evento voltado para a prevenção ao suicídio no Portal da Amazônia, em Belém. Com rodas de conversa, atendimento psicológico gratuito, pintura e teatro para as crianças, participantes e psicólogos puderam interagir sobre temas de saúde mental e qualidade vida, para ajudar na prevenção do suicídio.

Altiere Ponciano, 37, psicólogo e um dos idealizadores do projeto, explica a importância de um evento como esse. “Esse é o lugar onde a gente pode treinar a escuta e se formar enquanto cidadão responsável. Durante muito tempo a Psicologia foi vista como uma ciência elitista, ou seja, ‘'ó quem tem dinheiro é que paga por um psicólogo, porque pessoas pobres não têm sofrimento psíquico’. Então só o fato de a gente conscientizar as pessoas de que uma das coisas da vida é sofrer, já é um grande ganho”, disse.

Muitas pessoas participaram da ação. William Silva, 33 anos, foi uma delas. Ele disse que esse tipo de projeto ajuda a quebrar a ideia de que depressão é “frescura" e de que esse sofrimento atinge apenas pessoas fracas. “Eu mesmo falava que era frescura, até conviver com pessoas depressivas e ver realmente que não era. Eu tive um amigo de infância que se suicidou. Antes de se matar, ele deixou uma mensagem no facebook dizendo que não aguentava mais e pedindo desculpas pelo que ia fazer. E então umas 4 horas da manhã, ele se enforcou”, contou o técnico civil.

Mas por que alguém tiraria sua própria vida? Altiere responde: “Na verdade, a pessoa que comete suicídio não quer tirar sua vida, ela quer resolver um problema, uma dor que ela não consegue localizar, é diferente da dor de dente, ou da dor de cabeça, porque você toma um analgésico e passa, mas a dor psíquica você não consegue localizar, é uma dor na alma”, explica o psicólogo.

Luhana Moraes, 33 anos, professora de bilinguismo, participou da roda de conversa e relatou sua experiência. “A gente sempre pensa que não vai acontecer com a gente, mas as pessoas precisam saber que isso é real. O meu pai se suicidou e com ele vai toda a família", disse.

Atividades de teatro e pintura estimularam as crianças no controle dos sentimentos. A estudante de Psicologia Juliana Tobias, 25 anos, ajudou as crianças na pintura e destacou a importância dessa atividade. “A pintura representa muito o que a criança está sentindo no momento. Se eles já são sinceros falando, pintando são mais sinceros ainda", afirmou a voluntária.

Missão - Levar a Psicologia para além das portas do consultório de forma gratuita é o objetivo do projeto Psicologia nas Ruas, uma ideia de estudantes do Amapá - onde a taxa de suicídios é muito alta - para levar atendimento à comunidade. Além disso, a proposta é desfazer o mito de que a Psicologia é apenas para ricos. Lucas Dourado, organizador do projeto, explicou como esse trabalho funciona. “A gente trabalha a prevenção ao suicídio fortalecendo a rede de assistência, levando informações sobre os centros de atendimento psicológic e médico, para reduzir riscos e favorecer as redes de apoio”, afirmou.

 Essa é a quarta edição do projeto, que atualmente conta com três psicólogos e 13 estagiários (estudantes de Psicologia de diversas universidades e faculdades de Belém).

Setembro Amarelo - O mês de setembro é voltado para a prevenção ao suicídio. Essa é uma campanha criada com o intuito de conscientizar as pessoas sobre um tema pouco discutido, mas de extrema importância, pois o suicídio é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos.

No Brasil, a campanha começou em 2015, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), juntamente com o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria. As primeiras atividades realizadas pelo Setembro Amarelo ocorreram em Brasília, e no ano seguinte várias regiões do país começaram a participar do movimento.

Lucas Dourado falou da importância desse movimento. “O Setembro Amarelo é importante porque quando a gente fala de morte, a gente fala de vida. E nós queremos mostrar a esses sujeitos que há uma outra possibilidade além da morte”, afirmou. Altiere Ponciano concluiu: “No Setembro Amarelo a gente quer mostrar que existe toda uma rede de ajuda disponível para as pessoas. O que a gente quer é dizer que ‘tem solução, basta você desejar sair desse lugar'”. Veja vídeo abaixo.

Por Fernanda Cavalcante. Vídeo: Bruna Oliveira.

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