Entenda o problema das enchentes em São Paulo

Mudanças climáticas e falta de obras como piscinões estão entre as principais causas de alagamentos

por Nataly Simões qua, 13/03/2019 - 13:56
Reprodução / Twitter Nos últimos três anos, o governo de São Paulo gastou menos da metade do orçamento contra enchentes Reprodução / Twitter

As fortes chuvas que tem atingido a Grande São Paulo deixaram 13 mortos, prejuízos para moradores e comerciantes que tiveram suas respectivas casas e lojas invadidas pela água, além de ter afetado a mobilidade da população, que ainda enfrenta os reflexos do problema das enchentes nesta quarta-feira (13).

A educadora social Ingrid Limeira, 34 anos, mora em Santo André e apesar de não ter tido sua casa alagada por causa da chuva que castigou a cidade entre o domingo (10) e a segunda-feira (11), precisou de muita paciência para chegar ao trabalho ontem, já que a Linha 10 – Turquesa da CPTM, que liga o ABC à capital paulista, ficou fechada por 17 horas.

"Os trens estavam todos atrasados e o trajeto entre as estações Tamanduateí e Santo André, que normalmente é feito entre dez e 15 minutos, hoje demorou 40 minutos", afirma.

Ingrid relata que os comerciantes do Terminal Santo André perderam todas as mercadorias. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) estima que o prejuízo causado pelas enchentes chega a R$ 45 milhões.

"O subsolo do terminal onde ficam várias lojas ficou repleto de lama. Os comerciantes perderam tudo e a cidade está com cara de ressaca, com o trânsito ainda muito caótico", conta Ingrid.

Para a moradora, a falta de obras para prevenir enchentes é um dos grandes problemas do ABC Paulista. "Não tem saneamento básico, por isso as pessoas jogam lixo na rua. E aqui em Santo André não tem piscinão e o governo não faz nada. Aí quando chove, acontece isso", diz.

De acordo com dados do Governo do Estado de São Paulo, nos últimos três anos foi gasto menos da metade do orçamento contra enchentes, sendo que a verba que o estado tinha para drenagem era de R$ 5,3 bilhões. Apenas 41% do valor foi gasto.

O jornalista especializado em Meio Ambiente e Sustentabilidade e professor de Gestão Ambiental, Reinaldo Canto, explica que embora as obras não sejam as únicas formas de prevenir alagamentos, a falta delas potencializa os efeitos das fortes chuvas que atingem a Grande São Paulo.

"Esta é historicamente uma época de fortes chuvas, portanto até aí nada de novo, mas uma triste confluência entre fenômenos climáticos extremos causados pelas mudanças climáticas fizeram com que houvesse um volume concentrado de chuva ainda mais agressivo. Isso somado à ausência de obras que contribuíssem para minimizar o problema, fez com que ocorressem esses terríveis resultados", esclarece.

Canto acrescenta que a implementação de piscinões para armazenar grandes quantidades de água, assim como a realização de campanhas de conscientização da população para não despejar lixo em rios e córregos são algumas das medidas que o governo deve tomar para evitar as enchentes.

Para o especialista, o estrago que a chuva causou em São Paulo nos últimas dias também deve servir de alerta para que as autoridades deem mais atenção para essa questão.

"É uma realidade que veio para ficar e, portanto, deveremos nos acostumar e reagir da melhor maneira possível a fenômenos que irão intercalar severos períodos de estiagem com outros de chuvas torrenciais. Novos tempos de mudanças climáticas vão exigir ainda mais trabalho e ações efetivas de nossas autoridades", pondera.

O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quarta-feira que vai viabilizar a construção do Piscinão de Jaboticabal, que tem como objetivo prevenir enchentes na divisa entre os municípios de São Bernardo do Campo e São Caetano. A obra estimada em R$ 400 milhões terá capacidade para escoar 900 mil m³ de água.

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