Vítimas da pandemia devem aumentar após a virada de ano

Sem data para a vacina, a retomada de contaminações em Pernambuco vista após as eleições corre o risco de ser agravada pelas aglomerações de fim de ano

por Victor Gouveia qua, 23/12/2020 - 11:29
LeiaJáImagens/Arquivo A sanitarista Bernadete Perez prevê uma piora nos registros da pandemia já em janeiro LeiaJáImagens/Arquivo

Frente à 5ª semana de alta nos índices da Covid-19 em Pernambuco, a iminência da 'segunda onda' de infecções põe em xeque a estratégia das autoridades de controle e evidencia o descompromisso da população. A descoordenação na distribuição da vacina e a falta de colaboração, que mais uma vez deve ser corrompida nas festas de fim de ano, traz ares pessimistas para 2021, como explica a Vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Bernadete Perez, em entrevista ao LeiaJá.

A supervisora do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ratifica que a pandemia nunca esteve controlada, e sim, freada pelas medidas de distanciamento mais rígidas em maio. Contudo, a flexibilização considerada precoce e irresponsável, e a condução das campanhas eleitorais em uma situação de iminente colapso da rede de saúde projetam um futuro adverso. "Infelizmente, a gente tem que esperar o pior porque combinar essa pandemia arrastada, com o cansaço e com esse Governo Federal criminoso, que tem sido completamente ausente. Como não temos previsão para a chegada da vacina, janeiro com certeza estará pior", alerta Bernadete.

O último boletim divulgado informa que o estado acumula 210.081 casos e 9.459 vítimas fatais. Independente da crescente, o horário do comércio foi estendido, setores considerados não-essenciais e bares são reincidentemente notificados por desrespeitar as regras do Plano de Convivência. Por outro lado, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) se orgulha de ainda ter 19% leitos de UTI disponíveis, no entanto tal relação é classificada 'perversa' pela especialista. "Eu discordo quando dizem 'se tiver UTI liberada, libera a flexibilização'. Isso é um absurdo. É como dizer 'eu sei que as pessoas vão se infectar, eu sei que em torno de 5% vão morrer'. Isso é muito perverso", criticou.

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Um novo lockdown geral seria inviável, porém a flexibilização deva ser reavaliada, mesmo com o recuo no setor de eventos. "Restrição de mobilidade, rigidez no isolamento, distanciamento físico de pessoas, proteção social e políticas de controle e fiscalização de aglomerações", foram elencados pela médica, que lamenta a inversão de prioridades em relação às reaberturas. Para ela, a conquista de uma condição segura deveria privilegiar primeiro as escolas.

Em absoluta desaprovação, Bernadete repudia a narrativa tomada pelo presidente Jair Bolsonaro, que enfraquece o combate à Covid-19 e propaga a desconfiança quanto ao imunizante. "A mensagem é de completo abandono do povo brasileiro. O governo passa que é um problema menor e continua negando o impacto da pandemia. Se apega em kits mágicos ineficazes de medicamentos e negam a gravidade", assegurou.    

Na sua visão, o plano de imunização ao invés de comemorado, encontrará dificuldades para ser posto em prática por sua falta de planejamento. "Ao mesmo tempo que o presidente diz 'quanto antes a gente conseguir a imunidade coletiva, melhor'. Só que a imunidade coletiva sem vacina, que é o que eles tão fazendo, significa milhares de mortos", acrescentou. 

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