Discurso de Moro faz esquerda intensificar o impeachment

Os líderes da oposição compreendem que o ex-ministro da Justiça relatou uma série de crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro durante o anúncio da sua saída

por Victor Gouveia sex, 24/04/2020 - 13:13
Marcos Corrêa/PR Com aproximadamente um ano e meio de gestão, o Governo Bolsonaro é reconhecido pela instabilidade nos ministérios Marcos Corrêa/PR

Após o ex-ministro Sergio Moro abandonar o Ministério da Justiça, na manhã desta sexta-feira (24), lideranças da esquerda opinaram sobre o pedido de demissão. Diante da confissão de supostas ilegalidades cometidas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), a ala intensificou o pedido de impeachment. Parte dos opositores também ressaltou o elogio velado em relação à autonomia que as autoridades tinham durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), demonstrou espanto com a barganha de Moro, que relatou ter pedido uma pensão aos familiares para assumir a pasta. Tido como um dos principais opositores da atual gestão, Dino também impulsionou o início do processo de impeachment de Jair Bolsonaro diante ao destacar o "aparelhamento político da Polícia Federal", que resultou na demissão do ex-diretor Maurício Valeixo.

Terceira força da última eleição presidencial, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), afirmou que o Brasil "ganha muito" com a "confrontação chocante" entre Moro e Bolsonaro. Após o discurso de Sergio Moro, o pedetista listou uma série de supostos crimes cometidos pelo atual mandatário, dentre eles: prevaricação, falsidade ideológica, tráfico de influência, obstrução da justiça, abuso de autoridade.

Outro concorrente da corrida presidencial, Guilherme Boulos (PSOL), disparou contra o ex-líder do Ministério da Justiça e disse que o legado deixado foi "um governo de milicianos, que acoberta laranjas e negocia cargos com o centrão". Caso as acusações ditas por Moro sejam verdadeiras, Boulos entende que o Bolsonaro deva sair do cargo – caso haja o cumprimento das leis -, e concluiu: "Em briga de compadre sempre sai verdade...".

O principal adversário de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad (PT), classificou o episódio como uma "trágica ironia". O ex-prefeito de São Paulo reiterou que o ex-ministro usou a Polícia Federal para "armar contra Lula" e abrir alas para a vitória do concorrente, na época do PSL. Ele ainda pontuou sobre o reconhecimento da autonomia dada às autoridades durante as gestões do seu partido e acusou o centrão de impedir o afastamento do presidente.

A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, avaliou que o anúncio de Moro foi uma confissão de crimes, e que o ex-juiz acabou delatando o atual presidente de "corrupção, pagamento secreto de ministro, obstrução de justiça e prevaricação". A líder destaca que, após a coletiva, o ex-ministro deveria seguir direto para prestar depoimento na Polícia Federal.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) garantiu que Moro nunca ligou para os supostos crimes cometidos por toda a família Bolsonaro e até tolerou humilhações para alcançar seu "projeto pessoal de poder". Para Freixo, as declarações do ex-juiz implodiram o atual governo. O deputado ainda solicitou a convocação do ex-ministro na CPMI das Fake News para que ele esclareça a atmosfera que envolveu a demissão do delegado Valeixo e as interferências do presidente na Polícia Federal para proteger a própria família.

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