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A Operação Muçambê III, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícia Federal (PF), erradicou mais de 538 mil pés de maconha, o que equivale a cerca de 180 toneladas da erva. A ação foi realizada no Sertão de Pernambuco, do dia 22 de junho a 1º de julho. A PF não divulgou se a operação resultou em prisões.

Foram montadas três frentes de atuação, sendo uma por terra, por água e por ar. A polícia aponta que a maior parte dos plantios está nas ilhas do Rio São Francisco.

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Ao todo, 86 policiais federais, 38 policiais rodoviários federais e seis agentes administrativos se empenharam na operação. "O tráfico de drogas na região acaba atraindo para moradores locais vários problemas como assaltos, furtos, homicídios, assassinatos, acertos de contas, dentre outros crimes, pois geralmente essas ocorrências giram em torno desta atividade ilícita. Cada ponto de venda de droga desabastecido, significa um foco a menos de violência", destacou a assessoria de imprensa da PF.









 

A Cannabis medicinal será estudada como forma de aliviar sintomas de sobrecarga psicológica em médicos e enfermeiros da linha de frente do combate a pandemia do Novo Coronavírus. A ideia é demonstrar como a planta é eficaz no tratamento de problemas gerados pelo momento que vivemos.

O estudo foi aprovado esta semana pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O título da pesquisa é “Impacto do óleo integral de Cannabis na saúde mental de profissionais da linha de frente no combate a COVID-19”.

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“A cannabis já tem efeito consagrado como ansiolítico. Neste momento de pandemia, estes profissionais estão expostos a uma alta carga de estresse que acaba refletindo fisicamente e mentalmente. No estudo, iremos avaliar como a cannabis atua no controle da ansiedade, depressão e estresse destes profissionais”, explicou o diretor da Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace Esperança), Cassiano Teixeira.

Irão participar 300 profissionais da saúde, entre médicos e enfermeiros. O óleo a ser utilizado no estudo é fabricado pela Abrace e será disponibilizado a todos de forma cega, ou seja, sem que eles saibam se estão utilizando cannabis ou não.

“Eles irão receber um medicamento feito com o extrato integral da planta com 100mg/mL de CBD ou placebo. Estes profissionais serão acompanhados durante seis meses de tratamento, e receberão um questionário para auto-avaliação e consultados por médicos da equipe por telemedicina”, detalhou o diretor da Abrace.

A previsão de resultados é para o mês de março de 2021. Este será o primeiro estudo da espécie no Brasil.

Da assessoria da Abrace Esperança

A plataforma de streaming Netflix vai lançar um novo reality show sobre culinária, com algo diferente dos inúmeros reality shows sobre o tema: todos os pratos têm a maconha como ingrediente. 

Batizado de "Cooked With Cannabis" ou "Receita Boa", em português, o reality estreia no dia 20 de abril, dia mundial da cannabis, mesmo dia em que aconteceria a Marcha da Maconha, passeata global em prol da legalização do uso da cannabis. Por conta da pandemia de coronavírus, a marcha deste ano foi cancelada.

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O programa será apresentado pela cantora e chef Kelis Rogers, ao lado do renomado chef de cozinha canábica Leather Storrs, e contará com seis episódios em que os cozinheiros terão seus pratos julgados pelos apresentadores e por um convidado, que mudará a cada etapa, segundo reportagem do Food & Wine.

Em entrevista ao site de gastronomia, Storrs disse que "é um programa para quem gosta de comida, cannabis ou os dois’’. Ele explica que muitos chefs usam a planta de maneiras não psicoativas: como aromatizantes, purê de tortilhas ou misturadas na farinha.

 

Nessa segunda-feira (23) foi anunciado que vários estados dos EUA decidiram que a maconha é essencial e as lojas devem permanecer abertas. O objetivo seria manter a imunidade da população alta, um dos benefícios da cannabis.

A Cannabis não combate o coronavírus, como alguns especularam, mas pode ser utilizada neste combate. É o que explica o médico Pedro Pierro Neto. “Existem receptores canabinoides no sistema imunológico e isso já é bem descrito na literatura", afirma.

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A Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace) doará frascos de óleo rico em canabinóide para profissionais da saúde. A ideia é provar esta possibilidade de uso. Médicos que estão a frente do tratamento de pacientes com o Covid-19 e que estão expostos ao vírus receberão o óleo.

“Talvez não seja significativo, eu acredito que sim, mas pode ser facilmente questionado e por isso a importância dessa iniciativa. Um grupo de médicos voluntários, selecionados e que usem o óleo enriquecido com canabinoides e ao fim desse período comparar com a taxa de infecção de médicos que não usam”, acrescenta Pierro Neto.

O estudo irá durar o tempo que a pandemia permanecer. Todos os médicos que se voluntariarem nesta pesquisa serão observados durante todo o período para entender as reações do organismo.

A Abrace Esperança acredita que pode ajudar essencialmente àqueles que vêm recebendo reconhecimento pelos serviços prestados à população, mas sem auxílio máximo para suas proteções. Para a entidade, a cannabis medicinal pode ser a arma que se espera encontrar durante esta crise em todo o planeta.

Cannabis diminui ansiedade?

Acompanhar noticiários que mostram a pandemia crescendo diariamente e não poder agir, sendo obrigado a permanecer em isolamento social causa estresse e ansiedade na população, o que pode ser combatido pela Cannabis. Pedro Pierro Neto afirma que este é mais um ponto de auxílio. “Principalmente o canabidiol tem ações sobre receptores serotoninérgicos do tipo 5HTL-1. Isso quer dizer que diminui consideravelmente a ansiedade das pessoas”, declara o médico.

Com informações da assessoria

Cinco cientistas de áreas como Farmácia, Biologia Molecular e Agronomia deram subsídios técnicos aos integrantes da comissão especial que examina o projeto de lei sobre a permissão do uso da cannabis para fins medicinais. Em audiência pública nesta terça-feira (10) na Câmara dos Deputados, eles explicitaram tanto os benefícios da planta para dar mais qualidade de vida a pacientes de várias doenças quanto a viabilidade do plantio da cannabis em solo brasileiro.

Os pesquisadores resumiram as vantagens do Brasil: uma imensa área cultivável e boas condições de luminosidade, temperatura e umidade. Ao contrário dos países mais frios, aqui não é preciso fazer o plantio em estufas, como salientou o biólogo Fabian Borghetti, um dos participantes do debate.

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“No nosso país, o cultivo outdoor permite uma expressão mais rica de características, que gera produtos mais diversificados. Seria o equivalente, à expressão que se usa para os vinhos, na indústria vinícola, o terroir. Quem aprecia vinhos sabe que o local de produção – a uva é a mesma, mas a variedade é diferente e o ambiente é superdeterminante para as características organolépticas (cor, brilho e textura, por exemplo) daquela bebida”, disse.

O farmacêutico bioquímico Euclides Cardozo lembrou que já existe legislação para punir desvios de finalidade no plantio, uma das preocupações na discussão do uso da cannabis como matéria-prima para remédios. Mas o país não tem regras para o cultivo de plantas controladas, aquelas que podem ter efeitos psicoativos.

“Como sociedade, a gente não priorizou, até hoje, o potencial terapêutico das plantas. Quando a gente fala de planta medicinal, no meio profissional, muitas vezes é carregado de preconceitos. Os profissionais, por desconhecimento, na maioria das vezes, não conseguem observar a capacidade que o nosso país tem de desenvolver produtos a partir de espécies vegetais”, observou.

Marco regulatório

Para o deputado Luciano Ducci (PSB-PR), relator do projeto de regulamentação do uso medicinal da cannabis, as informações dos pesquisadores podem colaborar para que seu parecer seja um marco regulatório do tema. O parlamentar vê benefícios para o país.

“O Brasil pode ser um protagonista mundial na questão tanto do plantio como da produção de medicamentos, pesquisa de outros insumos, outros derivados da cannabis, fazendo com que o Brasil assuma um papel muito importante, a nível mundial. Nós temos uma Embrapa muito forte, uma agricultura forte, a parte de pesquisa muito forte”, disse.

Representantes da sociedade civil interessados na regulamentação do uso de remédios à base de cannabis acompanharam a audiência pública. Como Rafael Ladeira, da Aliança Verde, organização de Brasília que reúne pacientes, médicos e pesquisadores. Ele destacou as vantagens deste marco regulatório.

“A primeira é a possibilidade de pesquisa científico, de plantios com quimiotipos específicos, que possibilitem um tratamento mais adequado para cada um. Outro fator é o custo, que é um dos fatores, mas não é talvez nem o principal. O principal é a gente sair dessa amarra da ilegalidade, porque hoje uma mãe ou um pai ou uma associação que cultiva de forma não autorizada é considerada um criminoso”, afirmou.

Quarentena

De acordo com o relato dos cientistas, se for permitido o plantio, Amazônia e Pantanal são duas regiões onde a aptidão da cannabis é baixa. Roberto Vieira, da Embrapa, ressaltou também a importância de se estabelecer uma quarentena no caso de o país tomar a decisão de importar plantas e sementes, providência necessária para evitar pragas e doenças.

O presidente da Comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e o relator, deputado Luciano Ducci, planejam fazer mais duas audiências públicas, nos dias 24 e 31 de março. A expectativa é que o parecer final comece a ser discutido na segunda quinzena de abril.

Da Agência Câmara de Notícias

Entra em vigor nesta terça-feira (10) a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que regulamenta a fabricação, importação e comercialização de produtos derivados da cannabis para fins medicinais. A norma foi aprovada em dezembro do ano passado. A íntegra está disponível no site do órgão.

O produto estará disponível somente em farmácias sem manipulação e em drogarias. Para a compra, o paciente deverá ter uma receita fornecida exclusivamente por um médico. Os produtos devem ter teor de THC de até 0,2%. Acima desse patamar, o uso só poderá ser prescrito a pacientes terminais que tenham esgotado outras formas de tratamento visando a cuidados paliativos.

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A entrada no mercado só poderá ocorrer mediante autorização da agência, que avaliará os pleitos de laboratórios e empresas com vistas à atuação nessa área e fornecerá uma autorização sanitária, e não um registro, permitindo a oferta.

Cannabis é um elemento encontrado nas plantas de maconha. Os produtos derivados não serão considerados medicamentos, mas uma categoria específica. A resolução da Anvisa abriu perspectivas de comercialização dessas substâncias, demandadas para o tratamento de doenças neurológicas diversas, da dor crônica ao parkinson.

Elas não são consideradas medicamentos porque, segundo a Anvisa, “não há dados suficientes para a comprovação da segurança, eficácia e qualidade da maior parte dos produtos obtidos”. Por isso, a liberação se deu levando em consideração informações sobre o emprego desses elementos em tratamentos em outros países, como Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Israel.

O uso de medicamentos derivados de cannabis já pode ser solicitado à Anvisa desde 2016, mas a análise se dá caso a caso e demanda a aquisição de um produto no exterior, o que encarecia o acesso a esse tipo de terapia. Na resolução que entra em vigor hoje, a agência diferencia os produtos dos medicamentos à base de cannabis.

Exigências

A autorização sanitária será fornecida apenas para substâncias de aplicação pelas vias nasal e oral. Não cabem aí, por exemplo, aquelas de consumo sublingual ou por inalação.

A resolução veda a comercialização do que chama de “forma de droga vegetal da planta ou suas partes, mesmo após processo de estabilização e secagem, ou na sua forma rasurada, triturada ou pulverizada, ainda que disponibilizada em qualquer forma farmacêutica”. Também são proibidos cosméticos, cigarros e outros fumígenos e alimentos à base de cannabis.

Para solicitar, a empresa deve ter autorização de funcionamento da Anvisa, podendo ser nacional ou internacional. Em caso de importação, será necessário comprovar que o produto é legalizado no país de origem, com documento da autoridade competente local.

Firmas nacionais ficam impedidas de promover o cultivo no Brasil, podendo, em vez disso, trazer de fora matéria-prima semielaborada para a fabricação dos produtos processados no país.

Para integrante da Comissão de Assuntos Regulatórios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ex-integrante do Conselho Nacional de Drogas Rodrigo Mesquita, a nova regulação consolida o valor medicinal da cannabis, amplia as possibilidades de acesso por parte dos pacientes e permite que empresas explorem esse mercado no país.

Contudo, o impedimento do cultivo no Brasil dificulta o desenvolvimento de uma indústria nacional e de pesquisas com a cannabis, além de influenciar os custos, uma vez que demanda a importação doe insumos. “Isso terá impactos bastante perceptíveis no preço, pois os extratos brutos deverão ser importados para então serem fabricados aqui. Fica uma cadeia produtiva limitada e dependente de outros mercados, o que afeta o preço final e o acesso”, comenta.

Uma equipe de cientistas da Universidade McMaster, no Canadá, estabeleceu que o canabigerol (CBG) tem potencial no tratamento de bactérias patogênicas.

Cientistas da Universidade McMaster no Canadá identificaram um composto antibacteriano gerado pela maconha que poderia ajudar a desenvolver novos medicamentos, segundo um estudo publicado na revista American Chemical Society Infectious Diseases.

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"Uma equipe interdisciplinar de pesquisadores da [universidade] McMaster descobriu que o composto químico, ou canabinoide, chamado canabigerol (CBG) não é apenas antibacteriano, mas também tem um efeito em ratos contra uma bactéria resistente conhecida como Staphylococcus aureus (MRSA)", disse o centro educacional localizado em Hamilton, Ontário, no Canadá.

Os pesquisadores estudaram 18 canabinoides disponíveis comercialmente, e alguns mostraram maior atividade antibiótica que outros, segundo Eric Brown, professor de bioquímica e ciências biomédicas na Universidade McMaster, que liderou o estudo.

"Nos concentramos em um canabinoide não psicoativo chamado CBG porque tinha a atividade mais promissora", acrescentou.

A equipe descobriu que o CBG mostrou atividade antibacteriana contra a bactéria MRSA que o impedia de formar biofilmes, estruturas de microrganismos que se ligam a si mesmos e a superfícies, e destruía os anteriormente formados, bem como as células resistentes a antibióticos.

"O CBG provou ser ótimo no tratamento de bactérias patogênicas; a descoberta sugere um potencial terapêutico real dos canabinoides como antibióticos", disse Brown.

Da Sputnik Brasil

Nesta segunda-feira (27), foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) a regulamentação para a importação de produtos derivados da maconha para uso pessoal e medicinal. Medida tomada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece alguns critérios para a viabilidade do uso do Cannabis.

Para importação e uso de Produto derivado de Cannabis os pacientes devem se cadastrar junto à Anvisa, por meio do formulário eletrônico para a importação e uso de Produto derivado de Cannabis, disponível no Portal de Serviços do Governo Federal. A aprovação do cadastro dependerá da avaliação da Anvisa e será comunicada ao paciente ou responsável legal por meio de Autorização emitida pela Agência. O cadastro é válido por dois anos.

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A importação do produto poderá ainda ser intermediada por entidade hospitalar, unidade governamental ligada à área da saúde, operadora de plano de saúde para o atendimento exclusivo e direcionado ao paciente previamente cadastrado na Anvisa, de acordo com esta Resolução.

O produto a ser importado deve ser produzido e distribuído por estabelecimentos devidamente regularizados pelas autoridades competentes em seus países de origem para as atividades de produção, distribuição ou comercialização.

A Defensoria Pública da União (DPU) no Recife conseguiu mais uma liminar perante a Justiça Federal em Pernambuco, na última terça-feira (21), para que uma mãe possa cultivar a planta e extrair o óleo da Cannabis, popularmente conhecida como maconha. O filho dela, de 9 anos, foi diagnosticado com hemimegalencefalia e apresenta um histórico de crises convulsivas graves desde os 10 meses de vida.

Após inúmeras tentativas frustradas com remédios convencionais, apenas o tratamento com óleo da Cannabis com CDB/THC resultou melhora significativa no estado de saúde da criança.

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Aos 10 meses de vida o menor J.P.S.C. começou a ter crises convulsivas contínuas de difícil controle, que acabaram causando atraso no seu desenvolvimento psicomotor. A mãe E.C.S.C. precisou parar de trabalhar para cuidar apenas do seu filho. Apesar dos cuidados com medicações e terapias, o quadro de saúde da criança não apresentou melhoras. Em 2015, a família tomou conhecimento de casos de crianças que vinham sendo tratadas com o óleo da Cannabis e passou a acompanhar esse tipo de tratamento.

Considerando o valor elevado do medicamento, a mãe entrou na Justiça para que o Estado forneça a medicação prescrita, mas o pedido de liminar foi indeferido na época e a ação continua pendente de julgamento. Ela também requereu junto à ANVISA uma autorização de importação do medicamento prescrito, mas também ainda não houve resposta. Em 2019, a família conseguiu prescrição médica para uso do medicamento, após o médico ver a melhora de saúde do menor com o óleo da Cannabis.

Considerando a primeira liminar relacionada ao tema em Pernambuco, emitida em dezembro de 2019, a Defensoria Pública da União no Recife impetrou um Habeas Corpus preventivo, no dia 16 de janeiro de 2020, para obter a concessão de salvo-conduto para E.C.S.C, assegurando que ela possa plantar a Cannabis sem que agentes policiais possam atentar contra a sua liberdade ou apreendam as sementes ou mudas de plantas utilizadas no tratamento terapêutico do filho até decisão definitiva da ação.

A liminar foi concedida nesta terça-feira (21) pela juíza federal da 36° Vara Federal de Pernambuco, Carolina Souza Malta. “Por todo o exposto, defiro a medida liminar requerida, concedendo à paciente o salvo-conduto para que as autoridades coatoras se abstenham de adotar qualquer medida voltada a cercear a sua liberdade de locomoção, na ocasião da importação de sementes ou no recebimento de sementes/mudas junto a associações com autorização regulamentar ou judicial para tal fornecimento (a exemplo da ABRACE), bem como na produção e cultivo do vegetal Cannabis sativa dentro da sua residência, adstrito o salvo-conduto à quantidade suficiente para a produção do seu próprio óleo, com fins exclusivamente medicinais. Concedo o ainda, para abranger o porte, transporte/remessa de plantas e flores para teste de quantificação e análise de canabinóides a órgãos e entidades de pesquisa, ainda que em outra unidade da Federação, para fins de parametrização laboratorial, com a verificação da quantidade dos canabinóides presentes nas plantas cultivadas, qualidade e níveis seguros de utilização dos seus extratos”, destacou a magistrada na decisão.

Segundo a defensora pública federal Tarcila Maia Lopes, que está atuando no caso em conjunto com os defensores de Direitos Humanos de Pernambuco (DRDH/PE), André Carneiro Leão e Francisco de Assis Nascimento Nóbrega, essa é a segunda liminar de três casos já ajuizados. “Fomos procuradas por cerca de 10 famílias com essa mesma necessidade. Ajuizamos três ações e duas delas já tiveram a liminar deferida. Estamos aguardando o resultado da terceira. Os demais casos estão sendo avaliados pela Defensoria”, destacou a defensora.

Da assessoria

Com a nova regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar, fabricar e autorizar a venda em farmácia de produtos à base de Cannabis, a cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, terá um laboratório para iniciar a fabricação dos produtos. A Ease Labs, multinacional que adquiriu o laboratório, tem a expectativa de iniciar as atividades produtivas ainda no primeiro semestre de 2020, quando passar a vigorar a regulamentação da Anvisa.

"O laboratório tem 1450 m² de área produtiva, completo setor de controle de qualidade e controle microbiológico, capacidade de produzir 3,6 mil medicamentos por hora - o que garantirá capacidade de suprir toda a demanda pelos produtos no Brasil", garante Gustavo de Lima Palhares, CEO da multinacional.

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Com a operação do laboratório, 40 novos empregos poderão ser gerados com a operação do laboratório - número pode triplicar em 2021. Os produtos à base de canabidiol serão vendidos em farmácias sob prescrição médica e retenção da receita. “Com a decisão da Agência, os pacientes poderão ter acesso à essa possibilidade terapêutica com garantia de qualidade, eficácia e segurança, por um preço muito mais acessível e sem toda a burocracia do procedimento atual”, analisa Gustavo.

Após ação da Defensoria Pública da União (DPU) no Recife, a 4ª Vara Federal de Pernambuco concedeu liminar em pedido de habeas corpus para que R.A.S. possa cultivar Cannabis em sua residência sem correr o risco de ser presa. A assistida produz em casa óleo medicinal para o tratamento da filha, que tem autismo e sofre com crises convulsivas.

Aos quatro anos de idade, D.V.A.S., filha de R.A.S, foi diagnosticada com autismo. Laudo médico atestava que a menina sofria de retardo mental de grau moderado, hiperatividade e humor instável. A criança passou a fazer uso de diversos medicamentos para controlar os sintomas, mas não obteve resultados. Além disso, as drogas causavam uma série de efeitos colaterais.

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A família resolver apostar então no tratamento com Cannabis medicinal, que já vinha sendo utilizado por outras crianças com sucesso. No entanto, diante dos altos custos para importação do medicamento – cerca de 20 mil reais por ano –, R.A.S. decidiu cultivar a planta em casa. Com o uso da substância, D.V.A.S. apresentou melhora significativa. As crises convulsivas, que costumavam acontecer de cinco a oito vezes por semana, reduziram-se a duas, ao longo de dois anos, após o uso do canabidiol, o que levou os médicos a suspenderem outras medicações mais agressivas.

“Diante da impossibilidade de promover a importação do extrato sem tornar impossível o sustento da família, por ser um produto de elevado valor econômico, a única saída para a manutenção da vida digna dessa criança foi cultivar a planta. (...) Porém, por ser o cultivo de erva proibido no país, a mãe encontra-se sujeita a atuação policial de apreensão da plantação que mantém em casa, bem como das flores colhidas e do óleo existente”, afirmaram os defensores públicos federais Tarcila Maia Lopes e André Carneiro Leão no pedido de habeas corpus preventivo. Também assinaram a peça as advogadas voluntárias Débora Fonseca Barbosa e Érika Andrea Silva Santos.

Assim, a DPU solicitou à Justiça que fosse concedida ordem de salvo-conduto em favor de R.A.S. “para assegurar que os agentes policiais do Estado de Pernambuco se abstenham de atentar contra sua liberdade de locomoção, em razão da presença concomitante dos requisitos periculum in mora e fumus boni iuris, e também por ser necessário segundo ordens médicas e reconhecido pelo órgão do Estado, de que a filha da paciente, D.V.A.S., precisa do tratamento com Cannabis medicinal, bem como fiquem impedidos de apreenderem as sementes eventualmente importadas e mudas das plantas utilizadas nos respectivos tratamentos terapêuticos, até decisão definitiva de mérito”.

A DPU pediu, ainda, que “ao final, no mérito, seja confirmada a concessão da ordem de salvo-conduto, a fim de que as autoridades encarregadas, Polícias Federal, Civil e Militar, competentes para receberem eventuais denúncias, sejam impedidas de proceder à prisão em flagrante da Paciente pela aquisição de sementes, cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis para fins exclusivamente terapêuticos, bem como se abstenham de apreenderem os vegetais da planta utilizados para produzir os medicamentos necessários”, e que “conste, no salvo-conduto, autorização para porte, transporte/remessa de plantas e flores para teste de quantificação e análise de canabinóides através de guia de remessa lacrada confeccionada pelo próprio Paciente, aos órgãos entidades de pesquisa, ainda que em outra unidade da federação, para que seja possível a feitura da parametrização laboratorial e a o exercício e fruição plena de seus direitos constitucionais”.

A juíza federal Ethel Francisco Ribeiro deferiu a liminar. Determinou, ainda, que os restos de todo o processo de produção do óleo devem ser utilizados apenas como adubo, e não descartados com o lixo comum. Além disso, R.A.S. deverá elaborar relatórios prestando informações sobre quantidade de sementes ou mudas, espécie, extrações e remessas para avaliação, bem como apresentar atestado médico de acompanhamento da criança, trimestralmente, até o trânsito em julgado do mérito do habeas corpus.

Por fim, a magistrada determinou que R.A.S. deve observar estritamente os termos estabelecidos na decisão, ficando ciente de que a autorização concedida é pessoal e intransferível, “de modo que não poderá, sob nenhuma hipótese, doar ou transferir, a qualquer título, a matéria prima (ou parte dela) adquirida a terceiros, e para qualquer outra finalidade não prevista nesta decisão, sob pena de incorrer nas sanções penais previstas pela Lei nº 11.343/2006”.

*Da Defensoria Pública da União no Recife

À frente de uma das maiores farmacêuticas do mundo, o executivo Theo Van der Loo participou de importantes decisões quando estava no comando da Bayer no Brasil. Em voo solo, há quase um ano e meio, prepara-se para voltar ao setor, desta vez como empresário no desenvolvimento e em pesquisas clínicas de medicamentos à base de cannabis (maconha) medicinal, já usada para tratamento de epilepsia, autismo e esclerose múltipla.

Com uma carreira de mais de 30 anos na multinacional alemã fabricante da Aspirina, Van der Loo conhece bem a rota de como um medicamento é desenvolvido - investimentos bilionários, aliados a anos de pesquisas clínicas em princípios ativos que podem ou não se concretizar no lançamento final de um remédio.

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Agora, com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que aprovou, por unanimidade, na terça-feira, a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base de cannabis em farmácias e drogarias no Brasil, as regras começam a ficar mais claras para investidores e indústrias que colocam dinheiro neste negócio. A Anvisa vetou, contudo, o plantio da erva em território nacional no País para fins científicos e medicinais.

Atualmente, medicamentos à base de canabidiol podem ser importados mediante prescrição médica e autorização da Anvisa. O canabidiol, também conhecido por CBD (com efeito relaxante), ao lado do THC (com efeito alucinógeno), são dois dos mais de 100 componentes da Cannabis sativa, nome científico da maconha.

"Medicamentos à base de cannabis podem ajudar muita gente. Para pacientes com câncer, por exemplo, ajuda a estimular o apetite e aplacar a dor. Conforme houver mais pesquisa, mais pacientes serão beneficiados", ressalta Van der Loo, que fundou a startup NatuScience.

Com a aprovação da Anvisa, investidores e empresas brasileiras veem a decisão como um passo importante para a expansão do negócio no País. Também é o caso da Entourage, que já importa a planta para transformar em extrato concentrado e desenvolver formulação de medicamentos para os pacientes. A empresa está intensificando conversas com laboratórios nacionais para fazer parcerias para lançamentos de novos produtos no País.

Fundada em 2015 por Caio Abreu, advogado especializado em mercado de capitais, a Entourage pretende pedir autorização da Anvisa no primeiro trimestre de 2020 para fazer ensaios clínicos no Brasil para tratamentos de epilepsia refratária. Abreu explicou que a empresa tem em seu pipeline pesquisas para cinco outros tratamentos, como ansiedade e insônia.

A empresa já investiu US$ 6 milhões no negócio - tem uma importadora e um laboratório de centro de qualidade em Valinhos, interior de São Paulo. A importação da planta vem de países, como Colômbia e Uruguai. "O que nos frustra é não poder plantar para fazer pesquisas no Brasil", disse Abreu.

Já Van der Loo não descarta fazer plantio no País, mesmo que tenha de entrar na Justiça para isso. O empresário é sócio no Uruguai, com um pool de outros investidores, de uma empresa que faz cultivo da cannabis para fins medicinais. A NatuScience, empresa fundada por Van der Loo, também vai entrar com pedido na Anvisa para fazer ensaios clínicos para novos tratamentos no Brasil.

Segundo o empresário, é preciso quebrar o preconceito que se tem em torno desse negócio. Van der Loo vai sair agora em busca de investidores para colocar sua empresa em pé. Até o momento, colocou dinheiro do próprio bolso para viabilizar a NatuScience.

Investidores

 

Criado em 2018 pelos executivos brasileiros Martim Mattos, vindo da Hypera (ex-Hypermarcas), Marcelo Marco Antonio, da família fundadora do Hospital São Luiz, e Fabio Furtado, herdeiro do grupo Grid (autopeças), o fundo Greenfield já levantou R$ 140 milhões para investir na cadeia de cannabis medicinal pelo mundo. Esses recursos estão alocados no Canadá, país com um marco regulatório aberto à cannabis. Metade desse valor já foi investido em 13 empresas que atuam em plantio, extração, melhoria genética da erva, distribuição e desenvolvimento de medicamentos.

Uma dessas empresas do fundo Greenfield é Greencare, única do fundo instalada no Brasil e que faz a importação e distribuição de medicamentos e tem um trabalho intenso junto à classe médica para difundir o tratamento. "São somente 1.200 médicos prescrevendo este tipo de medicamento no Brasil de um total de 450 mil. Há um trabalho muito grande a ser feito", diz Martim Mattos, presidente da GreenCare.

Ainda incipiente no Brasil, o mercado de cannabis medicinal tem capacidade de movimentar nos próximos cinco anos entre R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões por ano, estima Caio Abreu, da Entourage. Atualmente, esse setor movimenta quase US$ 20 milhões (R$ 85 milhões) por ano. Os cálculos de Abreu são com base na importação de medicamentos feitos por 8 mil pacientes brasileiros.

Esse novo mercado que se abre também começa a ser organizar para ganhar legitimidade. Nos próximos dias, uma parte das empresas que atua no setor vai anunciar Associação Brasileira Indústria de Cannabis para ganhar também voz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um projeto de lei que abre o sistema bancário dos Estados Unidos para vendedores de produtos legais a base de maconha foi aprovado nesta quarta-feira (25) por uma grande maioria na câmara baixa do Congresso americano.

Aprovado 321 votos, com 103 contra, o texto procura proteger empresas e profissionais que trabalham com cannabis de possíveis processos judiciais ou fiscais em nível federal. Agora, a medida será apreciada pelo Senado.

Dos 50 estados americanos, 47 legalizaram o uso da cannabis em graus variados. No entanto, no nível federal a maconha ainda é considerada uma droga perigosa, como o LSD, cocaína e heroína.

Aqueles que apoiam o projeto afirmam que ele protegerá os produtores e vendedores de cannabis e produtos derivados de ataques violentos (como assaltos) que, por não terem acesso ao sistema bancário, realizam todas as suas operações e pagam aos funcionários em dinheiro.

A indústria da cannabis está em plena expansão nos Estados Unidos, gera bilhões de dólares em lucros e emprega mais de 200 mil pessoas, de acordo com a NORML, o principal lobby pró-legalização.

A discussão em torno da liberação da Cannabis medicinal nunca esteve tão em alta como nos últimos meses. A nova regulamentação da ANIVSA que deve aumentar o acesso de pacientes a medicamentos com base na planta é visto como um avanço para especialistas, médicos e, principalmente, pacientes.

Atualmente, já é possível que um paciente doente acesse o remédio a partir de um pedido que deve ser feito junto à ANVISA e que deve reunir pelo menos quatro formulários, como, por exemplo, o termo de responsabilidade, formulário de solicitação, laudo médico e a receita. 

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No entanto, ainda que os pedidos junto à agência reguladora tenham aumentado significativamente em 2019, o número de médicos que prescrevem medicamentos à base de Cannabis medicinal ainda é tímido. Cerca de mil médicos, em um universo de 400 mil profissionais da saúde no Brasil, receitam medicamentos à base Cannabis medicinal no país, segundo um levantamento realizado pelo conselho médico da OnixCann, healthtech brasileira, que recentemente lançou uma plataforma que deve ampliar o conhecimento da classe médica sobre o uso da Cannabis medicinal no Brasil e no mundo.  

Chamada de CanTera, a plataforma se baseia em um banco de dados global com estudos científicos, referências bibliográficas e protocolos médicos que auxiliam o médico na escolha do melhor tratamento a ser prescrito ao paciente.

Todo o levantamento de dados inseridos na plataforma é validado e acompanhado por um conselho médico da OnixCann, formado por especialistas, nas mais diversas áreas de atuação, como Oncologia, Neurologia, Hematologia, Geriatria, Gastroenterologia, entre outros. “A plataforma possibilita o acesso da classe médica a protocolos médicos com indicações terapêuticas à base de Cannabis medicinal, contribuindo para que cada vez mais brasileiros sejam beneficiados por este tipo de terapia, assim como já acontece com outros pacientes ao redor do mundo”, afirma Marcelo Galvão, CEO da OnixCann.  

Além disso, a plataforma, que é disponibilizada ao médico gratuitamente, indicará qual a melhor posologia para o tratamento e qual empresa farmacêutica no mundo tem disponível o medicamento com a dosagem necessária. “Investimos U$S 2 mi nessa ferramenta que tem no Big Data o seu maior diferencial. Em questão de minutos o médico consegue, após o seu diagnóstico técnico, apresentar ao paciente o melhor tratamento possível para seu trauma”, destaca Marcelo Galvão.

“Nosso objetivo é entregar aos médicos o que há de mais atual no mundo em relação a estudos sobre o uso de Cannabis medicinal e estimular que cada vez mais profissionais prescrevam medicamentos à base de Cannabis medicinal, devolvendo bem-estar e qualidade de vida aos pacientes”, finaliza.

Outra inovação oferecida por CanTera ao médico é possibilidade de elaborar, em poucos minutos, todos os formulários necessários para que o paciente possa fazer o pedido de liberação junto à Anvisa. 

A plataforma foi lançada em junho deste ano e já está disponível para uso. Para solicitar o acesso, é necessário que o médico acesse o site www.canteramed.com, faça o cadastro e aguarde a liberação pelo conselho médico da empresa. 

Da assessoria

O ator Vitor Morosini, conhecido por atuar na novela Belíssima, de 2005, e participar do seriado Sandy & Junior, esteve no programa Superpop na noite da última segunda-feira, dia 22, e em entrevista à Luciana Gimenez relembrou episódio de agosto de 2018, quando caiu do quinto andar de um hotel em Barretos, no interior de São Paulo. Para a apresentadora, ele confirmou a tentativa de suicídio depois de um surto psicótico:

"Tentei no desespero. Tive um surto psicótico devido ao uso excessivo de maconha. Eu fiquei um ano e oito meses fumando direto, cinco baseados por dia. Mesmo fumando eu fazia as coisas, gostava do efeito, de ficar doidão mesmo. Fumava para pedalar, jogar bola, ver televisão... Teve um dia que surtei. Eu achava que eu podia controlar", contou ele.

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Vitor afirmou que não sofre de depressão, mas por causa do surto acabou tentando tirar a própria vida:

"Eu achava que estavam me perseguindo. Surtei mesmo. Não era depressão, eu estava em euforia. Dormia quatro horas por noite. Acordei umas três da manhã, fui tomar banho, achei que tinha gente atrás de mim. Mandei mensagem para minha mãe 'dizendo que eu precisava de ajudar, ser internado, ela não respondia, estava sem bateria. Aí ela não respondia mais. Ai eu decidi pular, era alto para caramba".

Vitor, que já está recuperado, lembrou os ferimentos que sofreu por causa da queda:

"Quando caí tinham fios elétricos embaixo, sorte que estavam desativados, que amorteceram a queda, mas me quebrei inteiro. Quebrei os dois pés, dedo do pé, coxa, fêmur, ombro, costela e vértebra. Fiquei quase duas semanas na UTI, fiz cinco cirurgias. Outra sorte que eu tive é que não bati a cabeça. Quando caí no chão, eu me dei conta do que eu tinha feito. Eu estava em choque e só sentia minha perna torta, como se fosse um graveto. Fiquei quatro meses na cadeira de rodas".

Passado o momento difícil, Vitor, aos 30 anos de idade, celebrou que conseguiu se recuperar, disse que está feliz e que segue tratamento com psiquiatra:

"Muito feliz de estar vivo, todo dia eu agradeço a Deus por estar vivo. Desde os 15 eu usava (maconha), agora não uso mais. Estou indo no psiquiatra. Eu sou feliz, voltei a pedalar, sempre fui esportista".

No que depender da vontade do governo, as famílias que defendem a regulamentação da maconha para uso medicinal não terão autorização para cultivar a Cannabis, planta que dá origem às substâncias utilizadas como medicamentos. Em audiência pública nesta terça-feira (9) na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), o ministro da Cidadania, Osmar Terra, reforçou a política proibicionista e afirmou que a liberação do plantio vai “abrir as portas para o consumo generalizado de drogas”. Por outro lado, pais e mães de crianças que sofrem com uma série de doenças e condições como o autismo pedem que o Congresso autorize o cultivo da maconha.

A audiência foi convocada para debater uma sugestão popular que propõe a regulamentação da maconha medicinal no Brasil (SUG nº 6/2016). Hoje, plantar Cannabis é proibido e o uso de derivados da maconha, independentemente da finalidade, é dificultado pela legislação. Porém, algumas associações e familiares de pacientes conseguiram autorizações na Justiça para a produção do extrato de canabidiol.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já permite o registro de medicamentos feitos com substâncias como canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC), mas só um produto importado conseguiu essa autorização até o momento. A maioria dos pacientes que recebe prescrição médica de tratamentos com derivados da Cannabis tem que pedir uma liberação da Anvisa para importar o produto. O problema, porém, é o custo. Um tratamento por três meses chega a R$ 2 mil. Como saída, famílias apelam à Justiça — ou caem no mercado ilegal.

Ministro contrário

Contra a liberação, o ministro afirmou que a maconha é a porta de entrada para outras drogas e que 25% da população é muito vulnerável à dependência química. Osmar Terra afirmou que a regulamentação da maconha aumentou a violência e o número de acidentes no trânsito em vários países.

“Eu sei que aqui tem mães carinhosas preocupadas, que vão até o fim do mundo para salvar seus filhos e para aliviar o sofrimento dos seus filhos. Elas têm que ter um apoio necessário. Agora, eu poderia fazer uma reunião aqui com as mães que perderam os filhos para a droga, que são muito mais numerosas”, disse o ministro.

Osmar Terra apontou que cresceu o consumo de drogas por jovens em países que liberaram a maconha medicinal.

“Se abrir as portas do plantio, vai ter consumo generalizado. Se se não controla com a proibição, imagina controlar no detalhe? É o começo da legalização da maconha no Brasil”, afirmou.

Benefícios do THC

Na contramão, Rafael Evangelista, do Instituto de Pesquisas Científicas das Plantas (Aliança Verde), apresentou dados que contrariam o discurso do ministro. Segundo ele, não há evidências sobre o aumento do consumo de maconha em países que regulamentaram a Cannabis medicinal. Ele afirmou que o THC e vários componentes da maconha teriam benefícios medicinais, não apenas o canabidionol. Para Evangelista, a regulamentação tampouco abriria a porta para outras drogas.

“O contato com o mercado ilegal é que é a porta de entrada para drogas mais pesadas”, afirmou.

Ele e outros participantes da audiência defendem a aprovação do PLS 514/2017, que permite o cultivo e o preparo da Cannabis para uso medicinal. O texto, já aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), aguarda votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

Uso terapêutico

O uso terapêutico de componentes dessas plantas segundo pais e mães de pacientes reduziu sintomas de doenças como convulsões, epilepsia e dores. O canabidiol é usado para o tratamento de outras doenças como a esclerose múltipla, Alzheimer, Parkinson, dores crônicas, entre outras.

Segundo Cidinha Carvalho, mãe de Clárian, de 16 anos, a qualidade de vida da família melhorou substancialmente depois que a menina começou a usar substâncias extraídas da maconha. Diagnosticada com síndrome de Dravet, Clárian tinha convulsões desde antes do primeiro ano de vida. Os ataques epilépticos aconteciam muitas vezes ao dia e duravam mais de uma hora e meia, fazendo com que ela tivesse paradas respiratórias. Desde 2014, quando a jovem começou a usar um óleo de canabidiol, as crises passaram a ser menos frequentes: uma ou duas crises por mês com duração de menos de um minuto. Para Cidinha, pais e mães não põem ser criminalizados por cuidar de seus filhos.

“A dor não pode esperar. Se eu tivesse esperado por uma regulamentação para poder cultivar para a minha filha, para poder dar um óleo para a minha filha, não sei se eu teria minha filha aqui hoje porque a síndrome dela tem risco de morte súbita. Se fosse seu filho você esperaria pela regulamentação?”, perguntou Cidinha, que é presidente da Cultive (Associação de Cannabis e Saúde), à comissão.

Consulta pública

Famílias que viram seus filhos melhorarem com o uso de substâncias derivadas da maconha também criticaram uma consulta pública da Anvisa sobre a proposta para liberação do cultivo e da produção da planta no país. A nova regra, segundo eles, prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas, o que proibirá as associações e familiares de pacientes que conseguiram autorizações na Justiça de manipularem a planta. Para eles, a proposta da Anvisa deveria ser mais abrangente.

Norberto Fischer, que conseguiu autorização para importar Cannabis para a sua filha, Anny, lamentou que o ministro Osmar Terra tenha se posicionado publicamente nas redes sociais contra a consulta da Anvisa como um todo. Ele fez um apelo pela regulamentação e contou que antes do tratamento, sua filha tinha em média 60 convulsões semanais e ao menos duas vezes por mês ia parar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais.

“Eu acho que existe uma grande confusão também sobre os papéis e competências da Anvisa. A Anvisa tem competência de regulamentar o registro de produtos e o processo para poder fazer a venda de produtos. O autocultivo não é papel da Anvisa”, disse Fischer, que cobrou que o Congresso avance em uma regulamentação.

Pesquisas

Ao longo do debate, participantes apresentaram dados e pesquisas que confirmam ou colocam em xeque os benefícios medicinais da maconha. O médico Quirino Cordeiro Júnior, que é secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, foi taxativo ao apontar que não há evidências científicas que referendem a liberação da Cannabis.

“Não há evidências científicas que comprovem que os canabinoides são seguros e eficazes no tratamento da epilepsia”, assinalou.

Mesma posição tem o representante da Associação Psiquiátrica da América Latina, Antônio Geraldo da Silva. Para ele o termo “maconha medicinal” é um risco pela “diminuição da percepção de risco da droga”.

“A maconha tem cerca de 500 substâncias dentro dela. Dessas 500 substâncias, existe o canabidiol. É perigoso liberar 500 substâncias para tentar atingir uma sem saber a dosagem, sem saber o efeito, sem saber se vai fazer bem”, disse.

Já a médica Carolina Nocetti, da Academia Internacional de Cannabis, afirmou que existe muita ignorância em relação ao tema. Ela ressaltou que desde os anos 1980 um grupo de pesquisa liderado pelo especialista em psicofarmacologia Elisaldo Carlini já comprovou os efeitos positivos da Cannabis no combate a doenças.

“As maiores provas não são a Anvisa nem o professor Carlini, mas as centenas de pacientes que chegam no meu consultório, de mães que me ligam e falam que agora conseguiram dormir quatro horas por noite ou da filha que o pai [com Doença de Alzheimer] lembrou o nome”, argumentou.

Senadores

A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) destacou que muitos países já regulamentaram o uso do canabidiol, mas a burocracia brasileira leva muitas famílias a importar o produto de forma ilegal. Ela relatou sua experiência com canadibiol, que de acordo com a senadora tem ajudado em dores musculares e no controle do corpo.

“Eu sou uma cidadã usuária que sabe o quanto é transformador na vida de outras pessoas. A gente não pode fechar essa porta”, defendeu.

Para o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), é preciso ouvir todos os lados do debate. Ele teme que interesses comerciais contaminem a discussão.

O senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) considera que é preciso buscar uma proposta equilibrada para evitar que a liberação do cultivo abra caminho para desvios de plantas para outras finalidades.

A senadora Zenaide Maia (Pros-RN), por sua vez, avalia que o Estado brasileiro não pode abrir mão de regulamentar o uso medicinal e garantir o acesso à população:

“Saúde é um direito e uma obrigação do Estado. Não deveria ser responsabilidade de uma mãe de uma criança pesquisar e plantar no seu quintal quando a responsabilidade é do Estado”, apontou.

*Da Agência Senado

 

Após uma campanha para arrecadar fundos financeiros, a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace Esperança) se tornou a primeira a possuir uma "cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC)". O equipamento permitirá maior precisão na produção, análises e pesquisas de produtos feitos com THC e CBD.

O HPLC é um analisador de canabinoides e foi vendido pela Analítica por um preço bem abaixo de mercado, aproveitando uma promoção da empresa. A máquina custou R$ 125 mil, um investimento que torna a produção da Abrace completamente profissional.

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“Esse equipamento é importante porque vamos poder constatar de forma precisa a quantidade de canabinoides existentes na planta. Os pacientes poderão ter mais segurança na hora de fazer o pedido de seu medicamento, pois saberá com certeza a concentração dos canabinoides presentes nos produtos”, explicou a integradora científica do departamento de convênios e pesquisas da Associação, Endy Lacet.

Além de funcionar na produção, o HPLC vai ajudar de forma direta nas pesquisas realizadas pela Abrace em busca de novas funções da cannabis em outras patologias ainda não atendidas.

“Como podemos fazer uma pesquisa sobre a eficácia de determinada dosagem sobre uma patologia se não sabemos exatamente a concentração de canabinoide que existe nela? agora não teremos mais esse problema, com esse equipamento poderemos melhorar a produção, a orientação aos pacientes e até mesmo, outras associações”, falou Endy Lacet.

A máquina já foi entregue à sede da Abrace, em João Pessoa, e deverá ser instalada no início do mês de julho pela equipe técnica da empresa. Logo em seguida, já poderá começar a ser usada.

O pagamento será feito em dez parcelas de R$ 8.750, mais uma entrada no valor de R$ 37.500. A empresa que comercializa a máquina entregou o HPLC por um valor muito abaixo do mercado, com cerca de 50% de desconto.

A aquisição aconteceu graças também a doações realizadas através do site oficial da Associação e com depósitos diretos na conta bancária. Contudo, a Abrace continua precisando de ajuda para quitar todo o pagamento.

“Vamos conseguir cumprir com o pagamento que é a parte mais critica, temos 90 dias para da a entrada, mas o que esta entrando é muito pouco, temos que focar para poder arrecadar ao menos para ajudar na entrada”, afirmou a  assistente financeira da Abrace, Heidi Martins.

A Associação vem convivendo com problemas exteriores que estão influenciando no giro monetário, por isso a necessidade de mais apoio à causa. “A questão da apreensão das sementes, que atrapalhou na plantação, fez com que parássemos os novos cadastros, com isso, a arrecadação caiu, estamos respirando no limite”, detalhou Heidi Martins.

As doações podem ser feitas através do site ou diretamente na conta corrente 33630-0, agência 3204-2, no Banco do Brasil. É possível doar qualquer valor.

Ter o HPLC é um sonho da Abrace que está sendo realizado. Os últimos três anos em que a Associação vem trabalhando produzindo o óleo e a pomada de cannabis foram marcados por críticas, segundo contou o diretor executivo, Cassiano Teixeira, e que chegou ao fim esta semana.

“A alegria é de realizar um sonho. A gente vem sendo cobrado desde 2016, que o óleo da gente não tem o que a gente diz que tem, que está no rótulo e isso vem sendo motivo de difamações. Foi uma luta para conseguir, ninguém vai poder falar mal, a gente tem agora como provar o que tem dentro do óleo. É o tipo de alegria que traz uma calma”, declarou Cassiano Teixeira.

A Abrace Esperança é autorizada pela Justiça, através de uma liminar, a cultivar, colher, produzir e entregar a maconha para fins medicinais desde 2015. Com isso, é possível auxiliar o tratamento em diversas condições, como autistas por exemplo, com resultados comprovados clinicamente e através de exames laboratoriais.

Por Wênia Bandeira, da assessoria da Abrace

A vida de Luclecia da Cunha Cabral, mãe de Heitor, de quatro anos, mudou completamente depois que ela conheceu o óleo da maconha como uma forma de medicação para tratar o autismo do pequeno. Mais do que a vida de Luclecia, a vida de Heitor se transformou em escalas ainda maiores. 

"Heitor é autista. Ele era agressivo, não dormia à noite. Era uma situação muito difícil. Ele chorava todos os dias, não rendia na escola. Agora tudo mudou, ele passou a ficar mais esperto, ele é carinhoso, dá beijo, interage bem", falou, com alegria, Luclecia. 

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Presente com seu filho na marca da maconha do Recife na tarde deste sábado (18), Luclecia explicou que foi direcionada à possibilidade de tratar Heitor com o óleo da maconha pela Associação Cannabis, que fica em Paulista. "É difícil porque são poucos médicos que acreditam, mas consegui uma consulta, pegamos receita. Foi tudo legalizado, tudo certinho e meu filho ja faz uso há oito meses do óleo", contou. 

Heitor toma gotas do óleo de maconha três vezes por dia. Luclecia conta que já tentou tratar o filho com medicamentos da indústria farmacêutica, mas foi no óleo da maconha onde ela encontrou sua mudança de vida. 

"Ele usava medicamento comum que melhorou sua vida por quatro meses, mas depois voltou pior do que era. Aí que eu decidi que queria uma coisa natural para o meu filho. Porque, por exemplo, se eu der duas doses desse remédio alopático para o meu filho, ele entra em coma. Mas se, sem querer, eu der duas vezes o óleo da maconha, ele vai apenas dormir", finalizou Luclecia.

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O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que seja rejeitada uma denúncia contra uma mulher que importou da Holanda 26 sementes de Cannabis sativa, a planta da maconha. A decisão foi publicada na noite dessa segunda (13).

Mello reforçou o entendimento de outros ministros do STF de que a importação de pequenas quantidades da semente de maconha não poder ser considerada crime, pois elas não contêm nenhum princípio ativo que, por meio de manipulação, possa resultar em uma droga ilegal.

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A primeira instância da Justiça Federal de São Paulo já havia rejeitado a denúncia, mas após recurso do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) havia decidido prosseguir com a ação penal, decisão que foi mantida no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Assim como o TRF3, a Quinta Turma do STJ havia entendido que a conduta da ré se enquadraria no artigo 33 da Lei sobre Drogas (11.343/2006), segundo o qual é crime importar “matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas”. A pena pode chegar a 15 anos de reclusão.

Celso de Mello, porém, restaurou a decisão do juiz de primeiro grau. O ministro destacou que a semente de Cannabis não possui a substância tetrahidrocanabinol (THC), princípio ativo da planta da maconha usado como droga ilícita, o que impede que sua importação seja enquadrada no tipo penal.

O ministro escreveu que a “mera importação e/ou a simples posse da semente de cannabis sativa L. não se qualificam como fatores revestidos de tipicidade penal, essencialmente porque, não contendo as sementes o princípio ativo do tetrahidrocanabinol (THC), não se revelam aptas a produzir dependência física e/ou psíquica, o que as torna inócuas, não constituindo, por isso mesmo, elementos caracterizadores de matéria-prima para a produção de drogas”.

Ele citou decisões monocráticas (individuais) similares por parte de outros ministros do Supremo para afirmar que “não se justifica a instauração de persecução criminal nos casos em que o litígio penal envolve importação, em reduzida quantidade, de sementes de maconha, especialmente porque tais sementes não contêm o princípio ativo inerente à substância canábica”.

Depois da cannabis, garoto passou a sorrir e interagir. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

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“Desista, mãe, ele vai morrer”. João Pedro Silva, então com seis anos de idade, já completava oito horas de convulsões, sem conseguir deglutir. Considerado cego, surdo e mudo pelos médicos, foi dado como um caso sem jeito por alguns profissionais, devidamente desobedecidos por Elaine Cristina da Silva, mãe do garoto. João Pedro sofre de Hemimegalencefalia associada à eplepsia refratária, doença neurológica caracterizada pela constância de convulsões de difícil controle, que causam atraso no desenvolvimento psicomotor. “A primeira crise dele foi aos 10 meses de vida, teve um agravamento quando não consegui encontrar o Sabril (um dos medicamentos que era consumido pela criança) nem em estoques particulares nem nos do estado. Ele convulsionou o mês inteiro e perdeu o movimento de um dos braços”, lembra Elaine. O incidente foi o estopim da inviabilidade da rotina de remédios com efeitos colaterais danosos. Foi quando Elaine deixou o preconceito de lado e começou uma verdadeira cruzada para viabilizar o tratamento com pasta de maconha para o filho. Com o medicamento natural, o garoto diminuiu uma média de 24 convulsões por dia, para cerca de três por semana.

“Se você for ler a bula do Sabril chora, porque a cegueira está entre os efeitos colaterais. Ele ainda tomava o Rivotril e o Depakene, responsável por uma anemia sem fim, que fazia ele precisar tomar vitamina C e Combiron. Acho que a grande quantidade de remédios fez ele ganhar um problema no fígado”, lamenta a mãe. Convivendo com o filho quase que permanentemente dopado e sonolento e sem médicos que apresentassem alternativas aos agressivos remédios, Elaine foi à luta em busca de informações. “Pela internet, cheguei a uma rede de mães que faziam uso da cannabis. Uma delas, falou de mim para um médico do Instituto do Cérebro, no Rio de Janeiro. Ele respondeu nos convidando para ir lá”, conta.

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Desempregada, Elaine é mãe solo desde que se separou do pai do garoto, que só o vê nos finais de semana e contribui financeiramente com a pensão alimentícia, determinada por lei. Além dela, João Pedro e sua mãe contam apenas com o Benefício de Prestação Continuada (BPC), quantidade no valor de um salário mínimo cedida pelo estado para pessoas que precisam buscar em outros lugares tratamentos que não são oferecidos localmente. Devido à enfermidade do filho, que precisa passar o dia acamado, Elaine não poderia conciliar suas demandas à um emprego formal, podendo apenas conseguir alguma renda extra com bicos. “Para trabalhar fora, eu precisaria pagar uma cuidadora para João Pedro, o que não seria financeiramente possível. Só com medicamentos, gastamos metade do nosso dinheiro”, afirma.

Assim, ela precisou organizar uma “vaquinha” virtual em apenas uma semana, com o objetivo de arrecadar os valores das duas passagens para o Rio de Janeiro. Com muita perseverança, conseguiu, acomodou João Pedro em uma cadeira de rodas e voou rumo à esperança. “Fomos na cara e na coragem, ficamos na casa de pessoas que se sensibilizaram com a situação e nos ajudaram. Assim que cheguei lá, o médico olhou para a cabeça de João Pedro e deu o diagnóstico, os exames confirmaram depois. Se tivéssemos descoberto até os seis meses dele, teríamos feito a cirurgia antes e ele não teria sofrido com todas as consequências da doença”, coloca Elaine. Em um apenas um mês, João Pedro passou por três cirurgias.

Gilvanete conduz sessões de fisioterapia diariamente. Para João, elas serão necessárias por toda sua vida. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

Graças à ajuda de outras mulheres, Elaine já tratava Pedro com cannabis desde 2016. “Demorei a dar porque não encontrei informações sobre a dosagem para crianças, fiquei com medo. Mas uma amiga, mãe de uma criança com epilepsia, começou a pesquisar e mandar informações para mim e para outras”, comenta Elaine. Posteriormente, a dosagem ideal se mostrou ser a de apenas duas gotas por três vezes ao dia, de uma substância artesanal e regularizada, trazida do sul do país. “Existem pessoas que respondem devagar à cannabis, mas com João Pedro foi muito rápido. Antes ele vivia no mundinho dele, não interagia. O menino passou a olhar no meu olho, tive certeza que ele enxergava e ouvia”, comemora.

Além da cannabis e da cirurgia, a fisioterapia explica o atual bem-estar do garoto em comparação ao período que compreendeu seu primeiros anos de vida. A fisioterapeuta Gilvanete Fontes, conta que o acompanha desde que ele era um bebê. “Eu vejo o paciente como um todo, a gente tem que ter um olhar humanizado, foi muito difícil trabalhar com João, que foi um bebê muito debilitado. Hoje, nosso maior objetivo é dar qualidade de vida para ele, fazer com que ele possa ficar sentado, coisa que já vem conseguindo, para melhorar seu processo de alimentação”, coloca a profissional. Com sessões diárias de cerca de 40 minutos, a fisioterapia o acompanhará durante toda a sua vida. Pacientemente, a fisioterapeuta estimula o movimento de pernas, braços e dedos. A boa quantidade de alongamentos impede que os membros sofram deformações. “Depois da cirurgia, os médicos não descartam a possibilidade de um dia ele voltar a andar e nós temos fé. A gente aplaude cada evolução de João, hoje ele tem uma qualidade de vida que não tinha”, frisa Gilvanete.

Elaine exibe dosagem do João: apenas duas gotas, três vezes ao dia, fazem toda a diferença. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

Redes costuradas no afeto

Para Ingrid Farias, integrante da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (RENFA), houve uma mudança de perspectiva da opinião pública sobre a legalização da maconha e ela se deve à demanda do uso medicinal. “Existe uma rede que foi criada em torno do direito ao acesso do uso medicinal da maconha, mobilizada pelas mulheres periféricas. Elas pautaram o acesso ao óleo numa perspectiva de seus recortes de classe”, explica. De acordo com a ativista, é impossível para mães, geralmente desempregadas, arcar com valores próximos a R$ 3 mil para adquirir óleo, importado de outros países, equivalente a um mês de tratamento. “Essas mulheres começaram a criar redes, onde os óleos e os conhecimentos são compartilhados. São mulheres que deixaram de usar remédios que trazem sequelas muito graves para acrescentar a maconha à rotina dos filhos”, conclui.

Atualmente, João Pedro faz uso de outros três remédios: o Trileptal, o Nitrazepan e o Topiramato, todos eles com uma dosagem a menos, graças à cannabis. “Agora eu ajudo outras mães como posso, compartilhando o que sei sobre a dosagem de João Pedro, mas cada caso é um caso. Eu já fui preconceituosa com a maconha, porque o desconhecido é algo assustador, mas quando a gente conhece vê que não é uma droga, mas um fitoterápico”, comenta Elaine. Comumente questionada por médicos sobre uma possível experiência na área de saúde, ela completa: “O conselho que dou a outras mães de crianças com epilepsia é que sejam mais cuidadosas, se informem, interroguem, perguntem, briguem e não aceitem qualquer coisa que médico fala. Eles não são deuses. Ser mãe é maravilhoso, principalmente mãe de João Pedro”, finaliza.

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