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A cubana Yoani Sánchez anunciou em seu microblog que o governo cubano negou pela 19ª vez a autorização para deixar o país. “Não há surpresas. Voltaram a me negar a permissão de saída. É a 19ª vez que violam meu direito de entrar e sair de meu país”, digitou Yoani no Twitter.

Yoani conseguiu obter o visto do Brasil para participar do lançamento do documentário “Conexão Cuba-Honduras” em Jequié, na Bahia, na qual seria entrevistada, mas não obteve a permissão de seu governo para sair de Havana. 

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Já na quinta-feira (2), a blogueira escreveu: “Dilma veio à Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados”. A crítica da ativista foi referente à Dilma Rousseff que esteve em Cuba durante esta semana e não fez menção dos abusos e violações de direitos humanos cometidos na ilha.

Mas a critíca da cubana a presidente Dilma não é um fato isolado e já mereceu do ministro Gilberto Carvalho declaração pública em defesa da presidente, publicada no LeiaJá.

O governo de Cuba rebateu as críticas dos Estados Unidos pela morte do dissidente Wilman Villar, que faleceu após uma greve de fome. Em comunicado, o Ministério de Relações Exteriores cubano afirmou que a morte do dissidente é lamentável, mas que se trata de um fato incomum em Cuba. O ministério diz ainda que a Casa Branca e o Departamento de Estado norte-americano mostram uma política permanente de agressão e intromissão nos assuntos internos de Cuba.

O governo cubano também acusa os Estados Unidos de hipocrisia, questionando o que o governo norte-americano fez para evitar a morte de um imigrante indiano que estava em greve de fome e faleceu em Illinois no último dia 3.

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Villar, de 31 anos, morreu na noite de quinta-feira, em virtude das complicações de uma pneumonia, após uma greve de fome de 50 dias. Ele estava hospitalizado desde o último dia 14 e estava em coma. Ontem, a Anistia Internacional afirmou que estava prestes a declarar Villar como "prisioneiro de consciência". Segundo o manual da entidade, um prisioneiro de consciência é uma pessoa detida ou de outro modo fisicamente restringida devido às suas crenças politicas, religiosas, entre outras, e que não tenha utilizado violência ou defendido a violência e o ódio.

A Anistia informou também que classificou outros três dissidentes cubanos como prisioneiros de consciência: Ivonne Malleza Galano e seu marido, Ignacio Martinez Montejo, que foram presos no dia 30 de novembro do ano passado, quando faziam uma manifestação pacífica contra o governo em Havana; e Isabel Haydee Alvarez, que estava passando pelo local na hora e protestou contra a prisão do casal.

A imprensa estatal cubana afirmou que Villar era um prisioneiro comum e negou que ele fosse verdadeiramente um dissidente, ou mesmo que estivesse em greve de fome. Até recentemente, ele era pouco conhecido mesmo entre outros dissidentes, que afirmam que ele começou a participar das ações contra o governo no ano passado. Ele foi preso em novembro durante um protesto na cidade de Santiago e as autoridades o teriam ameaçado de puni-lo por um caso anterior de violência doméstica se ele não parasse de causar problemas, segundo informou a Anistia Internacional. As informações são da Associated Press.

O protesto “Enem pro espaço”, organizado por estudantes pernambucanos, ocorreu na tarde desta quarta-feira (4), no Parque Treze de Maio, bairro de Santo Amaro, área central do Recife, e reuniu aproximadamente 100 pessoas entre universitários, concluintes do ensino médio, recém aprovados em universidades públicas e privadas e professores.

A ação não teve vínculo algum com organizações, e foi mobilizada através das redes sociais. Confira como foi a movimentação e as entrevistas com os organizadores do "Enem pro Espaço", Vitor Lacerda e Bárbara Dantas, e com o estudante João Pedro Pereira, 1° lugar geral da Universidade de Pernambuco (UPE) sobre o Exame Nacional do Ensino Médio.

Críticas contra o método de avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e suas fraudes. Foi o que ocorreu no protesto “Enem pro espaço”, organizado por estudantes pernambucanos, na tarde desta quarta-feira (4), no Parque Treze de Maio, bairro de Santo Amaro, área central do Recife. Aproximadamente 100 pessoas, entre universitários, concluintes do ensino médio, recém aprovados em universidades públicas e privadas e professores participaram do evento. A ação não teve vínculo algum com organizações, e foi mobilizada através das redes sociais.

“Estudantes de vários estados brasileiros se comunicaram através da internet. O objetivo foi realizar protestos hoje, simultaneamente, em diversas partes do país”, relata um dos organizadores do protesto no Estado, Vitor Lacerda. Segundo o organizador, a ideia não é extinguir o Enem, mas sim exigir um método mais eficaz de avaliação. “O método de avaliação tem que mudar. As provas são mal elaboradas, e a redação é corrigida às pressas. É impossível avaliar alguém assim. Também reivindicamos que a Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) volte a corrigir as redações”, pontuou Lacerda.

O organizador também aponta que o investimento feito na área de educação pelo governo federal é muito pouco. “Queremos que 10% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) seja destinado à educação. O Brasil só terá desenvolvimento se a educação melhorar”, falou. Ainda de acordo com ele, eram esperadas aproximadamente 400 pessoas no protesto, mas, muitas não compareceram. “Muita gente não cumpriu o que combinamos nas redes sociais. A sociedade não pode ficar parada enquanto acontecem tantos erros no nosso país”, criticou o protestante.

Mesmo já estudando numa instituição pública, Agsa da Silva também apoiou o protesto e disse que o ato é importante e justo. “Eu faço serviço social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas estou aqui ajudando os estudantes no protesto. Em relação ao Enem, acho que é uma boa forma de avaliação, mas o problema está nas escolas que possuem métodos de ensinos antigos. O governo prega igualdade, mas os direitos por uma boa educação são roubados”.

Luiz Eduardo Leimig, 21, tentou o curso de medicina este ano na Federal e não passou. Ele não é a favor do jeito como o Enem avalia os candidatos. “Eu não concordo com o método dos avaliadores. Também não entendo como a nota é calculada e a redação é uma loteria". O primeiro colocado geral do vestibular 2012 da Universidade de Pernambuco (UPE), João Pedro Cavalcanti Pereira, compareceu ao evento e também expôs críticas ao Enem: “Quero protestar contra a forma de aplicação do Enem, não pelo próprio exame em sim, mas pelos problemas que vêm acontecendo nos últimos três anos. A correção das provas, por exemplo, é um processo muito obscuro e os alunos não têm como calcular a própria nota, pois não é divulgada essa informação”.

Educadores - Em meio ao protesto, estava o professor de história, Elias Nascimento. Ele explica que muitos educadores não são contra o exame nacional, porém, a reclamação é contra a falta de transparência. “A maior parte dos professores não é contra o Enem. A gente protesta em relação a transparência de aplicação e avaliação. Não foi deixado claro a metodologia de avaliação. Queremos saber onde está o erro”, comentou Nascimento.

Segundo a organização do protesto, foram recolhidas assinaturas para serem enviadas ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Até agora, não há previsão de novos proitestos pela organização do "Enem pro espaço".

A missão de monitoramento da Liga Árabe enviada à Síria é alvo de críticas de opositores e de outros governos por causa da escolha do chefe do grupo. Há informações de que forças de seguranças sírias abriram fogo nesta quinta-feira contra dezenas de milhares de manifestantes que estavam do lado de fora de uma mesquita num subúrbio de Damasco, perto de um prédio municipal que era visitado por membros da Liga Árabe, em missão de monitoramento. Segundo ativistas, pelo menos quatro pessoas foram mortas.

Rami Abdul-Rahman, líder do Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediado em Londres, disse que cerca de 20 mil pessoas protestaram do lado de fora da Grande Mesquita, no subúrbio de Douma, quando as tropas abriram fogo. Alguns monitores da Liga Árabe visitavam um prédio municipal perto da mesquita, disse ele.

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De acordo com o Observatório, 16 pessoas foram atingidas por disparos das forças de segurança e mortas até o momento nesta quinta-feira, a maioria em subúrbios de Damasco. Já os Comitês de Coordenação Locais, outro grupo ativista, disseram que 28 pessoas foram mortas. A diferença dos dados divulgados não pôde ser verificada porque a Síria proíbe jornalistas estrangeiros e restringe a atuação da mídia local.

Líderes opositores pediram que a Liga Árabe remova o líder sudanês da missão de monitoramento, pois ele foi a principal autoridade do "regime opressivo" do presidente Omar al-Bashir, que é alvo de um mandado de prisão internacional por genocídio em Darfur.

O presidente da missão, tenente-general Mohamed Ahmed Mustafa al-Dabi, é leal a al-Bashir e já serviu como chefe da inteligência militar sudanesa.

Segundo a Anistia Internacional, sob o comando de al-Dabi, a inteligência militar no início dos anos 1990 "foi responsável por prisões e detenções arbitrárias, desaparecimentos, tortura e outros maus-tratos de várias pessoas no Sudão".

O ministro de Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, exigiu "acesso sem obstáculos" para os observadores da Liga Árabe a todos os pontos da Síria. Isso inclui não apenas cidades como Homs, mas "também a possibilidade de falar livremente com representantes da oposição, da sociedade civil e com prisioneiros do regime", diz um comunicado do Ministério.

Westerwelle "espera uma ampla abordagem da missão de observação e uma imagem clara e sem rodeios da situação". As informações são da Associated Press.

Nas terças e quintas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos. São textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Nesta, Umberto Eco e os limites da interpretação nos textos literários:

“A leitura das obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e de respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica de nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira, nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugerirem. Não é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade de interpretação, pois propõem um discurso de muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem e da vida. Mas para poder seguir neste jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei de intenção do texto”.

“Há pessoas que negam que Jesus fosse filho de Deus, outras que põem em dúvida até mesmo a sua existência histórica, outras que sustentam que ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, outras mais consideram que o Messias ainda está por vir, e nós, de qualquer forma, tratamos tais opiniões com respeito. Mas ninguém tratará com respeito quem afirma que Hamlet desposou Ofélia ou que o Super-Homem não é Clark Kent”.

“Se há algo a ser interpretado, a interpretação deve falar de algo que deve ser encontrado em algum lugar, e de certa forma respeitado”.

Os dois primeiros trechos estão em Sobre a Literatura (Record, 2003), páginas 12 e 13. A terceira citação é do livro Interpretação e superinterpretação (Martins Fontes, 2005), páginas 50 e 51.

O vice-presidente da República, Michel Temer, rebateu hoje as críticas de que a presidente Dilma Rousseff fez uma faxina incompleta nos setores do governo envolvidos em denúncias de corrupção, irregularidades e mau uso do dinheiro público. "Você não pode fazer um governo com a vassoura na mão. As decisões foram tomadas e o governo segue adiante", disse Temer a jornalistas, após discursar durante um almoço promovido pelo Conselho das Américas e Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York.

Temer afirmou que mudança em ministérios "é algo mais do que natural". "Mas a administração não reduziu a atividade por causa dessas mudanças". Segundo o vice-presidente, não existe risco de uma crise institucional no País devido às denúncias envolvendo os ministérios. "Não há fatores que possam abalar a Presidência da República."

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O vice-presidente disse ainda que a relação do governo com o PMDB vai muito bem e afirmou estar confiante em relação ao desempenho do PMDB nas eleições municipais de 2012 justamente por causa do sucesso do apoio do PMDB ao governo.

Nas segundas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz crônicas, que não devem ser lidas por gente séria demais, sob hipótese alguma.

Todo sujeito que odeia os Estados Unidos é como aquele bêbado chato, que sempre termina a noite reclamando da mesma coisa, seja do chefe chato ou da ex-namorada, do irmão que é o preferido em casa ou da programação da Globo. Não tem novidade, os argumentos são os mesmos, noite após noite, grade depois de grade. Mas, nos fins de 2001, encontrei um bem original.

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Professor da UFPE naquele tempo (agora é aposentado), ele se sentou à mesa onde eu comia alguma besteira, apresentou-se com jeito de quem ensaiou a fala, disse que acompanhava o programa de TV que eu apresentava e sugeriu uma pauta. Diferente do que eu suspeitei no começo do papo, tinha nada com o atentado às Torres Gêmeas.

– Gibis! Ninguém se dá conta, mas os americanos vêm utilizando os gibis há tempos, são sua principal arma imperialista, porque nos pegam desarmados, desavisados, e fazem a cabeça das nossas crianças.

“Verdade”, eu respondi. Tenho esse péssimo cacoete, quando não estou interessado no papo, fico repetindo “verdade, verdade”. Ou seja, ao invés de uma fala que desestimule, eu incentivo ainda mais o cidadão. Esse foi o caso do paranóico professor, ele anoiteceu naquela teoria da conspiração, sem que eu pudesse fugir, porque esperava uma estagiária da TV ali, para lhe dar carona, e ela sequer tinha celular (é, faz tempo).

– Nossos pequenos brincam de mocinho e bandido americanos, não se interessam pela cultura de outros países, não assistem às aulas!

– Verdade.

–Mesmo quando o personagem é estudante, como o Peter Parker, termina cabulando aula. Como se prender um batedor de carteira fosse mais importante do que ter conhecimento. Ora, aquele ladrãozinho nem existiria, nem precisaria ser vencido pelo Homem-Aranha, se tivesse estudado.

– Verdade.

– Você já viu herói de gibi americano lendo um livro? Depois ainda querem dizer que esse tipo de revista é uma boa entrada no mundo da leitura. É como pensar que comprar álbum de figurinha da Copa do Mundo sirva para o menino sonhar em ser presidente de clube de futebol.

“Heim?”, pensei, começando realmente a me assustar. Porém, após estudar o que dizer, soltei:

– Verdade.

– É como imaginar que jogo de quebra-cabeças é convite à filosofia!

– Verdade (“Meu Deus!”).

– Que brincar de Lego instigue o moleque a ser arquiteto quando crescer!

– Verda... Ei, professor! E se eu disser que brincava de Lego e achava sim que seria legal construir prédios?

– Certo. Mas construiu algum? Ou virou cartola de seu clube? Tornou-se filósofo? Ou um grande leitor? – epa!

– Por que o senhor acha que não sou um grande leitor? Jornalistas, até os apresentadores de TV, também leem, professor.

– Cristiano... É verdade.

– E também fui leitor de gibis, muito, mas não me transformei em um bitolado.

– Verdade.

Lembrei daquele senhor antiamericano por dois motivos: os dez anos do atentado de 11 de setembro tomando conta da mídia durante a semana inteira, e um aluno meu, que estava reclamando porque já era domingo. “Veja o lado bom, amanhã teremos aula”, brinquei. E ele respondeu: “É verdade”.

Sempre gostei de ler crônicas por isso, mesmo assuntos banais, lembranças corriqueiras e aparentemente insignificantes como a paranóia daquela professor, podem dar um bom texto. Como este.

– Verdade.

Ler O planeta dos Macacos, do francês Pierre Boulle (1963). Sempre que tive oportunidade de comprá-lo, adiei. Jeito agora é baixar na internet ou adquirir o romance no original, em inglês ou espanhol (creio que as edições em nosso idioma estão fora de catálogo). Se é bem escrito, não sei, mas os temas que propõe – a intolerância, em especial – seguem atualíssimos. As críticas sempre deram conta de um texto atraente, distópico, mais ficção do que científico (as explicações desenvolvidas são bem superficiais). Quem sabe se, com o novo filme, as editoras não preparam lançamento? Já que deve pintar de tudo, de chaveiros a suportes para bolsas, custava recolocar o livro nas prateleiras?

Ver O planeta dos Macacos: a origem. O longa-metragem está em cartaz nos cinemas, com história que se passa antes de os macacos vencerem os humanos e dominarem o planeta Terra. Opiniões têm chegado entusiasmadas, elogios ao enredo e aos efeitos especiais, que parecem mesmo fantásticos. Além do que é o tipo de filme que faz realmente diferença ver na tela grande.

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Ir ao lançamento das Memórias de Gregório Bezerra (Boitempo Editorial, R$ 74,00, 648 páginas), autobiografia do líder camponês. Mais de três décadas após a primeira publicação, o livro retorna em noite disputada: está previsto um debate com as presenças do governador Eduardo Campos, do prefeito João da Costa, de Fernando Freire (presidente da Fundaj), Ivana Jinkings (editora) e Jurandir Bezerra (filho de Gregório). Essa é intenção mesmo, porque suspeito que o lugar estará abarrotado de gente.

Fechar o evento/programa de TV NotaPE, que, finalmente, tem data e hora para acontecer: terça-feira, 6 de setembro, no Teatro Arraial, na Rua da Aurora. Será um talk show, com participação da platéia (entrada franca). Confirmados José Paulo Cavalcante (em papo sobre Fernando Pessoa), Lucila Nogueira (que foi homenageada no A Letra e a Voz, além de estar com livro novo), Wilson Freire (escritor e cineasta que recentemente lançou A Mulher Que Queria Ser Micheliny Verunschk), além da dupla Wellington de Melo e Rogério Robalinho (produtores que trocarão ideias sobre a Bienal, a Freeporto e outros eventos literários). Espero todos por lá!

O romance de Contardo Calligaris, A mulher de vermelho e branco (Companhia das Letras, R$ 39,00, 208 págs.), é desses lançamentos que recebem expressiva atenção da mídia e dos eventos literários. Amanhã, por exemplo, ele estará na mesa que encerra o 9º Festival Recifense de Literatura. Como tem acontecido quase sempre, a intriga e as qualidades ou defeitos do livro não serão pauta principal. O fato de Contardo ser psicanalista provoca indagações sobre as fronteiras entre ficção e realidade, invenção e memória, loucura e sanidade etc. Basta uma rápida pesquisa para descobrir como o autor tem respondido exaustivamente questões em torno desses temas.

Assim como ocorre na coluna Redor da Prosa, onde as obras muitas vezes parecem meros ganchos, esses desvios não significam que os livros e a literatura sofram prejuízo. Pelo contrário, são reflexões que podem muito bem estimular a leitura, suscitar outras discussões, além do que seria possível apenas com críticas que beiram o relatório – cartas de navegação que têm sua importância, mas não precisam se transformar em rotas inescapáveis.

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Contardo retorna com Carlo Antonini, personagem psicanalista de seu primeiro romance, O conto de amor (2008). Agora, o narrador faz parte de um enredo que mistura trama policial, dramas familiares, especulações filosóficas e, entre tantos outros, existem ensinamentos. O protagonista, que obviamente possui laços estreitos com o próprio autor, não se omite, tenta ajudar sua paciente, ainda que desconfie sempre que sua sabedoria não é infalível, que suas tentativas de fazer o bem podem facilmente levar ao mal.

No final do romance, por exemplo, ao saber do destino trágico de um de seus personagens, o narrador assume que sua participação na trajetória do mesmo, através de um texto, de um relatório, pode ter sido determinante, de modos bem díspares. Ele não sabe dizer qual seu peso ou lado nessa balança.

O século XX assistiu a duas correntes, reverberadas e aparentemente antagônicas: de um lado, tudo em nosso redor acabou preenchido de narrativas, incontáveis, nossas próprias concepções de mundo sendo devedoras dessas narrativas; na outra margem, o narrador morreu ou, pelo menos, entrou em estado terminal. E muitos teóricos trabalharam sobre os dois alicerces, que não são incompatíveis, absolutamente.

Quando Walter Benjamin escreveu o clássico ensaio O narrador: considerações sobre a obra de Nicolai Leskov, em 1936, apontando algo em extinção, ele se referia aos indícios da morte de um tipo de narração específico, aquele onde são passadas experiências exemplares, ensinamentos. Ou seja, o conceito de narrador implicado está ligado a uma funcionalidade:

“Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma da vida – de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos. Mas, se ‘dar conselhos’ parece hoje antiquado, é porque as experiências estão deixando de ser comunicáveis”.

Em seu lugar, para Silviano Santiago (em Nas malhas da letra, 2000), surgiu um narrador que deseja “extrair a si da ação narrada, em atitude semelhante à de um repórter ou de um espectador. Ele narra a ação enquanto espetáculo a que assiste (literalmente ou não) da platéia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar ou na biblioteca; ele não narra enquanto atuante”.

Equívoco geralmente vem das sentenças, dos anúncios prematuros de morte. O narrador não morreu, tampouco o autor, a narrativa, o romance, os gêneros literários. Mas tudo mudou, está em movimento, e ainda lidará com outras infindáveis transformações. A literatura, como qualquer outro discurso, é um fenômeno lingüístico vivo, dinâmico, daí deriva sua universalidade e permanência.

Vários autores, em tantas línguas, têm levado aos leitores seus mortos que narram e ensinam, assim como seus velhos, gurus, monstros e outros muitos narradores que oferecem supostas sabedorias, com resultados não menos diversos (dentro e fora da narrativa). Suas vozes, no entanto, não passaram incólumes pelos debates literários e demandas sociais contemporâneas.

O Antonini de A mulher de vermelho e branco participa e tenta ajudar com seus aprendizados, porém, cônscio das incertezas que acompanham seu trabalho e da inconfiabilidade da narrativa que desenvolve. E seu tom não é professoral, pedagógico, suas sugestões são dadas de maneira que fica nítida sua falibilidade, a possibilidade de estar errado, de que suas palavras possam não conter alguma das solução. Como ele poderia ter certeza de algo, se trabalha com as memórias e impressões, se ele “entra na história do paciente”? Se, portanto, lida com ficções. Em entrevistas, Contardo Calligaris insiste que “a história que a gente se conta como se fosse nossa é, em geral, apenas a ficção na qual preferimos acreditar”.

Toda narrativa é uma refiguração da realidade que afirmamos observar e tomar como inspiração. E, mesmo se negamos algum real como ponto de partida, sempre construímos nossas histórias a partir das narrativas que nos rodeiam e/ou engendram. Somente através das narrativas nós conseguimos dar totalidade às coisas, compreender o mundo. Selecionamos, montamos, relacionamos causas e efeitos, fazemos as sínteses sem as quais nosso universo seria ininteligível. Decorre que o narrado é uma refiguração, realidade erigida sobre terrenos que também são devedores de outras referências, em infinito jogo de espelhos.

A força da narrativa de ficção – e muito especialmente no gênero romance – reside na sua maior autonomia. É permitido ao ficcionista todo um repertório e jogos temporais que são vetados ao discurso histórico, ao científico, ao filosófico etc. Como explica Ricoeur, “não que a narrativa histórica seja extremamente pobre a esse respeito. (...) Tudo se passa como se a ficção, criando mundos imaginários, abrisse à manifestação do tempo uma carreira ilimitada” (Tempo e Narrativa).

Entre uma mulher de vermelho e branco, crimes, afetos, previsões de mortes, narrativas, ficções e tantas outras calhas que giram o que entendemos por humano, há autores como Contardo Calligaris e narradores como Carlo Antonini, que não rejeitam oportunidades de refletir sobre as possibilidades e conseqüências das histórias que criamos ou, como leitores, fazemos seguir em eterno nascimento.

Redor da Prosa, porque esta coluna é reservada não só à ficção, mas também aos livros de filosofia, sociologia, política, história etc. Ou, lembrando frase do saudoso Luiz Carlos Monteiro (enviada por e-mail, pouco antes de seu encantamento), coluna dedicada aos “universos que se desdobram através da palavra escrita, plantando insônias ou revoluções”.

Redor da Prosa, também, porque depõe sobre a crítica que tentarei (entre tantas possíveis). Redor é o trabalhador das salinas, aquele que leva água salgada até os viveiros para que, sob o sol, seja coalhada até que reste o ouro branco de nossos alimentos. Assim como acontece com o redor, cabe ao crítico oferecer caminhos, suas opiniões estão a serviço das obras-águas. Estas, iluminadas pela atenção do leitor, tornam-se a especiaria que, bruta ou refinada, sempre muda o sabor de tudo que nos chega, ou, não menos importante, conserva-eterniza o que já temos como essencial. 

Mas, como sabemos impossível o exercício de crítica quase diária, também faremos da coluna Redor da Prosa um espaço para divulgar encontros, lançamentos, concursos, sites e blogs dedicados à leitura; enfim, veicular informações úteis aos leitores – esses navegantes que, apesar dos anúncios frequentes de morte dos livros ou da literatura, estão sempre à espera de maré que os convide aos oceanos infindáveis da palavra. 

Para fechar esta apresentação, recordo a abertura do primeiro livro que, há um bocado razoável de tempo, deixou-me a certeza de que um texto pode realmente nos tirar o sono ou revirar tudo em volta, o Moby Dick, de Melville:

Chamai-me Ismael. Faz alguns anos – não importa quantos, precisamente –, tendo na bolsa escasso ou nenhum dinheiro e nada que particularmente me interessasse em terra, achei que devia velejar um pouco e ver a parte aquosa do mundo.

Call me Ishmael. Some years ago—never mind how long precisely—having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world.     

Espero que Redor da Prosa funcione como modesto chamamento a essas águas que, para tantos, são o verdadeiro sal da terra!

*Dedicado a Luiz Carlos Monteiro, que faleceu em 25 de julho último, no município de Arcoverde.

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