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Detalhes sobre as circunstâncias da morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, o "capitão Adriano", devem ser revelados na próxima semana, com conclusão de laudos periciais solicitados pela defesa dele e pelo Ministério Público da Bahia.

Uma nova necropsia foi realizada antes do Carnaval por peritos da Bahia enviados ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio, onde o cadáver era conservado numa câmara refrigerada. Um dia depois, o corpo foi sepultado em cerimônia discreta num cemitério do Rio.

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O prazo de 15 dias para o laudo complementar ser oficialmente enviado à Justiça da Bahia vence na próxima semana. O exame ocorreu com ordem judicial, a pedido de promotores de Justiça que atuam em Esplanada (BA), zona rural em que "capitão Adriano" morreu fuzilado no dia 9 de fevereiro, após supostamente revidar com tiros uma operação para prendê-lo.

Além disso, peritos contratados pela família do ex-policial receberam 10 dias para apresentar um laudo de exame cadavérico particular. A defesa não quer usar todo o prazo, mas só pretende apresentar suas conclusões após analisar o novo laudo requisitado pelo MP baiano.

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, defensor de "capitão Adriano" na ação penal da Operação Os Intocáveis, contra a milícia da favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, também aguarda que a Secretaria de Segurança Pública da Bahia anexe a um procedimento de apuração da Polícia Civil as gravações de diálogos feitos por rádios transmissores usados pelos policiais a cargo da operação policial e um exame papiloscópico (coleta de impressões digitais) nas munições não deflagradas encontradas na pistola 9 mm cuja posse é atribuída a Adriano.

Ex-PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, ele é suspeito de chefiar a milícia Escritório do Crime, investigada pela execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), em 2018. O ex-policial militar teve a mãe e uma ex-mulher empregadas no gabinete de deputado estadual do atual senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho mais velho do presidente da República, Jair Bolsonaro. Elas aparecem na investigação sobre apropriação de salários de funcionários no antigo gabinete do senador.

O presidente já se referiu ao "capitão Adriano" como "herói". O clã Bolsonaro cobrou investigação independente do caso e lançou suspeitas de que ele tenha sido torturado e morto como "queima de arquivo".

Familiares do ex-PM e a então companheira, Julia Lotufo, ainda guardam discrição e memórias do ex-PM e não se pronunciaram sobre o caso. Dias antes da morte na Bahia, tanto capitão Adriano quanto Julia disseram que ele temia ser assassinado em vez de preso, de acordo com o advogado. "Com as repercussões sobre os arquivos que ele poderia revelar, a família fica um pouco receosa, mas não estão sob proteção", diz Catta Preta.

Após ordem judicial, o Facebook forneceu às autoridades brasileiras dados cadastrais e registros de acesso de 79 contas que podem ser usadas nas investigações do assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes. A informação consta de uma decisão da ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Vaz, ao analisar recurso da empresa contra decisão da Justiça que determinou quebra de sigilo de dados de 82 terminais telefônicos.

A quebra do sigilo foi feita dentro da apuração sobre o envolvimento de integrantes da organização criminosa conhecida como Escritório do Crime na execução de Marielle e Anderson. A Justiça fluminense determinou diligências que envolviam a entrega de dados privados de usuários do Facebook e Instagram, como o endereço do Protocolo de Internet (IP) empregado para logar as contas, e até o fornecimento das buscas que investigados realizaram nas duas plataformas. A investigação tramita sob sigilo.

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O caso Marielle ganhou um novo capítulo no último domingo, após a morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, conhecido como capitão Adriano e apontado como chefe do Escritório do Crime, milícia investigada por organizar esquemas de grilagem na zona norte do Rio e por ligação com o assassinato de Marielle.

Pedido

Além dos dados dos perfis (nome, e-mail, data de nascimento, números de telefones celulares associados à conta, endereço de IP), a Justiça do Rio pediu acesso a todas as buscas realizadas pelos usuários nas plataformas Facebook e Instagram a partir de 1 de janeiro de 2018, sob pena de multa diária (que pode variar de R$ 100 mil até R$ 3 milhões). O Facebook recorreu.

No STJ, o processo foi originalmente encaminhado para o ministro Reynaldo Soares Fonseca, que decidiu enviá-lo para a ministra Laurita Vaz, que já é relatora do processo que discute a federalização das investigações. A decisão sobre a federalização caberá à Terceira Seção do STJ, em data ainda a ser marcada. A expectativa de integrantes do tribunal é que o debate ocorra depois do carnaval, mas um ministro afirma que as circunstâncias da morte do capitão Adriano ainda precisam ser esclarecidas.

O colegiado é formado pelos ministros que integram as duas turmas especializadas em matérias criminais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A viúva da vereadora assassinada Marielle Franco, Mônica Benício, disse nesta terça-feira, 21, em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo e ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), que ficou "feliz" com a nova posição do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que passou a defender a continuidade das investigações do caso com as autoridades do Rio de Janeiro.

Um parecer enviado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, registra o novo posicionamento de Moro sobre o caso Marielle, pela manutenção das investigações do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e do motorista Anderson Gomes na esfera estadual.

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O ministro defende prestigiar o entendimento dos familiares de Marielle, que são contrários à transferência do caso.

"Fico feliz que o ministro tenha revisto sua posição, e que agora está de acordo com aquilo que nós, familiares, pedimos. Caso futuramente surjam evidências que apontem para a necessidade de federalizar, eu também não me incomodarei em mudar de posição, entendendo que a resolução desse caso é fundamental para a democracia brasileira", disse Mônica, em nota enviada à reportagem. "Defendemos, sobretudo, a segurança e a isenção na investigação e esperamos uma resposta para esse crime que completará dois anos sem que se saiba quem mandou matar Marielle. O sentimento de dor e injustiça permanece. Até quando?", questionou Mônica.

Bastidores

A decisão sobre a federalização do caso caberá à Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, que deve se debruçar sobre o tema ainda neste semestre. Ministros do STJ ouvidos reservadamente pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Broadcast avaliam que, hoje, a tendência do tribunal é não retirar das autoridades do Rio as investigações. Eles, contudo, alegam que a discussão é técnica e jurídica, minimizando o impacto do posicionamento da família sobre a controvérsia.

Em parecer sigiloso encaminhado ao STJ, a Advocacia-Geral da União destaca a posição do ministério de Moro. "Como bem ressaltado pelo Ministério da Justiça (...), os próprios familiares da ex-vereadora posicionaram-se desfavoravelmente à federalização das investigações e persecução penal, fator que, acreditamos, deve ser considerado e prestigiado pelo STJ", destaca a AGU.

"Ademais, não se pode perder de vista que eventual deslocamento de competência à revelia da vontade de familiares das vítimas pode sinalizar futuro questionamento da conduta da União, sob eventual alegação (ainda que infundada) de que pode repercutir negativamente sobre as atividades investigativas e punitivas do Estado do RJ, no caso", prossegue o parecer.

Em entrevista na noite da segunda-feira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Moro afirmou que as críticas de familiares de Marielle a uma possível federalização do caso o fizeram mudar de posição. "(Os familiares) Levantaram, de uma forma não muito justa, que a ideia de federalizar era para que o governo federal, de alguma forma, obstruísse as investigações, o que era falso. Foi o próprio governo federal, com a investigação na Polícia Federal, que possibilitou que a investigação tomasse o rumo correto", disse Moro. "O governo não tem nenhuma intenção de proteger os mandantes desse assassinato."

Questionado, durante o programa, se o presidente Jair Bolsonaro concordou com a mudança de opinião, Moro disse ter "comentado" com o presidente, mas não entrou em detalhes.

Assassinato

Marielle Franco foi assassinada a tiros no centro do Rio, em um caso que aguarda solução há quase dois anos. Na véspera de deixar o cargo, em setembro do ano passado, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a federalização das investigações, sob a alegação de que deixar o inquérito com a Polícia Civil do Rio podia gerar "desvios e simulações".

O processo ganhou novos contornos após Bolsonaro ter o nome associado ao caso, conforme depoimento de um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde moravam o próprio Bolsonaro e o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de participar do crime. O funcionário, no entanto, alegou depois que se enganou.

À época, Moro disse que a menção a Bolsonaro era um "disparate". "Vendo esse novo episódio, em que se busca politizar a investigação indevidamente, a minha avaliação é que o melhor caminho para que possamos ter uma investigação exitosa é a federalização", afirmou anteriormente, em entrevista à rádio CBN.

Bolsonaro já afirmou que "seria bom" federalizar o caso, mas observou que a medida daria um "indicativo de que querem me blindar com a Polícia Federal". Agora, a posição de Moro é outra.

Um parecer enviado nesta terça-feira, 20, pela Advocacia-Geral da União (AGU) à ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Laurita Vaz, registra o novo posicionamento do ministro Sérgio Moro sobre o caso Marielle Franco, pela manutenção das investigações do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e do motorista Anderson Gomes na esfera estadual. Como revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o ministro defende prestigiar o entendimento dos familiares de Marielle, que são contrários à transferência do caso.

A manifestação da pasta comandada por Moro subsidia o parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), que se manifestou contra retirar a apuração das mãos das autoridades do Rio.

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Marielle, vereadora do PSOL, foi assassinada a tiros no centro do Rio, em um caso que aguarda solução há quase dois anos. Na véspera de deixar o cargo, em setembro do ano passado, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu a federalização das investigações, sob a alegação de que deixar o inquérito com a Polícia Civil do Rio podia gerar "desvios e simulações". O Superior Tribunal de Justiça ainda não decidiu se aceita o pedido.

Em entrevista na noite desta segunda-feira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Moro afirmou que as críticas de familiares de Marielle a uma possível federalização do caso o fizeram mudar de posição.

"(Os familiares) Levantaram, de uma forma não muito justa, que a ideia de federalizar era para que o governo federal, de alguma forma, obstruísse as investigações, o que era falso. Foi o próprio governo federal, com a investigação na Polícia Federal, que possibilitou que a investigação tomasse o rumo correto", disse Moro. "O governo não tem nenhuma intenção de proteger os mandantes desse assassinato."

Questionado, durante o programa, se Bolsonaro concordou com a mudança de opinião, Moro disse ter "comentado" com o presidente, mas não entrou em detalhes.

"O presidente sempre apoiou, sempre entendeu que isso deveria ser investigado. Houve essa investigação da PF (sobre obstrução) e nunca houve qualquer interferência indevida por parte do presidente. Nunca houve qualquer afirmação não faça isso, não faça aquilo, sempre se trabalhou para que os fatos fossem, da melhor maneira, elucidados", afirmou. "O governo é o maior interessado em elucidar esse crime", concluiu o ministro.

Depoimento do porteiro

O processo ganhou novos contornos após o presidente Jair Bolsonaro ter o nome associado ao caso, conforme depoimento de um porteiro do condomínio onde moraram Bolsonaro e o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de participar do crime. O depoimento foi revelado em outubro pela TV Globo. O funcionário, no entanto, alegou depois que se enganou.

À época, Moro disse que a menção a Bolsonaro era um "disparate". "Vendo esse novo episódio, em que se busca politizar a investigação indevidamente, a minha avaliação é que o melhor caminho para que possamos ter uma investigação exitosa é a federalização", afirmou em entrevista à rádio CBN.

Em carta enviada ao STJ em novembro, a família de Marielle rebateu Moro e disse que o ministro "contribuirá muito mais se permanecer afastado das apurações".

Bolsonaro já afirmou que "seria bom" federalizar o caso, mas observou que a medida daria um "indicativo de que querem me blindar com a Polícia Federal". O presidente chegou a acusar o governador do Rio, Wilson Witzel, seu adversário político, como responsável pelo vazamento do depoimento do porteiro que o mencionava.

Em parecer sigiloso encaminhado ao STJ, a Advocacia-Geral da União destaca a posição do ministério de Moro, que acompanha de perto as discussões sobre o andamento do caso Marielle, segundo o Estado apurou. "Como bem ressaltado pelo Ministério da Justiça (...), os próprios familiares da ex-vereadora posicionaram-se desfavoravelmente à federalização das investigações e persecução penal, fator que, acreditamos, deve ser considerado e prestigiado pelo STJ", destaca a AGU.

"Ademais, não se pode perder de vista que eventual deslocamento de competência à revelia da vontade de familiares das vítimas pode sinalizar futuro questionamento da conduta da União, sob eventual alegação (ainda que infundada) de que pode repercutir negativamente sobre as atividades investigativas e punitivas do Estado do RJ, no caso."

Em dezembro, a ministra Laurita Vaz, do STJ, pediu que a AGU, a Procuradoria do Estado do Rio e parentes de Marielle e Anderson se manifestassem sobre a federalização. A Terceira Seção do STJ deve analisar o caso até abril.

O documento obtido pelo jornal também destaca a posição da PF, que está subordinada a Moro. "Apesar dos problemas apontados, é sabido que a Polícia Civil, o Ministério Público e a Justiça do Rio de Janeiro, aparentemente tem atuado no sentido de identificar e punir os responsáveis intelectualmente pelos citados assassinatos", alegou a corporação. A PF deflagrou no ano passado uma operação para apurar tentativa de obstrução das investigações.

Com o primeiro ano de mandato agitado, ao longo de 2019, Jair Bolsonaro pôde saborear as adversidades e a pressão da cadeira presidencial. Ele optou por manter discurso eleitoral, aprovou a Reforma da Previdência, fez declarações ‘distorcidas’ e teve o nome envolvido em polêmicas.

Mesmo na vida política desde a década de 80, sua inexperiência foi percebida diante de entraves com o Congresso e pela dificuldade nas relações diplomáticas. Contudo, comemora índices de segurança pública e o tímido avanço econômico. “Hoje temos um presidente que valoriza a família e respeita a vontade de seu povo”, destacou no pronunciamento de Natal.


Chico Peixoto/LeiaJáImagens

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Ministros dignos 

Mesmo orgulhoso das escolhas 'técnicas' e da idoneidade dos ministros, três deles foram demitidos por Jair, são eles: Gustavo Bebianno, Ricardo Vélez e o general Santos Cruz. Ainda mantido no cargo, o responsável pela pasta do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (PSL), foi indiciado pela Polícia Federal por uma suposta participação envolvendo um esquema de candidaturas laranjas.

A ministra a Agricultura Tereza Cristina também foi evidenciada ao bater o recorde de liberação de agrotóxicos. Enquanto isso, entidades ligadas ao Meio Ambiente sofreram cortes significativos e Ricardo Salles atacou ONGs ao ser acusado de ‘descompromisso’ diante das queimadas na Amazônia e morosidade das ações para conter o derramamento de petróleo cru no Costa.

Outra que estampou manchetes foi Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. As declarações conservadoras discernindo cor de roupa por gênero, visão do divino em uma goiabeira e uma conta no Tinder renderam-lhe o posto de 'ministra do memes'. Entretanto, as comunidades indígenas e LGBT+ acabaram sendo escanteadas em sua gestão.

Reprodução/Twitter/@AbrahamWeint

Comendo Kafta, lendo Kafka e vice-versa 

Na educação, Bolsonaro atacou a ‘ideologia’ das unidades federais, cortou bolsas de estudo e comemorou o sucesso do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em contrapartida, o atual ministro Abraham Weintraub encaminhou ofício com erros de português e confundiu um renomado escritor tcheco com uma iguaria da culinária árabe. Em mais de uma oportunidade, ele chegou a garantir que os alunos cultivavam plantações de maconha nas universidades públicas

Na pasta da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz Sérgio Moro foi bem mais introvertido do que quando comandava a Operação Lava-Jato. Antes crítico ferrenho do Caixa 2, ele aliviou seu entendimento e comemorou a sanção do pacote anticrime, mesmo com 25 vetos. A imagem de paladino da Justiça foi estremecida com a divulgação de conversas com procuradores envolvendo a prisão do ex-presidente Lula. Na Saúde, o acesso ao SUS foi reduzido, o departamento de HIV/Aids foi extinto e o programa Mais Médicos deu vez ao Médicos pelo Brasil.


Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag. Brasil

Nas mãos de Guedes

O aumento do valor do botijão de gás, cortes de carne e combustíveis, além do recorde do dólar -que alcançou R$ 4,27- reverberou junto com apelido de ‘Tchutchuca’, dado ao ministro Paulo Guedes. Sem atingir as expectativas do 'mega leilão' do Pré-sal, ele conseguiu aprovar medidas impopulares como a privatização de aeroportos, a Reforma da Previdência, a lei da Liberdade Econômica, o Pacto Federativo e o programa de emprego Verde Amarelo.

Alan Santos/PR

“O mundo voltou a confiar no Brasil”

Nas relações exteriores, o chanceler Ernesto Araújo negou o aquecimento global e propôs uma falsa crise na Amazônia. Em relação à visão internacional, Bolsonaro se meteu na confusão secular e reconheceu Jerusalém como capital de Israel, antes de atacar os palestinos. Em visita ao Memorial do Holocausto, afirmou que o Nazismo foi um movimento da esquerda. O presidente também ofendeu a primeira-dama francesa Brigitte ao zombar da sua aparência e comparar com sua própria esposa.

Durante discurso na ONU, Bolsonaro reforçou os ataques a opositores e escancarou sua admiração por Donald Trump ao declarar seu ‘love’, entretanto, o americano fez pouco caso dos sentimentos do brasileiro.  Ainda que anticomunista, os laços comerciais com a China foram reforçados, o que resultou na alta do preço da carne no Brasil. Ainda que garanta que seu Governo não segue viés ideológico, recusou-se a participar da posse do argentino Alberto Fernández e ameaçou sair do Mercosul.


Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Contra a indústria das multas e a segurança no trânsito

Sem a liberação de armas, mas com afrouxamento no porte, Bolsonaro cometeu três infrações durante um passeio de moto e decidiu mirar nas leis de trânsito. Ele estendeu a validade da CNH, eliminou radares móveis e posicionou-se contrário ao uso da cadeirinha para crianças. Nas autoescolas, extinguiu a obrigatoriedade do simulador e tentou suspender o DPVAT.

Outro setor que também virou alvo da política bolsonarista foi a imprensa. Sempre tentando descredibilizar o jornalismo, não foram raras as vezes que Bolsonaro fugiu de perguntas, recusou-se a responder repórteres e insultou profissionais da área. Muito dessa objeção é fruto da apuração feita por agências, dentre elas a ‘Aos Fatos’, que identificou 572 declarações falsas do presidente. Outras entidades estatísticas como o IBGE, Datafolha e o próprio Ibope foram refutadas. No último dia 20, uma avaliação encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que apenas 29% dos brasileiros entendem que a gestão é ótima ou boa.

Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“Terminamos o ano sem nenhuma denúncia de corrupção”

Com a explanação do ‘laranjal’ do PSL, além do envolvimento de ministros, o filho 01 - Flávio – passou a ser investigado por lavagem de dinheiro. O principal nome relacionado ao esquema foi seu ex-assessor Fabrício Queiroz, que supostamente era o operador financeiro das ‘rachadinhas’ do salário de funcionários do gabinete do ex-deputado.

Já que propôs dar o ‘filé mignon’ aos filhos, o presidente tentou cavar o posto de embaixador do Brasil nos EUA para 02 - Eduardo. O deputado atentou legitimar sua capacidade ao reforçar a experiência de fritar hambúrgueres no ‘frio do Maine’ e sugeriu um novo AI-5 diante de uma suposta ‘radicalização’ da esquerda. Antes, ele já havia declarado que para fechar o STF bastava enviar um soldado e um cabo. Contudo, a polêmica envolvendo suas intenções antidemocráticas o fez recuar nas afirmações e o postulou à liderança do PSL no Congresso.

Diante do nepotismo e do processo envolvendo o laranjal, o 03 - Carlos - era o responsável pelas publicações no principal meio de comunicação presidencial, o Twitter do pai. Com a ‘metralhadora’ apontada para todos os lados, nem os políticos da situação escaparam de ‘Carluxo’, que preferiu encerrar o ano um pouco mais contido em suas colocações.

Elineudo Meira/Fotos Públicas

'Seu Jair' do condomínio

Através de mais uma das famosas lives, desta vez em regime extraordinário, o presidente esbravejou contra as informações repassadas pelo porteiro do seu condomínio no inquérito envolvendo o assassinato de Marielle Franco (Psol). No dia da execução, o funcionário diz ter ouvido a voz de ‘Seu Jair’ liberando a entrada de um dos acusados de assassinar a vereadora. Porém, no dia do crime, o ex-deputado aponta que cumpria agenda em Brasília.

Rafael Bandeira / LeiaJáImagens

Balas que representam a mudança

Sem amplo apoio político, sobretudo do Nordeste, insinuou que os governantes da região era ‘paraíbas’ e fez poucas visitas aos estados que o compõe. Antes de sair do PSL, presidido pelo pernambucano Luciano Bivar, Bolsonaro expôs um racha no partido e dividiu seus apoiadores no Congresso. Sem partido, planeja lançar sua própria sigla intitulada ‘Aliança pelo Brasil’, que recebeu o número 38 em alusão ao calibre de revólver. Jair encerra o ano assumindo sendo o assunto mais comentado do Twitter, com a hashtag #BolsonaroTrairaDeNatal.

O ano de 2019, definitivamente, não foi para amadores - e o mundo político que o diga. Foram várias declarações polêmicas, 'laranjal do PSL', briga entre os partidos, caso Marielle Franco respingando na família Bolsonaro. Algumas pessoas poderiam imaginar como seria o cenário político deste ano. Mas, talvez, nem uma taróloga conseguiria acertar tudo o que aconteceu em Brasília durante os últimos meses. Por isso, caso já tenha esquecido essas polêmicas, deixe que o LeiaJá vai refrescar a sua memória:

Início do racha no PSL

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Engana-se quem pensa que as brigas envolvendo os parlamentares do PSL só começaram bem depois que o presidente Jair Bolsonaro foi empossado. O ano de 2019 deu as boas vindas com os pesselistas brigando entre sí para ver quem conseguia abocanhar algum cargo de comando no Congresso Nacional. Pode-se dizer que foi neste momento que as alas bolsonaristas e bivaristas já estavam bem definidas, tendo em vista que muitas movimentações para as escolhas tiveram à frente o próprio Jair Bolsonaro e o deputado Luciano Bivar, presidente do PSL - um sem consultar o outro, o que causou vários atritos internos. 

-> PSL racha por disputa de cargos na Câmara

Bebianno vs Carlos Bolsonaro: a exoneração do ministro

Com 44 dias de governo Bolsonaro, o Planalto teve uma de suas piores crises. Tudo causado pelo embate entre o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidente da República, e Gustavo Bebianno - que na época exercia o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A faísca para essa explosão se deu porque Bebianno estaria envolvido num esquema de candidaturas laranjas do PSL. Em entrevista, o então ministro chegou a afirmar que falou três vezes com Jair Bolsonaro um dia antes da crise envolvendo o seu nome ganhar as redes sociais. 

Carlos, por meio de sua conta no Twitter, afirmou que Gustavo Bebianno estava mentindo e que o presidente, que estava internado no Albert Einsten, em São Paulo, não havia falado com ninguém. A partir daí uma crise se instaurou e Jair Bolsonaro, em defesa do filho, exonerou o ministro sem qualquer explicação oficial. A única declaração dada pelo porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, é que a motivação tinha sido de "foro íntimo" do presidente Jair Bolsonaro.

-> Laranja em PE: Filho de Bolsonaro diz que ministro mentiu

Tabata Amaral apoiou a Reforma da Previdência e contrariou o PDT

Não é só no PSL que 2019 vai deixar marcas. A deputada federal Tabata Amaral (PDT), em seu primeiro ano de mandato, contrariou a determinação do partido e apoiou a Reforma da Previdência. Na época, a parlamentar disse que sentia "uma tristeza muito grande" ao ver deputados e partidos se posicionarem contra a reforma. Vale lembrar que o PDT havia fechado questão contra a proposta, o que não foi um impeditivo para Tabata. 

“Meu voto pela Reforma da Previdência é um voto de consciência, não é um voto vendido, não é um voto por dinheiro de emendas. É um voto que segue as minhas convicções e tudo que estudei até aqui. Ao tomar essa decisão, eu olho para o futuro do país e não para o próximo processo eleitoral”, explicou a parlamentar na ocasião.

O ex-governador Ciro Gomes, um dos principais nomes do PDT, chegou a defender que Tabata e outros sete deputados pedetistas deixassem o partido por não terem votado contra a reforma. 

-> Tabata Amaral contraria PDT e apoia reforma

Governadores de 'paraíba'

Em um café da manhã com os jornalistas, pensando que o seu microfone ainda não estava ligado, o presidente Jair Bolsonaro declarou que "dos governadores de 'paraíba', o pior é do Maranhão", referindo-se ao gestor Flávio Dino (PCdoB). Bolsonaro ainda disse na época ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que "não tem que ter nada com esse cara (Flávio Dino)". O governador do Maranhão respondeu o comando de Jair afirmando que o "presidente da República não pode determinar perseguição contra um ente da Federação". 

Lorenzoni chegou a defender Bolsonaro afirmando que tudo ocorreu porque os governadores do NE "são muito agressivos com o governo e com o presidente, partindo até para o campo pessoal". Na época, o ministro afirmou que a crise desencadeada por conta do comentário de Bolsonaro fazia parte do "jogo político" e que não haveria nenhuma espécie de boicote do Governo Federal a esses entes federativos.

-> "Dos governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão"

Jair Bolsonaro vs Luciano Bivar

Na saída do Palácio da Alvorada, onde apoiadores esperavam para conversar e tirar fotos com o presidente Jair Bolsonaro, um homem se apresentou como pré-candidato no Recife pelo PSL. Bolsonaro, então, cochichou em seu ouvido: "Esquece o PSL". Ainda assim, o rapaz gravou um vídeo junto ao presidente em que diz: "Eu, Bolsonaro e Bivar juntos por um novo Recife". O presidente, por sua vez, pediu para que ele não divulgasse a gravação. "Ó cara, não divulga isso, não. O Bivar está queimado pra caramba lá. Vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido", disse Bolsonaro.

Bivar, já nesta época, estava sendo investigado por conta do 'laranjal do PSL'. Semanas depois da declaração, o presidente Bolsonaro e um grupo de 23 parlamentares do PSL acionaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) para pedir o afastamento de Luciano Bivar, atual presidente da sigla. A intenção de Bolsonaro era de comandar o partido, já visando as próximas eleições e, claro, o Fundo Partidário de R$ 110 milhões. Sem sucesso na empreitada, Jair Bolsonaro decidiu sair do PSL e agora tenta engatilhar a criação do seu partido, o Aliança Pelo Brasil.

-> "Está queimado para caramba", diz Bolsonaro sobre Bivar

AI-5 "se a esquerda radicalizar"

Talvez por estarem no foco do poder no Brasil, foi da família Bolsonaro que vieram as mais polêmicas declarações. Uma das que mais reverberou no país foi a da possível reedição do Ato Institucional Número 5 (AI-5), dita pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que não via nada de mais nas citações do ato.

Na época, em entrevista a jornalista Leda Nagle, o deputado disse: "Tudo é culpa do Bolsonaro, percebeu? Fogo na Amazônia, que sempre ocorre nessa estação, culpa do Bolsonaro. Óleo no Nordeste, culpa do Bolsonaro. Daqui a pouco vai vir outra coisa e será culpa do Bolsonaro. Se a esquerda radicalizar esse ponto, vamos precisar dar uma resposta, que pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de plebiscito, como ocorreu na Itália”, considerou, ao fazer referência aos protestos que aconteciam no momento no Chile. 

-> Eduardo defende novo AI-5 como resposta à radicalização

Família Bolsonaro envolvida no assassinato de Marielle?

O possível envolvimento do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Carlos Bolsonaro no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi a última polêmica do mundo político que 'parou o Brasil'. 

À polícia, o porteiro do condomínio que Bolsonaro mora disse que no dia do crime interfonou para a casa de "Seu Jair" e ouviu dele a liberação para a entrada do Élcio Queiroz, acusado pelos assassinatos juntamente com Roni Lessa. 

O presidente chegou a desmentir a informação e disse que no dia do crime estava em Brasília. No entanto, um tuíte feito pela jornalista Thais Bilenky no dia 14 de março de 2018 - exato dia dos assassinatos - Bolsonaro teve uma intoxicação alimentar, passou mal e havia voltado mais cedo para o Rio de Janeiro. Agora, a Polícia Civil trabalha com a tese de participação do vereador Carlos Bolsonaro.

Apesar disso, em novo depoimento, o porteiro negou qualquer ligação para a casa do presidente e nessa quarta-feira (18) o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, arquivou o processo que remetia Bolsonaro à uma espécie de obstrução de justiça no caso.

-> Caso Marielle: jornalista diz que Bolsonaro estava no Rio

-> Carlos acusa Witzel de 'forjar provas' no caso Marielle

O procurador-geral da República, Augusto Aras, se posicionou contra a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal para apurar se o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) cometeram crime de obstrução de Justiça no âmbito das investigações sobre a morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes.

O pedido de investigação partiu da Associação Brasileira de Imprensa, após Bolsonaro ter dito publicamente que obteve gravações de chamadas feitas no dia da morte de Marielle entre a portaria e as casas do condomínio Vivendas da Barra - onde mantém residência no Rio de Janeiro - antes que elas tivessem sido "adulteradas".

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Naquele dia, 14 de março de 2018, Elcio Queiroz, suspeito do assassinato, visitou o condomínio. Segundo registro feito por um porteiro, Elcio teria dito que iria à casa 58 - que pertence ao presidente - mas destinou-se à casa de Ronnie Lessa, outro suspeito do duplo homicídio. O funcionário do condomínio, depois, voltou atrás no depoimento.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, requisitou o parecer da Procuradoria sobre o pedido da associação pela apuração de uma suposta obstrução de Justiça por parte do presidente. O procurador-geral, Augusto Aras, no entanto, afirmou que "a noticiante não trouxe aos autos indícios mínimos da ocorrência de ilícito criminal".

"O fato de um condômino ter o eventual acesso à cópia dos áudios da portaria do local onde reside consiste em mero exercício de direito, na medida em que possui o domínio ou posse - embora não exclusivamente - sobre os bens de uso comum (art. 1.335 do Código Civil)", escreveu Augusto Aras.

O procurador-geral afirmou também que os "arquivos de áudio a que alude já se encontram, há muito, sob a guarda das autoridades competentes - Ministério Público e autoridade policial -, tendo havido a análise técnica do seu conteúdo antes mesmo dos fatos noticiados".

Acesso

As circunstâncias em torno da visita de Elcio Queiroz ao condomínio Vivendas da Barra no dia 14 de março de 2018 entraram no debate público após uma reportagem da TV Globo publicada no fim de outubro mostrando que um porteiro registrou que o destino de Elcio era a casa de Bolsonaro.

O porteiro disse à polícia ter interfonado para a residência 58 e ouvido a voz do "seu Jair". Em depoimento posterior, o porteiro Alberto Mateus afirmou que se enganou.

Um dia depois da exibição da reportagem, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, exibiu arquivos obtidos por ele na portaria em que não havia registros da ligação mencionada pelo porteiro à polícia. O Ministério Público do Rio, numa entrevista coletiva, afirmou que uma perícia nas gravações da guarita mostrou que a voz que autorizou a entrada de Élcio pertence a Lessa, que morava na casa 66. Ambos estão presos.

Jair Bolsonaro disse que pegou os áudios das comunicações do condomínio feitas naquela data "antes que fosse adulterado". Bolsonaro era deputado federal e se encontrava em Brasília naquele dia, segundo registros da Câmara dos Deputados.

"Nós pegamos (os áudios) antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha", disse Bolsonaro no início de novembro. Um dia depois, após ser criticado pela oposição, o presidente disse que "não quer adulterar nada" e que é "má-fé ou falta de caráter" acusá-lo de manipular as investigações sobre a morte de Anderson e Marielle.

O pedido de investigação feito pela Associação Brasileira de Imprensa cita como "temerário o acesso protagonizado pelo presidente e pelo vereador aos elementos probatórios".

Além da abertura de investigação, o órgão pediu que o Supremo determinasse busca e apreensão do computador ou da base de dados em que estão armazenadas as gravações e imagens para realização de perícia. Com a posição contrária da PGR, no entanto, a tendência é o pedido ser arquivado.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, classificou de "disparate" o envolvimento do nome do presidente Jair Bolsonaro na investigação da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). O nome de Bolsonaro tinha sido citado por porteiro do condomínio Vivendas da Barra, na zona oeste do Rio, onde mora o presidente, atribuindo a "seu Jair" a entrada no local de Elcio Queiroz, acusado de matar a vereadora. O porteiro mudou a versão ao prestar depoimento à Polícia Federal (PF) na terça-feira, 19.

"O envolvimento do nome do presidente é um total disparate", respondeu Moro, ao ser questionado sobre o recuo em entrevista à Rádio CBN nesta quinta-feira (21).

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Segundo o ministro, o caso Marielle tem que ser investigado com "neutralidade e dedicação, sem politização". Moro também voltou a defender a federalização das investigações do caso. "Vendo esse novo episódio, em que se busca politizar indevidamente, na minha avaliação, claro que será decidido pela Justiça, mas o melhor caminho para uma investigação exitosa é a federalização", acrescentou.

Citando "testemunha fraudulenta" e reforçando "tentativa de politização", Moro afirmou ainda que "não é demérito das autoridades estaduais, mas é melhor que seja a federalização". "É uma avaliação objetiva, que para esse caso, é colocar a PF com expertise e reputação. Não é ministro que investiga nem diretor da PF. O que vai ter é um grupo de federais, com o Ministério Público Federal, e podem contar com apoio das autoridades federais para realizar uma investigação técnica e isenta", concluiu o ministro.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro voltou a convocar para depor, depois de mais de um ano, pessoas ligadas à vereadora Marielle Franco e ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Os investigadores tentam entender melhor como era a relação entre os dois parlamentares, que eram vizinhos de gabinete na Câmara do Rio e teriam se envolvido em uma discussão no corredor do prédio.

Em 29 de outubro, no dia em que o Jornal Nacional, da TV Globo, revelou o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, a viúva da vereadora, Monica Benicio, voltou a ser ouvida pela polícia. Segundo pessoas que acompanharam o depoimento, houve insistência em perguntas sobre Carlos.

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Um ex-assessor da vereadora, que afirma ter discutido com o filho do presidente, também foi convocado novamente para falar sobre o episódio. Carlos teria tentado agredir um assessor de Marielle, e ela teria ameaçado chamar a segurança da Câmara para intervir. Carlos nega que tenha havido tentativa de agressão, diz que nunca brigou com Marielle e que o episódio com o assessor tratou-se de uma "discussão sem desdobramentos" .

A briga foi abordada em depoimentos de ex-funcionários de Marielle no início das investigações, quando o próprio Carlos foi ouvido pela polícia na condição de testemunha, mas havia sido deixada de lado ao longo de 2019. Carlos não é investigado neste caso nem foi chamado a prestar novo depoimento.

Em nota enviada à reportagem, o gabinete de Carlos disse que não tem nada a declarar sobre as apurações da Polícia Civil. "Ressalto que nunca houve brigas entre os parlamentares, não sei de onde você tirou esta informação. Ela não procede. O relacionamento entre o vereador Carlos Bolsonaro e a ex-vereadora Mariele Franco, sempre foi cordial e amigável."

Quanto ao episódio envolvendo o assessor, a equipe do vereador alegou que "a vereadora estava em seu gabinete e prontamente interviu com a cordialidade que lhe era peculiar."

Até o momento, as investigações apontam para o envolvimento dos ex-PMs Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, presos desde março. A Procuradoria-Geral da República apontou o ex-deputado e conselheiro licenciado do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão, como provável mandante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O delegado de Polícia Federal Hélio Khristian de Cunha Almeira, acusado de obstruir as investigações no caso Marielle Franco, teria participado de esquema para enterrar inquérito aberto contra a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor). A informação consta da delação do ex-presidente da entidade, Lélis Teixeira, e liga o nome do agente à Lava Jato.

Hélio Khristian foi denunciado em outubro pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em um dos seus últimos atos no cargo.

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Segundo a PGR, o delegado teria obstruído as investigações do caso Marielle Franco em esquema montado pelo conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão, suspeito de ser o mandante do assassinato.

Marielle foi morta com nove tiros em março de 2018.

No relato de Lélis Teixeira, Hélio Khristian teria se envolvido em esquema para beneficiar a Fetranspor em um inquérito da Delegacia Previdenciária da PF no Rio que investigava supostos crimes cometidos no âmbito da entidade.

Em troca, o delegado teria recebido de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões em propinas. O caso ocorreu em 2017, afirmou o delator.

A reportagem teve acesso à delação premiada de Lélis Teixeira, que tramita em segredo de justiça. São 25 anexos que mostram a suposta atuação de políticos, servidores da Receita e da Polícia Federal, e magistrados do Judiciário fluminense em prol da Fetranspor em licitações e processos contra a empresa.

Lélis Teixeira afirma ter sido informado pelo então diretor financeiro da Rio-Ônibus, Enéas Bueno, sobre a abertura de um inquérito na Polícia Federal solicitado pelo Ministério Público Federal contra a Fetranspor.

A informação teria sido repassada por um advogado, não nomeado na delação, que apontou como alvo das investigações as empresas de Jacob Barata, o 'Rei do Ônibus', João Pereira e Álvaro Lopes - todas associadas à Rio-Ônibus.

Segundo Lélis, o advogado teria oferecido uma 'ajuda' que seria destinada ao delegado de Polícia Federal responsável pelo caso. O objetivo era que o agente 'beneficiasse as empresas investigadas'. O delegado era Hélio Khristian, lotado na Delegacia Previdenciária, no Rio.

O delator diz que o esquema foi acertado por Enéas Bueno em um almoço com Hélio Khristian em um restaurante próximo à Praça Mauá, onde, segundo soube por Bueno, o diretor teve a 'consistência' de tudo que ficou acordado entre o delegado e o advogado intermediário para a 'solução do caso'.

A propina, segundo Lélis Teixeira, teria ficado em torno de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões, que teriam sido quitados em parcelas. O dinheiro saiu da conta destinada a pagamentos de caixa dois da Fetranspor e entregues ao advogado intermediário do esquema.

Marielle

Além da Lava Jato, o delegado Hélio Khristian também é alvo de denúncia da Procuradoria-Geral da República por supostamente obstruir as investigações sobre o assassinato de Marielle.

Segundo a acusação movida por Raquel Dodge, o delegado da PF teria integrado esquema que buscou atrapalhar o caso sob ordem de Domingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-Rio e suposto mandante do crime. Ele nega envolvimento no caso.

De acordo com Raquel, foram colhidas provas de que Brazão teria influído no caso para evitar que os culpados pelos assassinatos da vereadora fossem identificados enquanto se buscava incriminar o miliciano Orlando Araújo e o vereador Marcelo Siciliano.

A estratégia, segundo a procuradora, foi plantar informações falsas por meio da Polícia Federal, via Hélio Khristian, para que elas chegassem à Polícia Civil do Rio.

O plano de Brazão teria sido realizado por cerca de um ano e envolveu, além do delegado Khristian, o policial federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, ex-funcionário do gabinete do conselheiro, o policial militar Rodrigo Ferreira, o 'Ferreirinha' e a advogada Camila Moreira Lima Nogueira.

Condenação

Khristian foi condenado em 2016 pelo Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) por supostamente integrar esquema de simulação de inquéritos para cobrança de propinas de investigados.

No ano seguinte, no entanto, a Corte anulou a condenação após a defesa alegar que o delegado foi condenado por um crime diferente do que foi denunciado.

A reportagem entrou em contato por e-mail com a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro e aguarda resposta. A corporação informou que ainda busca contato com o delegado, que se encontra aposentado. A reportagem entrou em contato com a defesa do delegado no caso Marielle, que não quis comentar o assunto. O espaço está aberto a manifestações

Um tuíte realizado no mesmo dia da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrida no dia 14 de março de 2018, põe em dúvida a negativa de Jair Bolsonaro sobre a liberação da entrada de um dos acusados em seu condomínio. Em depoimento, o porteiro garantiu que ouviu a voz de "Seu Jair" no interfone, enquanto o presidente o contrapõe ao relatar que cumpria agenda em Brasília.

De acordo com a jornalista Thais Bilenky, a assessoria do então deputado Bolsonaro informou que ele sofreu uma intoxicação alimentar e precisou retornar ao Rio de Janeiro no mesmo dia em que, supostamente, liberou a entrada de ex-policial militar Élcio Queiroz em seu condomínio.

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O porteiro do Vivendas da Barra relatou que, no dia do crime, interfonou para a casa de "Seu Jair" e ouviu a liberação dele. O presidente esbravejou em uma live e negou o contato, alegando que cumpria agenda na Câmara dos Deputados, em Brasília. Élcio é um dos acusados de assassinar Marielle. Ao entrar no condomínio, segundo relato do porteiro, o ex-policial seguiu para a casa do outro acusado, Ronnie Lessa. Os dois estão presos.

O presidente ainda não se pronunciou sobre a informação resgatada do Twitter da jornalista do dia 14 de março de 2018.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) interpelou nesta terça-feira (12) o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann a prestar esclarecimentos sobre uma afirmação que, segundo o jornal O Globo, foi feita por ele a um amigo a respeito da investigação sobre a morte da vereadora Marielle Franco, ocorrida em 14 de março de 2018.

Nota publicada por um colunista de O Globo às 14h25 desta terça afirma que "Jungmann, que era ministro da Segurança Pública quando Marielle Franco foi executada, disse a um amigo que, dado o nível de comprometimento da Polícia Civil e do Ministério Público estadual no Rio de Janeiro, não há a menor possibilidade de o caso ser solucionado se a investigação não for federalizada".

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O MP-RJ reagiu e, em nota divulgada à noite, comparou a afirmação a uma "atitude leviana", que "não vem acompanhada de qualquer elemento de convicção". "Considerando a gravidade do comentário, o Ministério Público decidiu indagar formalmente Jungmann em que consiste o 'comprometimento' das instâncias locais que estaria a embaraçar a investigação e que justificaria a propalada federalização. Só assim será possível dissipar qualquer aura de leviandade e permitir que se apure e puna quem esteja atuando à margem da lei", conclui a nota.

O ofício que, segundo o MP-RJ, foi encaminhado a Jungmann é assinado pelo procurador-geral de Justiça do Estado do Rio, Eduardo Gussem. O documento repete termos da nota, afirmando que "com o propósito de dissipar qualquer aura de leviandade e permitir que se apure e puna quem esteja atuando à margem da lei, sirvo-me do presente para indagá-lo formalmente a respeito do alegado 'comprometimento' das instâncias locais que estaria a embaraçar a investigação e que justificaria a propalada federalização da apuração do homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes".

O embate entre o MP-RJ e Jungmann e outros defensores da federalização da investigação desse crime é antiga. A nota do MP-RJ relembra que "já no dia seguinte à prática do duplo homicídio a então Procuradora-Geral da República instaurou procedimento preparatório com esse objetivo" (de federalizar a investigação), embora essa mudança "tenha por pressuposto a inércia das instituições locais". "Não poderia estar configurada qualquer inércia" apenas um dia após o crime, afirma o MP-RJ. "O resultado dessa pouco inspirada iniciativa foi a sua suspensão pelo Conselho Nacional do Ministério Público".

Jungmann foi ministro da Segurança Pública de fevereiro de 2018 a 1º de janeiro de 2019, durante a gestão do então presidente Michel Temer (MDB). Segundo a nota do MP-RJ, em diversas entrevistas sobre o fato, Jungmann repetiu que a federalização era necessária para que a Polícia Federal pudesse colaborar com as investigações. "Foram inúmeras as tentativas de explicar ao ex-ministro que a Polícia Federal não depende de qualquer formalidade ou autorização para investigar infrações penais 'relativas à violação a direitos humanos, que o Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais', conforme a lei 10.446/2002. Enfatizou-se, na ocasião, que essa atuação seria muito bem-vinda pelo MP-RJ, esclarecendo-se, na oportunidade, que tal investigação em nada se confundia com o deslocamento de competência para a Justiça Federal", segue o MP-RJ.

A instituição afirma ainda que, no momento em que o então ministro defendia a federalização, a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro estava sob intervenção federal, e o gabinete de intervenção poderia requisitar o apoio de quaisquer órgãos da administração pública federal para a elucidação do crime.

Resposta

A reportagem não conseguiu localizar o ex-ministro Raul Jungmann na noite desta terça-feira, para que se pronunciasse sobre a medida adotada pelo MP-RJ.

A Polícia Civil tentou intimar a prestar novo depoimento o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde morava o PM reformado Ronnie Lessa, acusado do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Agentes estiveram na tarde de quinta-feira, 7, na casa de Alberto Mateus, no bairro Gardênia Azul, na zona oeste, mas o profissional não estava em casa.

Reportagem publicada nesta sexta-feira, 8, na revista Veja, revelou o paradeiro do porteiro, mas ele não deu entrevista. Segundo a publicação, Mateus sente-se acuado. Uma milícia domina o bairro onde ele mora.

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Em dois depoimentos, Mateus contou que no dia do crime, 14 de março de 2018, o ex-PM Élcio Queiroz, também acusado do crime, esteve no condomínio por volta das 17h. Segundo o porteiro, Élcio anunciou que queria ir à casa 58, do então deputado federal Jair Bolsonaro, também morador.

Ele registrou a informação em um livro de entrada, e também contou que foi o próprio "seu Jair" quem teria autorizado a entrada. Naquele dia, no entanto, Jair Bolsonaro estava em Brasília e participou de duas votações no plenário da Câmara.

O Ministério Público do Rio apresentou um áudio da portaria em que a liberação da entrada é feita, via sistema de comunicação, por alguém da casa 65/66, de Ronnie Lessa. A voz que atende à ligação seria dele, não de Bolsonaro. Com base no áudio, cuja análise, feita em meios de três horas, foi questionada, promotoras que investigam o caso sustentaram que "o porteiro havia mentido".

Consultados, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), que têm poder para processar o presidente, afirmaram não haver prova contra Bolsonaro. Os autos foram devolvidos ao Ministério Público do Rio, para prosseguir com a investigação sobre o mandante ou mandantes do crime. O inquérito do Rio, porém, não poderá abordar nada relativo ao mandatário, por não ser legalmente habilitado para isso.

A Veja também localizou o porteiro cuja voz aparece no áudio. Trata-se de outro funcionário do condomínio, que também deve ser chamado a depor para esclarecer a situação.

Lessa e Élcio foram presos em março passado e denunciados pelos homicídios de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Eles negam o crime, mas o registro do encontro dos dois no dia do crime - que eles depois admitiram - é considerada uma prova importante no processo.

A Polícia Federal, após pedido do Ministério Público Federal, abriu investigação sobre o porteiro pelos supostos crimes de denunciação caluniosa, falso testemunho e obstrução de Justiça. A Defensoria Pública do Rio informou que assumiu a defesa de Mateus. Oficialmente, a Polícia Civil limitou-se a dizer que o "inquérito corre sob sigilo".

A Polícia Federal atendeu pedido do Ministério Público Federal (MPF) e abriu inquérito nesta quarta-feira, 6, para investigar o depoimento prestado pelo porteiro do condomínio Vivendas da Barra, na zona oeste do Rio de Janeiro, no âmbito do caso Marielle Franco.

A solicitação foi atendida horas depois da manifestação da Procuradoria Regional da República, que encaminhou ofício enviado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Em nota, a Procuradoria indicou que somente se manifestará de forma conclusiva após o fim das investigações.

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Há 602 dias Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados em circunstâncias que ainda não foram completamente esclarecidas.

No último dia 30, o procurador-geral da República, Augusto Aras, encaminhou ao MPF o ofício assinado pelo ministro Sergio Moro, que pedia a abertura de um inquérito para apurar se houve "tentativa de envolvimento indevido" do nome do presidente na investigação do caso Marielle.

O pedido de Moro foi feito após o presidente acioná-lo para que a Polícia Federal escutasse o porteiro novamente.

A solicitação foi atendida por Aras, que disse ainda que já havia recebido uma notificação sobre a citação ao nome do presidente no caso, mas não viu elementos suficientes e mandou arquivá-la.

No documento, o ministro da Justiça apontou que haveria uma inconsistência no depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra - onde o presidente morava na época do crime - que "sugere possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro".

Segundo reportagem exibida no Jornal Nacional, da TV Globo, o funcionário afirmou à Polícia Civil que, às 17h10 de 14 de março de 2018 (horas antes do crime), um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, um dos acusados pelo duplo homicídio) entrou no condomínio dirigindo um Renault Logan prata e afirmou que iria à casa 58, que pertence a Bolsonaro e onde morava o presidente. Ronnie Lessa, outro acusado pelo crime, era vizinho do presidente. O então deputado, porém, estava em Brasília, conforme registros da Câmara.

Em setembro, a então a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que o caso passe a ser conduzido em âmbito federal, o que será analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) até o fim deste ano.

A defesa do ex-PM Élcio Queiroz e do PM reformado Ronnie Lessa pediu a suspensão do processo em que são acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Segundo os advogados, novas informações sobre falhas e fraudes na investigação levantadas pela então procuradora-geral da república Raquel Dodge no pedido de federalização do caso indicariam a necessidade de novos depoimentos.

"É preciso suspender o processo até que todas essas novas informações sejam apuradas", afirmou o advogado de Lessa, Fernando Santana.

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No pedido ao juiz, a explicação para a suspensão é: "suspensão do curso do processo até decisão do STJ sobre federalização do caso; reabertura da instrução com oitiva de novas testemunhas; ofício ao STJ, Procuradoria Geral da República e Polícia Federal; e pedido de liberdade dos acusados."

Com isso, o inquérito foi remetido de volta ao MPRJ.

As supostas irregularidades cometidas pela Polícia Civil do Rio na investigação do caso foram reveladas depois que a Polícia Federal, a pedido da PGR, instaurou um inquérito para apurar obstruções no processo.

"É imperiosa a federalização para unir, de vez, toda a atividade estatal de apuração do mandante dos assassinatos em tela, evitando que a manutenção do inquérito na Polícia Civil possa gerar o risco de novos desvios e simulações", afirmou Dodge na época.

O STJ deve analisar até dezembro o pedido da PGR para federalizar as investigações.

Em carta encaminhada aos membros do Ministério Público do Rio, o procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, defendeu a investigação do MP sobre o caso Marielle Franco. No documento, ele também defendeu a promotora Carmen Eliza Carvalho, uma das responsáveis pelo inquérito. Carmen pediu afastamento depois que foram divulgadas fotos em que vestia camiseta de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Ela também aparece em imagens abraçada ao deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL). Ele destruiu uma placa em homenagem a Marielle na campanha eleitoral.

"A busca da verdade real não se submete a preferências ideológicas ou partidárias, decorrendo, isto sim, do inarredável compromisso institucional com a defesa da ordem jurídica e o combate à criminalidade", assinala Gussem na carta. "Após a apresentação à sociedade da comprovação do vínculo existente entre Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, executores dos homicídios que vitimaram Marielle Franco e Anderson Gomes, foi a instituição gravemente atacada, tendo como principais alvos o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado e a promotora de Justiça Carmen Eliza Carvalho."

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Segundo reportagem que foi ao ar no Jornal Nacional do último dia 29, um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde vivia o acusado Ronnie Lessa, contou à Polícia Civil que Élcio Queiroz recebeu autorização da casa 58 (do então deputado federal Jair Bolsonaro) para entrar no local no dia do crime, 14 de março de 2018, às 17h10.

No dia seguinte, 30, à tarde, o MP-RJ convocou uma entrevista coletiva, na qual informou que o porteiro havia mentido. Promotoras do Gaeco afirmaram também estar de posse de áudios de comunicação interna do condomínio que comprovavam que a entrada de Élcio tinha sido autorizada por Ronnie Lessa, da casa 65/66, e não por Bolsonaro. No dia em que Elcio esteve no Vivendas, segundo a Globo, Bolsonaro estava em Brasília.

No mesmo dia, entidades de peritos criminais questionaram a validade dos áudios apresentados pelo MP como provas porque não tinham sido devidamente periciados. Peritos chamaram a atenção para o fato de que somente os áudios de comunicação entre a portaria e a casa de Ronnie Lessa foram analisados. O MP justificou a decisão explicando que, o mais importante naquele momento era estabelecer que Élcio e Ronnie tinham estado juntos no dia do crime.

"Desde que foram presos, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz omitiram, peremptoriamente, que estiveram juntos no dia 14/03/2018, minutos antes da prática do crime. Portanto, a comprovação do vínculo entre eles, atestada pelo ingresso de Élcio no condomínio Vivendas da Barra, poucas horas antes do duplo homicídio, é fato de extrema relevância para o processo", escreveu Gussen.

Segundo o inquérito, os áudios da portaria tinham sido enviados pelo síndico do condomínio às promotoras no dia 15 de outubro. O pedido de análise técnica dos áudios, no entanto, só foi pedido por volta das 13h do dia 30, menos de duas horas e meia antes da coletiva.

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, por sua vez, prestaram depoimento às promotoras por meio de videoconferência (eles estão presos em Porto Velho, Rondônia), em 04 de outubro. Neste depoimento, os dois confirmaram que estiveram juntos no dia do crime na casa de Ronnie e, mais tarde, em um bar na Barra da Tijuca, na zona oeste.

Um dia depois da entrevista do MP, vieram a público fotos e postagens da promotora Carmen Eliza. Elas revelavam que ela havia apoiado Bolsonaro na eleição presidencial. Outra postagem mostrava a promotora abraçada a Amorim. A lei proíbe a atuação partidária de integrantes do Ministério Público. Em documento, o PSOL pediu o afastamento da promotora do caso.

"A promotora (...), por sua vez, foi colocada no centro das críticas e atingida com ataques absolutamente desarrazoados, que ignoraram seus 25 anos de carreira, marcados pelo zelo, seriedade e técnica, bem como pela eficiência e resolutividade do seu trabalho", escreveu Gussem. "Os ataques à reputação da promotora configuram não só um desrespeito às liberdades expressas no artigo 5º da Constituição Federal, mas também - e sobretudo - um irresponsável gesto de defesa dos criminosos."

Gussem encerra a carta afirmando:

"Todos que se preocupam em macular o trabalho do MPRJ, insinuando parcialidade, devem se despir dos interesses políticos imediatos e se curvar à verdade dos fatos e ao trabalho técnico que vem sendo realizado, pois cada ofensiva representa, na verdade, um ataque à ordem jurídica e aos interesses da sociedade, especialmente no que diz respeito ao tão necessário quanto urgente combate ao crime."

A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro emitiu nota, na noite desta segunda-feira, 4, em que defende o sigilo do inquérito sobre os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.

A Polícia Civil "reafirma a importância da manutenção do sigilo em que o inquérito vem sendo conduzido pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC)", começa a nota. "Para a instituição, o segredo de Justiça é extremamente necessário para que as investigações transcorram com tranquilidade e isenção. Por esse motivo, o sigilo do inquérito continuará sendo respeitado em inarredável observância às leis", conclui a nota.

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Lideranças do PT vão apresentar ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro. Segundo o PT, Bolsonaro praticou crime de obstrução à Justiça ao se apoderar da memória da secretária eletrônica do condomínio Vivendas da Barra.

No documento, o partido argumenta que o presidente "de modo autoritário e com uso da força (do seu cargo) se apropria se provas que podem, em tese, incriminar a si ou seus familiares". A queixa-crime também pede que o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, e o ministro da Justiça, Sergio Moro, sejam investigados por suposta interferência no inquérito.

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No sábado, 2, Bolsonaro disse ter pego os áudios para evitar que eles fossem adulterados. "Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha", afirmou.

Hoje, diante da reação negativa da oposição que o acusa de obstruir as investigações, o presidente deu outra versão: "O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. E a memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada, não".

Os áudios filmados e postados por Carlos em redes sociais desmentem o porteiro do condomínio que, em depoimento, disse que Élcio Queiroz, acusado de ser um dos autores do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, teria sido autorizado por "seu Jair" a entrar no condomínio depois de interfonar para a casa do presidente.

No áudio, quem autoriza a entrada de Élcio é Ronnie Lessa, outro acusado pelo assassinato de Marielle e Anderson, que mora no mesmo condomínio que Bolsonaro e Carlos, o Vivendas da Barra.

"Trata-se, à toda evidência, de uma clara tentativa de destruição e/ou manipulação de provas, visando afetar e mesmo frustrar a lisura das investigações policiais e ministeriais em curso e que, como dito, atingem direta ou indiretamente, o Presidente da República e, ao menos por enquanto, um de seus filhos (Carlos Bolsonaro)", diz a denúncia-crime apresentada pelo PT.

No documento, o partido pede a busca e apreensão de todo material em posse de Jair e Carlos Bolsonaro, que o Supremo faça o "acautelamento" (guarda) provisória das provas, determine a instauração de inquéritos para apurar possíveis crimes de obstrução à Justiça e improbidade administrativa.

Segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), o objetivo da queixa-crime é investigar a conduta de Bolsonaro, Carlos e Moro no caso. "Queremos que isso seja investigado. O objetivo não é pedir o impeachment do presidente, mas se alguém quiser fazê-lo existem crimes de responsabilidade de sobra, este é só mais um", disse o senador.

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, foi procurado mas não pôde comentar a ação do PT porque estava em uma reunião.

Os líderes da oposição no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), pediram ao Procurador-Geral de Justiça do Rio, José Eduardo Clotola Gussem, para que sejam tomadas "medidas urgentes" para resguardar o sistema de gravação e computadores do Condomínio Vivendas da Barra, onde reside o presidente Jair Bolsonaro e também Ronnie Lessa, um dos dois acusados de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes. A medida visaria garantir uma "futura perícia" do órgão técnico oficial.

O assassinato da vereadora e de Anderson completa 600 dias nesta segunda, 4.

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O ofício dos parlamentares foi enviado no sábado, 2, ao Ministério Público do Estado do Rio, após Bolsonaro afirmar ter obtido os áudios de ligações entre a portaria e as casas do condomínio no Rio, antes que elas tivessem sido "adulteradas".

"Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha", afirmou Bolsonaro, que nega obstrução de Justiça.

Na avaliação de Randolfe e Molon, a "apropriação" do conteúdo por Bolsonaro teria extrema "gravidade", assim como o acesso do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) às gravações.

O filho do presidente havia mostrado os arquivos em vídeo divulgado nas redes sociais e alegou que não havia registros da ligação mencionada pelo porteiro à polícia. Segundo os líderes da Oposição no Congresso, é "fundamental" investigar as condições de tal acesso.

"Os dados aos quais Carlos Bolsonaro teve acesso são resguardados por sigilo, por conterem informações relativas à privacidade dos demais condôminos", escrevem os parlamentares.

Os líderes haviam indicado que acionariam a Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, sob a alegação de que o presidente cometeu "obstrução de Justiça", ao "ter se apropriado de provas relacionadas às investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes".

No documento, os parlamentares também mencionam os recentes desdobramentos do caso Marielle, chamando atenção para a perícia dos áudios feita pela Promotoria do Rio. Os líderes da oposição destacam que o procedimento foi feito pelo próprio Ministério Público, e não pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli.

O jornal O Estado de S. Paulo havia mostrado que a perícia foi finalizada em menos de duas horas e meia. Ao solicitar a perícia, a promotoria também ignorou possíveis adulterações nos arquivos em si, como exclusões ou renomeações. Apenas os áudios de interfone foram periciados - a fim de atestar que foi Ronnie Lessa, não Bolsonaro, quem autorizou a entrada de Elcio Queiroz no condomínio no dia do crime.

Na avaliação de Randolfe e Molon, a perícia teria sido realizada em circunstâncias que "chamam a atenção": "perguntas à perícia teriam sido protocoladas às 13h05 e a coletiva se iniciou às 15h30; quesitos de uma perícia de 3 meses de gravação teriam sido respondidos em menos de 3 horas; técnicos não teriam tido acesso ao computador ou ao sistema, mas exclusivamente às gravações, o que impediria saber se arquivos foram adulterados ou renomeados".

Os parlamentares ainda completam: "Não teria havido nem mesmo a conferência da voz do porteiro."

O ofício aponta que não houve apreensão do sistema de áudio e do computador do Condomínio Vivendas da Barra, por causa da citação ao nome do presidente, que detém foro por prerrogativa de função.

"Para se chegar à verdade real dos fatos, é necessária uma investigação criteriosa e baseada em provas sobre as quais não haja dúvidas. Os elementos acima suscitam as mais diversas indagações acerca das provas e das conclusões a se tirar delas", escrevem os parlamentares.

No texto, Randolfe e Molon pedem ainda que seja garantida a possibilidade de nomeação de assistente técnico pela família das vítimas.

Os últimos eventos no caso Marielle

A citação ao presidente no depoimento de um porteiro do condomínio, revelada por reportagem do Jornal Nacional veiculada na terça-feira, 29, gerou diferentes desdobramentos na investigação do caso Marielle.

Segundo o porteiro, antes do assassinato da vereadora e do motorista, o ex-PM Elcio Queiroz, suspeito de participação no crime, teria dito que iria à casa 58 - que pertence ao presidente.

De acordo com depoimento, uma ligação teria sido feita para a casa 58 e que "seu Jair" atendeu o telefone e autorizou a entrada. Ainda segundo o porteiro, Elcio Queiroz seguiu para a casa de Ronnie Lessa, outro suspeito do assassinato. No entanto, registros da Câmara dos Deputados mostram que, no dia do assassinato de Marielle, Bolsonaro estava em Brasília.

A citação provocou forte reação de Bolsonaro que, durante viagem ao Oriente Médio, usou as redes sociais para rebater a acusação e anunciar que acionaria o ministro da Justiça, Sergio Moro, para que a Polícia Federal realizasse uma nova oitiva com o porteiro.

Horas depois, Moro pediu à Procuradoria-Geral da República que investigasse a "tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro na investigação. O pedido foi prontamente aceito por Aras.

No dia seguinte à reportagem, o Ministério Público do Rio, numa entrevista coletiva, afirmou que o porteiro mentiu no depoimento. Mais cedo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, que mostrou ter acesso aos arquivos indicando que não havia registros da ligação mencionada pelo porteiro à polícia.

Após a coletiva, foi revelado que uma das integrantes do MP que participaram da entrevista coletiva, Carmen Bastos de Carvalho, fez campanha para Bolsonaro, e, na sexta-feira, 1, diante da repercussão negativa, ela deixou as investigações da morte de Marielle e do motorista.

A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol Brasil) e outras entidades da categoria repudiaram hoje, em nota, as declarações do presidente Jair Bolsonaro em relação à investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. Ontem, Bolsonaro disse a jornalistas que o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro seria "amiguinho" do governador do Estado, Wilson Witzel, e insinuou que o governador estaria manipulando as investigações do crime cometido em março do ano passado para envolver o nome do presidente. Os dois devem se enfrentar na disputa presidencial em 2022. "A minha convicção é de que ele (Witzel) agiu no processo para botar meu nome lá dentro", afirmou o presidente durante a compra de uma moto no feriado de Finados, em Brasília.

Dias antes, Bolsonaro havia afirmado que soube por Witzel que seu nome estava envolvido no processo de investigação da morte de Marielle e Anderson, depois que o porteiro do condomínio onde tem casa no Rio, o Vivendas da Barra, ter informado no processo que o suspeito de matar a vereadora teria procurado por Bolsonaro no dia do crime. O presidente, porém, estava em Brasília no dia e nega qualquer envolvimento com o crime.

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Ontem, Bolsonaro também afirmou que obteve os áudios das ligações feitas entre a portaria e as casas do condomínio antes que elas fossem adulteradas, causando a reação de parlamentares da oposição, que pretendem acionar o presidente na Procuradoria Geral da República (PGR) por obstrução de Justiça.

A associação dos delegados destaca que o cargo de chefe do executivo não dá o direito a Bolsonaro de cometer "atentados à honra das pessoas", principalmente das que desempenham funções no interesse da sociedade e não de qualquer governo. "Valendo-se do cargo de Presidente da República e de instituições da União, claramente ataca e tenta intimidar o Delegado de Polícia do Rio de Janeiro, com intuito de inibir a imparcial apuração da verdade", diz a nota da Adepol.

As entidades reafirmam o apoio irrestrito ao delegado responsável pela investigação e repudiam qualquer intimidação a ele e ao trabalho da Polícia Judiciária. Além da Adepol do Brasil, assinam a nota a Fendepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Civil do Polícia Civil), o Sindelpol-RJ (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro), o Sindepol-AM Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Amazonas) e a Adepol-PA (Associação dos Delegados de Polícia do Pará).

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