Os debates envolvendo as cotas no ensino superior esbarram sempre em duas questões principais: a capacidade dos alunos acompanharem o ritmo das aulas e a possível queda na qualidade do ensino. Pioneira a adotar o sistema de cotas no acesso à educação pública no ensino superior, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) elaborou um relatório de desempenho acadêmico que avaliou os estudantes entre os anos de 2004, quando as cotas foram implantadas, e de 2010, ano de formação da primeira turma dentro do novo modelo.
A instituição analisou a trajetória dos alunos do primeiro ano do curso de Estatística, para avaliar se os requisitos básicos adquiridos no Ensino Médio foram suficientes para o desempenho universitário. Das cinco disciplinas consideradas essenciais na formação acadêmica, em quatro delas os alunos cotistas obtiveram índice de aprovação superior ao dos não cotistas. O relatório mostrou que o grande desafio para os alunos cotistas não está relacionado à defasagem no ensino, mas sim à evasão escolar.
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Por isso, desde 2004 a Uerj mantém o Programa de Iniciação Acadêmica (Proiniciar), uma estratégia com o objetivo principal de apoiar a permanência do estudante cotista na instituição. O programa é subordinado à Sub-reitoria de Graduação, e desenvolve projetos de apoio acadêmico e financeiro.
Gerenciado pelo Departamento de Desenvolvimento Acadêmico e Projetos de Inovações (Deapi), oferece auxílio como a bolsa-permanência no valor de R$ 300 e a distribuição de livros didáticos. O programa traz ainda opções de cursos extraclasse, como reforço escolar em matérias como português, matemática e língua estrangeira, e também as chamadas "atividades instrumentais", cursos modulares de 30 horas nas três grandes áreas do conhecimento, além de oficinas culturais e projetos de ensino, pesquisa e extensão.
O Senado aprovou terça-feira projeto de lei que prevê que 50% das vagas em universidade federais sejam reservadas para quem cursou o ensino médio integralmente em escolas públicas, unificando assim a divisão das vagas por cotas sociais e raciais. O texto vai ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff em até 15 dias e passará a valer assim que for publicado. As universidades federais terão até quatro anos para se adaptar às novas regras.
A Uerj reserva 20% de suas vagas para estudantes negros e indígenas, 20% para alunos egressos da rede pública de ensino e 5% a pessoas com deficiência e a filhos de policiais civis, militares, bombeiros militares e inspetores de segurança e administração penitenciária que tenham sido mortos ou incapacitados em razão do serviço. O critério é cumulativo ao da análise socioeconômica de restrição de renda familiar. Por isso, o vestibulando deve ainda comprovar ser aluno carente.
Desde a implementação do sistema, 7.059 alunos já ingressaram na Uerj por meio das cotas. Desse total, 2.131 alunos concluíram a graduação e 1.462 abandonaram ou desistiram do curso. Atualmente, 3.466 alunos cotistas estão vinculados à Uerj. A primeira turma com alunos admitidos pelo sistema de cotas formou-se em 2010.