As áreas urbanas de todo o mundo tiveram consideráveis aumentos das ondas de calor nos últimos 40 anos, de acordo com um novo estudo publicado nesta sexta-feira (30). Períodos prolongados de dias extremamente quentes cresceram em mais de 200 áreas urbanas de todos os continentes entre 1973 e 2012, intensificando-se nos últimos anos.
A pesquisa, que teve seus resultados publicados na revista científica Environmental Research Letters, mostra que no mesmo período, mais da metade das áreas estudadas mostraram um aumento significativo do número de dias extremamente quentes isolados. Em quase dois terços dos casos, houve também aumento importante das noites extremamente quentes.
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As ondas de calor, na definição dos pesquisadores, são períodos em que, por seis ou mais dias consecutivos, a temperatura máxima diária é maior que em 99% dos dias entre 1973 e 2012.
De acordo com os autores, o estudo foi o primeiro dedicado exclusivamente aos eventos climáticos extremos em escala global e a examinar disparidades entre áreas urbanas e não urbanas. A equipe inclui cientistas do Instituto Indiano de Tecnologia (IIT) Gandhinagar e da Universidade Northeastern, da Universidade Califórnia em Los Angeles e da Universidade de Washington (todas dos EUA).
Os pesquisadores trabalharam com registros do Centro Nacional de Dados Climáticos (NCDC, na sigla em inglês), que envolvem observações diárias de índices de chuvas, de temperatura do ar e velocidade do vento.
De acordo com o coordenador do estudo, Vimal Mishra, do IIT, os resultados mostram aumento generalizado das ondas de calor e do número de dias e noites quentes, além de declínio das ondas de frio e dos ventos extremos. "Mais da metade da população mundial vive hoje em áreas urbanas. Por isso é especialmente importante entender como o clima e os extremos climáticos, em particular, estão mudando nessas áreas", disse Mishra.
O pesquisador considera surpreendente que existam tão poucos estudos com foco nas mudanças climáticas extremas nas cidades. "As áreas urbanas correspondem a uma parte relativamente pequena da área terrestre do planeta e são centros de riqueza, de modo que danos à infraestrutura urbana poderiam resultar em imensas perdas econômicas", declarou.
No estudo, os cientistas identificaram mais de 650 áreas urbanas do planeta com populações acima de 250 mil habitantes e, depois, selecionaram 217 cidades, usando como critério a proximidade com as estações mantidas pelo NCDC e a disponibilidade de registros climáticos completos.
A maior parte das 217 estações com registros completos do período entre 1973 e 2012 se situa em aeroportos próximos de áreas urbanas. Depois de obter os dados, os cientistas identificaram extremos de temperatura, chuvas e vento e calcularam as ondas de calor, ondas de frio e a ocorrência de dias e noites isoladas de calor extremo.
Os resultados mostraram que houve aumento estatístico significativo no número de ondas de calor por área urbana nas últimas quatro décadas. Dos cinco anos que tiveram o maior número de ondas de calor, quatro ocorreram nesta década: 2009, 2010, 2011 e 2012.
Os resultados também mostraram um declínio geral das ondas de frio. Cerca de 60% das áreas urbanas tiveram um declínio considerável dos dias com ventos extremos. Cerca de 17% das áreas urbanas tiveram aumento das chuvas extremas e aproximadamente 10% delas tiveram aumento do máximo anual de precipitação.