O policial demitido de Minneapolis que matou um homem afro-americano algemado após se ajoelhar sobre seu pescoço durante uma abordagem foi denunciado nesta sexta-feira (29) de homicídio, informaram os promotores.
"O ex-policial de Minneapolis, Derek Chauvin, foi acusado pela procuradoria do condado de Hennepin por assassinato e homicídio culposo", disse o procurador do condado, Mike Freeman, a jornalistas, especificando que a denúncia foi de homicídio preterdoloso ('third degree murder', em inglês), quando a morte da vítima resulta da prática de outro crime.
Chauvin é um dos quatro agentes demitidos após a divulgação do vídeo que mostra a imobilização e prisão de George Floyd na segunda-feira por supostamente pagar uma loja usando uma nota falsa de US$ 20.
Segundo o vídeo, Floyd, que estava algemado e deitado no chão, foi imobilizado na rua por Chauvin, que apoiou o próprio joelho sobre o pescoço do homem por ao menos cinco minutos.
Essas imagens culminaram em protestos carregados de revolta em Minneapolis, para onde centenas de tropas foram enviadas na manhã desta sexta-feira, após a terceira noite de manifestações.
- Continuação dos protestos -
A brutalidade policial contra a comunidade negra também gerou protestos em outras cidades dos EUA.
Após atos antirracistas realizados de Nova York a Phoenix, o presidente Donald Trump criticou as autoridades locais, chamou os manifestantes de "bandidos" e ameaçou uma forte repressão.
"Esses ASSASSINOS estão desonrando a memória de George Floyd e não vou deixar que isto aconteça. Acabo de falar com o governador (de Minnesota), Tim Walz, e lhe disse que o Exército está completamente ao seu lado. Diante de qualquer dificuldade, assumiremos o controle mas, quando começar o saque, começará o tiroteio", tuitou.
O Twitter ocultou o tuíte, assim como o próprio texto publicado depois na conta da Casa Branca, alegando que violava a política da rede social contra a apologia à violência.
A rede social permitiu, no entanto, que os usuários pudessem acessar o texto, em razão do "interesse público".
Trump disse ter conversado nesta sexta com familiares de George Floyd.
"Falei com membros da família, gente excelente", declarou o presidente na Casa Branca.
Após ser criticado pelas postagens em que denegriu os manifestantes, Trump moderou o tom e disse apoiar os protestos pacíficos.
No entanto, advertiu: "não podemos permitir que uma situação como a que ocorreu em Minneapolis leve a mais anarquia e a um caos sem lei".
"Entendo a dor, entendo a dor. Essa realmente passou por muita coisa. A família de George tem direito à justiça e o povo de Minnesota tem o direito de viver a salvo", afirmou.
O ex-presidente Barack Obama, o primeiro negro a chegar à Casa Branca, disse compartilhar da "angústia" de milhões de pessoas pela morte de Floyd e que o racismo "não deveria ser 'normal' nos Estados Unidos de 2020. Não pode ser normal".
"As pessoas estão irritadas porque se sentem frustradas porque esse não é o primeiro assassinato policial já visto no país", declarou Al Sharpton, famoso ativista pelos direitos raciais, em entrevista à MSNBC.
Joe Biden, candidato democrata da Casa Branca e ex-vice de Obama, denunciou a "ferida aberta" do "racismo institucional" nos EUA, e indiretamente fez menção à Trump.
"Agora não é o momento para incentivar a violência", disse. "Precisamos de uma liderança forte, um líder que conduza ao diálogo", finalizou.
- Delegacia em chamas -
O prefeito de Minneapolis Jacob Frey declarou nesta sexta um estrito toque de recolher na cidade americana após três noites de distúrbios.
Jacob Frey determinou que todas as pessoas esvaziem as ruas das 20h (22h de Brasília) às 6h, exceto membros da Polícia e da Guarda Nacional, deslocada para manter a paz, assim como o corpo de bombeiros e pessoal médico.
Na madrugada de quinta para sexta-feira, manifestantes romperam as barreiras policiais e tomaram a delegacia de Minneapolis, onde estavam os quatro policiais envolvidos na morte de Floyd. Um incêndio logo tomou conta da estrutura.
A Guarda Nacional do estado anunciou que 500 soldados foram enviados na manhã desta sexta a Minneapolis e para a cidade vizinha de St. Paul para restaurar a ordem, sinalizando que a ira dos moradores não está se dissipando.
"Nossas tropas são treinadas para proteger a vida, preservar propriedades e garantir o direito das pessoas de se manifestarem pacificamente", disse o general Jon Jensen, da Guarda Nacional de Minnesota.
Uma equipe da CNN que transmitia os protestos foi detida pela polícia durante uma transmissão ao vivo, mas depois foi liberada. A emissora de televisão disse que o governador Walz havia se desculpado pelo que aconteceu depois de emitir uma declaração condenando o comportamento dos policiais.
- "Optem pela paz" -
Os protestos pela morte de Floyd eclodiram em várias cidades do país, incluindo Nova York, onde dezenas de manifestantes foram presos; mas também em Phoenix, Memphis e Denver.
Em Louisville, Kentucky, sete pessoas relataram ferimentos por tiro em um protesto na quinta-feira sobre a morte de Breonna Taylor, uma mulher negra que foi baleada quando a polícia entrou em sua casa em março.
Um dos feridos estava em estado crítico, de acordo com a polícia de Louisville. Ainda não está claro quem fez o disparo.
A polícia pediu aos manifestantes que "optassem pela paz", transmitindo uma mensagem de vídeo de um membro da família de Taylor pedindo aos que estavam nas ruas "que voltem para casa e estejam seguros e prontos para continuar lutando".
Mais protestos são esperados no país na sexta-feira, inclusive na capital federal Washington e em Houston, onde a família de Floyd mora.