O Rio se despediu neste domingo (19) de seus surpreendentes e bem sucedidos Jogos Paralímpicos com festa e música, mas enlutados pela morte de um ciclista iraniano no penúltimo dia de competição. O Maracanã voltou a ficar lotado, com os paratletas sentados no gramado enquanto os fogos de artifício anunciavam o início do adeus.
Entre os primeiros artistas a se apresentar estava Johnathan Bastos, um brasileiro que nasceu sem braços, o que não o impediu de se transformar num reconhecido músico. Ele interpretou um incrível solo de violão com os pés.
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Depois foi a vez de Ricardinho, astro da seleção brasileira de futebol de 5 para deficientes visuais, que fez o Maracanã ficar de pé portando a bandeira nacional. E, como na abertura, também houve tempo para a polêmica. Desta vez foi um músico da banda Nação Zumbi, que mostrou para as câmeras a parte de trás de seu violão onde se lia a frase "Fora Temer".
Além disso, a despedida paralímpica, com que o Brasil põe fim ao ciclo de grandes eventos realizados nos últimos anos, não foi só festa.
No sábado, o atleta iraniano Bahman Golbarnezhad, de 48 anos, faleceu durante a prova de ciclismo de estrada, manchando com o luto o final dos Jogos.
O primeiro falecimento registrado durante Jogos Paralímpicos deixou o movimento "unido na dor", segundo descrição do presidente do Comitê Internacional (CPI), Philip Craven, durante seu discurso. No domingo podia ver-se a meio mastro tanto a bandeiro Paralímpica como a iraniana, enquanto a cerimônia respeitou um minuto de silêncio em homenagem ao atleta falecido.
Como nos Jogos de Londres-2012, a China foi a grande vencedora no Rio com 239 medalhas (107 de ouro), muito à frente de Grã-Bretanha, Ucrânia, Estados Unidos e Austrália, que completaram o top 5. Apesar de bater o recorde pessoal de medalhas, o Brasil terminou na oitava colocação, longe da meta de ficar entre os cinco maiores países paralímpicos.
Nesta edição dos Jogos foram batidos 103 recordes mundiais, diminuindo ainda mais a fronteira entre o olimpismo e o paralimpismo.
- Contra os pronósticos -
Entre as emoções da final de uma aventura que começou há sete anos, quando o Rio foi eleito sede dos Jogos, também pairava no ar o alívio da organização ao provar equivocados todos os prognósticos de que o evento seria um fracasso.
"Missão cumprida", afirmou Carlos Nuzman, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio.
Em relação à instabilidade política -responsável pela polêmica destituição da ex-presidente Dilma Rousseff em 31 de agosto- e a severa recessão econômica que assola o Brasil há meses, Nuzman admitiu que foi "uma missão repleta de muitas dúvidas".
Antes de declarar encerrados os Jogos, com Tóquio tomando o bastão para 2020, Craven afirmou que o Brasil havia conseguido superar uma prova complicada. "Estes Jogos apontam claramente para um futuro muito brilhante desta jovem e maravilhosa nação", afirmou.
Uma forte preocupação precedeu os primeiros Jogos Paralímpicos da América Latina, que à complexa conjuntura brasileira somaram-se as dificuldades financeiras da organização e o veto à Rússia, impedida de participar devido ao gigantesco escândalo de doping estatal.
Mais cedo, Craven afirmou que a Rússia precisará de uma "mudança importante" para ser readmitida nas competições paralímpicas. Mas, contra todos os prognósticos, os Jogos foram um sucesso.
Há um mês, somente haviam sido vendidos cerca de 12% dos ingressos para assistir às competições. Finalmente, foram vendidos mais de 2,1 milhões de ingressos dos 2,5 milhões disponíveis. Uma marca superada apenas pelos Jogos de Londres-2012.
Ao contrário do que aconteceu nos Jogos Olímpicos, nos quais alguns estádios apresentavam partes das arquibancadas vazias devido aos altos preços dos ingressos, as Paralimpíadas se tornaram um plano atrativo e barato (entre 10 a 20 reais o ingresso) para muitas famílias brasileiras.
Tanto que no último sábado foi batido o recorde de público registrado em uma rodada de Jogos Olímpicos (153.000 pessoas), com mais de 170.000 pessoas presenciando o dia de competições.
- Fim de festa para o Brasil -
Ao apagar a pira olímpica no Rio, se extinguiu também o ciclo de grandes eventos que fizeram o mundo virar as atenções para o Brasil.
Ficam para trás a Copa do Mundo e a Copa das Confederações de futebol, o congresso da ONU sobre o meio-ambiente Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude com o papa Francisco, além dos Jogos Olímpicos. Todos concentrados num período de quatro anos e sob a sombra das dúvidas, dos atrasos e do repúdio popular em protestos nas ruas, mas que acabaram sendo um grande sucesso.
A conta da organização dos Jogos (Olímpicos e Paralímpicos) terá custado 2,8 bilhões de dólares, uma quantia prevista desde 2009, garantiu o Comitê. Acabada a festa, resta ao Brasil olhar-se no espelho para tentar reencontrar a força que o fez conquistar o mundo na última década.