As provas de vestibular, e principalmente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), costumam cobrar temas associados ao cotidiano das pessoas. Expressões artísticas, movimentos e manifestações populares são assuntos recorrentes e um tema atual, que tem tudo a ver com esta época carnavalesca, é o Manguebeat.
O assunto tem muito de literatura, história, geografia e sociologia. Pode ser cobrado em qualquer uma dessas provas e é preciso ter cuidado para entender o que acontecia no Brasil no período e saber fazer associações com outros assuntos.
##RECOMENDA##Quando surgiu em Pernambuco, a partir do início dos anos 90, o Manguebeat tinha intenção de ter algo novo, diferente das produções realizadas em outras cidade como São Paulo e Brasília, que explodiam em bandas de rock e influências americanas. O novo estilo musical, comportamental e social, misturava elementos da cultura regional pernambucana, com o maracatu rural, antes marginalizado, unindo tudo ao rock e ao hip hop.
Voltando um pouco no tempo, o modernismo no Brasil traz, junto com a semana de arte moderna de 1922, toda uma ideia de brasilidade, de resgate da arte e da cultura nacional, fortalecida pelo manifesto antropofágico, que nada mais era do que a sugestão de se devorar a cultura, principalmente a européia, que influenciava as artes da época e depois “regurgitar” um novo produto, com características voltadas à realidade brasileira, mas sem perder as influências originais.
O Manguebeat se lança também com a publicação de um manifesto, assim como o período modernista, escrito pelo cantor Fred Zero Quatro, em 1992. Intitulado “Caranguejos com cérebro”, o texto explica o que seria o movimento, destrinchando sua nomenclatura e significações. Confira um trecho:
Mangue, a cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.
Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Confira no vídeo abaixo a explicação do Professor de Literatura Tales:
Os principais idealizadores da cena mangue do Recife foram Chico Science, Fred Zero Quatro, Renato L, Mabuse e Héder Aragão, entre outros como Otto e os integrantes da Nação Zumbi, banda que junto com Chico colocou o Manguebeat na história da música brasileira. Etimologicamente falando, a palavra vem de ‘mangue’, ecossistema presente em boa parte do litoral nordestino e ‘beat’, de batidas, em inglês. As músicas criticam a destruição desse ambiente, que é fundamental para sobrevivência de muitas espécies, sobretudo o caranguejo, que nas letras de Science ganharam personificação.
Com música rica em crítica, o movimento apresenta o crescimento urbano como causador das mazelas econômicas e sociais, apresentando a degradação dos mangues e os aterramentos desenfreados como causadores das desigualdades. Leia neste trecho do manifesto: “Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano”.
Confira agora uma explicação voltada à matéria de geografia, com o Professor Benedito Serafim: