Tópicos | Operação Tergiversação

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, recebeu na tarde de segunda, 16, denúncia contra os delegados da Polícia Federal Wallace Fernando Noble Santos Soares e Lorenzo Martins Pompilio da Hora no âmbito da Operação Tergiversação, que revelou a existência de uma organização criminosa na Superintendência da PF do Rio que pedia propinas em troca de 'proteção' em investigações. Segundo o Ministério Público Federal, os delegados teriam mesadas de R$ 5 mil para beneficiar empresários envolvidos no esquema. Além disso, Wallace teria recebido R$ 480 mil para atuar no arquivamento de um inquérito.

A dupla é acusada dos crimes de corrupção, lavagem de ativos e organização criminosa, assim como os empresários Marcelo Freitas Lopes, Durival de Farias, Dulcinara de Farias e Victor Duque Estrada Zeitune. O delator Marcelo Guimarães, apontado como principal operador do esquema criminoso também foi denunciado.

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Segundo a Procuradoria, o esquema denunciado teve início nas investigações das Operações Titanium (fraudes envolvendo a Gerência de Saúde dos Correios) e Viupostalis (fraudes envolvendo o Postalis).

"Os agentes públicos envolvidos evitavam que as apurações em curso alcançassem os empresários que aceitassem efetuar o pagamento de valores vultuosos de propina para o grupo criminoso. Esses agentes ainda tinham a incumbência, em alguns casos, de atuar em favor dos empresários, intercedendo junto a delegados que presidissem outras investigações que pudessem alcançá-los para novamente evitar que fossem revelados os crimes praticados pelos empresários parceiros", explicou o MPF em nota.

No entanto, ao longo das apurações, os investigadores constataram que o esquema não só envolvia a cobrança de propinas em casos específicos, mas uma 'atuação geral' dos delegados também em investigações em curso, até recebendo 'mesadas' 'para atuar como se fossem verdadeiros funcionários dos corruptores, recebendo uma espécie de salário para revelar informações sigilosas relacionadas a inquéritos e operações policiais e para atuar na proteção dos empresários caso houvesse investigações em seu desfavor na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro e até em outras delegacias'.

R$ 480 mil em propina

O primeiro crime narrado na denúncia trata de propina de R$ 480 mil paga pelos sócios das empresas Especifarma Comercio de Medicamentos e Produtos Hospitalares e Merriamfarma Comercio de Produtos Farmacêuticos Ltda ao delegado Wallace Noble para que este atuasse no sentido de finalizar as investigações em um inquérito em curso na Delegacia de Polícia Federal de Volta Redonda.

Segundo a Procuradoria, o delegado 'efetivamente praticou e omitiu atos de ofício com infração de deveres funcionais, ao colher depoimentos e realizar diligências de forma direcionada exclusivamente a atender aos interesses dos empresários e a viabilizar o arquivamento do inquérito policial citado, e ao deixar de avançar nas investigações acerca de suposto crime de fraude à licitação envolvendo as referidas empresas, conduzindo o IPL ao seu efetivo arquivamento e evitando a real apuração '.

Com relação a tal episódio, a Procuradoria ainda detalha crimes de lavagem de dinheiro, em razão da 'simulação de serviços advocatícios como forma de repassar valores de propina com aparência de licitude'.

Mesadas

Além dos R$ 480 mil em propinas recebidos por Wallace, o MPF aponta que o delegado e seu colega, Lorenzo Pompílio, receberam 'mesadas' por parte do empresário Marcelo Freitas Lopes e do colaborador, Marcelo Guimarães.

No caso de Wallace, houve um momento em que os valores de propina foram foram substituídos pela cessão de um imóvel de propriedade da família do primeiro empresário, no qual o delegado residiu sem pagar aluguel.

"A peça descreve ainda como o Delegado Lorenzo Pompílio e o colaborador promoveram a instauração fraudulenta de um inquérito policial para atender aos interesses do empresário, trazendo trechos de conversas e trocas de e-mails que comprovam as tratativas entre eles nos dias anteriores à instauração do inquérito", frisa a Procuradoria.

Os investigadores apontam ainda que as apurações prosseguem quanto a outros atos de corrupção envolvendo os denunciados e crimes relacionados a outras empresas e outros empresários, que serão objeto de outras denúncias.

COM A PALAVRA, OS RÉUS

Até a publicação desta matéria, a reportagem buscou contato com os réus, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.

A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) deflagraram, nesta quinta-feira (15), a 2ª fase da Operação Tergiversação que, em junho do ano passado, desarticulou uma organização criminosa acusada de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, organização criminosa e obstrução à Justiça. Segundo a PF, elementos colhidos no curso das investigações apontam que o esquema movimentou cerca de R$ 10 milhões.

Na manhã desta quinta, os agentes cumpriram dois mandados de prisão preventiva e executam outros 33 de busca e apreensão, todos expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, contra servidores públicos federais e estaduais, empresários e advogados. Entre os alvos das buscas estão os advogados João de Baldaque Danton Coelho Mestieri e Rafael da Silva Faria.

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Nesta nova fase, a investigação mira em outros empresários que participaram do suposto esquema de pagamento de propina para policiais federais em troca de proteção nas investigações realizadas em operações e em advogados que atuaram como intermediários das cobranças de vantagens indevidas dos empresários e ficavam com uma parcela dos valores pagos. A organização criminosa atuava dentro da Superintendência da PF do Rio, segundo apontaram a própria Polícia Federal e o MPF.

Os inquéritos sob suspeita, em que agentes teriam recebido propinas, estão relacionados às Operações Titanium (fraudes envolvendo o Plano de Saúde dos Correios) e Viupostalis/Recomeço (fraudes envolvendo o Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios), que eram conduzidas pelo delegado de Polícia Federal Lorenzo Pompílio da Hora, com o apoio do escrivão Éverton da Costa Ribeiro, lotados à época no Núcleo de Repressão a Crimes Postais da Delepat/RJ. Ambos chegaram a ser denunciados na primeira fase da operação.

As investigações que levaram à nova etapa da Tergiversação, desenvolvidas em conjunto pela PF e o MPF, tiveram como base as quebras de sigilo dos investigados, o material colhido nas buscas e apreensões no ano passado e dois acordos de colaboração premiada.

O desembargador Marcello Granado, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), soltou o delegado da Polícia Federal Lorenzo Martins Pompílio da Hora, preso na Operação Tergiversação - investigação que mira em suposto esquema de propinas que variavam de R$ 400 mil a R$ 1,5 milhão dentro da sede da PF no Rio. Na decisão, o magistrado afirmou estar "convencido da possibilidade de aplicação de medidas diversas da prisão".

Granado suspendeu o delegado das funções exercidas na Polícia Federal e o proibiu de frequentar endereços da instituição "e também de manter contato com todos os investigados e corréus, parentes e afins destes, incluindo as pessoas jurídicas citadas nos processos originários".

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"Não se afigura presente elemento caracterizador de risco à ordem pública no caso do paciente", afirmou o desembargador. "E quanto ao motivo conveniência da instrução criminal, considerando o estágio avançado do inquérito policial, entendo adequada e suficiente à preservação da prova a imposição ao paciente de restrições cautelares pessoais e, portanto, desnecessária, a restrição absoluta à sua liberdade."

A Tergiversação foi deflagrada no dia 11 de junho, e apura propina cobrada "em razão da função exercida (pelo delegado e pelo escrivão) na condução de inquéritos policiais em curso na Polícia Federal".

A investigação mira no delegado federal, em um escrivão da PF e em "demais agentes criminosos a estes relacionados".

Os inquéritos estão relacionados às Operações Titanium (fraudes envolvendo o Plano de Saúde dos Correios) e Viupostalis/Recomeço (fraudes envolvendo o Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios), que eram conduzidas pelo delegado de Polícia Federal Lorenzo Pompílio da Hora, com o apoio do escrivão Éverton da Costa Ribeiro, lotados à época no Núcleo de Repressão a Crimes Postais da Delepat/RJ.

Uma das provas da operação é uma conversa de WhatsApp entre o delegado e o operador Marcelo Guimarães. No diálogo "possivelmente para repasse de valores, segundo o Ministério Público Federal, o delegado se diz "muito exposto no local" e pede rapidez.

O Ministério Público Federal afirma que o material foi obtido por meio da quebra do sigilo telemático. Segundo a Procuradoria, o diálogo "comprova a relação espúria entre o delegado Lorenzo Pompílio da Hora e o operador Marcelo Guimarães.

"Na conversa Marcelo Guimarães e Lorenzo combinam de se encontrar pessoalmente, possivelmente para repasse de valores pelo operador ao delegado ou para discutir diretamente detalhes da apuração que vinha sendo realizada pela Corregedoria da Polícia Federal. Lorenzo afirma que já está no local combinado, e pede para que Marcelo Guimarães não demore, pois está 'muito exposto no local', evidenciando se tratar de encontro com finalidades nitidamente ilícitas", relatam os investigadores.

Segundo a Procuradoria, as apurações apontaram que Lorenzo e Éverton "solicitaram e receberam vultosos valores de vantagens indevidas para evitar a exposição na mídia de investigados e potenciais investigados e favorecê-los nas apurações conduzidas por eles quanto às irregularidades no Postalis e no Plano de Saúde dos Correios".

Anda segundo a Procuradoria, o delegado e o escrivão "contavam com a atuação dos operadores Marcelo Guimarães e Rosalino Felizardo de Santanta Neto, os principais intermediários da organização criminosa, que usavam seus contatos para se aproximar de potenciais investigados e solicitar desses o pagamento de vantagens indevidas, além de viabilizar o recebimento de valores de propina e as operações de lavagem de dinheiro".

Os pagamentos, que variaram, segundo a investigação, de R$ 400 mil a R$ 1,5 milhão, eram feitos na maior parte das vezes em dinheiro, mas em alguns casos foram repassados por meio de transferências a empresas ligadas aos operadores Marcelo e Rosalino.

O Ministério Público Federal informou que foi identificada ainda a participação do empresário e operador João Alberto Magalhães Cordeiro Júnior e de Sancler Miranda Costa no grupo criminoso, que contou ainda com a atuação de Pedro Henrique Moreira Fernandes e de Luís Henrique do Nascimento Almeida, que "movimentaram recursos em espécie em favor do grupo e atuaram como 'laranjas' de alguns investigados".

O Ministério Público Federal sustenta que "há indícios de que o esquema criminoso envolveu outros agentes públicos e que não se limitou às investigações apontadas".

Defesas

A reportagem tenta localizar todos os citados. O espaço está aberto para as manifestações de defesa.

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