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Conhecida como a 'nova Cracolândia', a Praça Princesa Isabel, no bairro Campos Elíseos, zona central da capital paulista, recebeu nesta segunda-feira (4) a primeira grande limpeza realizada pela Prefeitura desde que o local viu o fluxo de usuários de drogas aumentar de forma significativa. Há cerca de duas semanas, ocorreu a poucas quadras dali uma dispersão da antiga Cracolândia, nos arredores da Praça Júlio Prestes, a mando do tráfico de drogas.

Por volta de 8h desta segunda-feira, dezenas de viaturas da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar chegaram ao local para dar suporte a funcionários da limpeza urbana da Prefeitura. Eles, então, passaram a limpar a praça e a remover parte das barracas dispostas no local. Recorridas pela população de rua como forma de proteção ao longo dos últimos anos, as tendas também são usadas para esconder transações em espaços de tráfico de drogas.

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Conforme comerciantes da região, não houve conflitos durante a ação de higienização. A limpeza teria começado logo pela manhã e mais de dez caminhões da Prefeitura teriam retirado barracas da praça até por volta de 11h, quando o fluxo de servidores da limpeza urbana diminuiu. Anteriormente, a rotina de limpezas era frequente na Praça Júlio Prestes, mas não na Praça Princesa Isabel, relatam os comerciantes.

Após a remoção de parte das tendas, permaneceram no local algumas viaturas e um caminhão-pipa para limpeza da Princesa Isabel. Um ônibus da Polícia Militar também foi estacionado na praça.

Comerciante em uma lanchonete nos arredores da Princesa Isabel há cerca de quatro anos, Jeová Martins, de 43 anos, relata que a situação está desanimadora. "Estou até pensando em entregar o ponto", diz. Ele relata que, na comparação com antes da pandemia e do fluxo de usuários da Cracolândia ter migrado para a praça, o movimento na lanchonete caiu pela metade. "A pandemia deu uma amenizada, mas aí veio esse problema aí", diz Jeová, em alusão aos usuários.

"Atrapalhou bastante, o movimento caiu muito. Onde tem usuário, o pessoal fica com medo de ser assaltado", diz o vendedor Aldo da Silva, de 32 anos. Ele calcula que, desde que houve a dispersão do antigo ponto da Cracolândia, o movimento no mercado onde trabalha há dois anos, na Avenida Rio Branco, caiu cerca de 30%.

Segundo ele, por não ter havido conflito, o comércio nos arredores da praça não fechou na manhã desta segunda, mas o clima geral é de desânimo. "Só tem moradores daqui mesmo, as pessoas de fora não vêm para cá mais. Muito comerciante foi embora", diz Aldo, que acrescenta que a sensação de insegurança aumentou nas proximidades da praça.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo informou ter retirado durante a ação de zeladoria realizada nesta segunda pelo menos 35 toneladas de lixo e materiais de uso permanente da Praça Princesa Isabel. Segundo a pasta, 12 caminhões foram carregados com madeira, lonas e sofás, que estavam montados em local público durante as primeiras horas da ação.

A Prefeitura complementa que a ação foi realizada de acordo com as regras do decreto nº 59.246/2020, que preserva artigos de uso pessoal e coíbe a ocupação permanente de áreas públicas. A zeladoria urbana foi acompanhada por técnicos da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e precedida por mais de 1,8 mil abordagens e 230 encaminhamentos sociais e terapêuticos.

Na última semana, o governo de São Paulo inaugurou uma ligação entre a Estação da Luz - que atende as Linhas 7-Rubi, 10-Turquesa e 11-Coral da CPTM - e o estacionamento da Sala São Paulo, espaço para concertos que integra o Centro Cultural Júlio Prestes. A passagem entre os locais fica na vizinhança da Cracolândia.

Na ocasião, o então governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse ter orientado a remoção de barracas da Praça Princesa Isabel. "Onde você tem tendas, você tem o tráfico. Então, a orientação que dei ao secretário de Segurança Pública, junto com a Guarda Civil Metropolitana - porque esse é um tema da Prefeitura, não é um tema do Estado -, foi: ‘Barracas, não’", disse. "Onde você põe barraca - eu fui prefeito, eu vivi essa experiência - você tem ali os traficantes."

A cada dia que passa, uma nova Cracolândia fica mais forte na Praça Princesa Isabel, no centro da capital paulista. Entre a noite de quarta-feira (24) e a madrugada de ontem (26), o número de usuários de droga no local dobrou, de acordo com levantamento da Guarda Civil Metropolitana (GCM). E, agora, também começaram a aparecer as primeiras barracas dentro do novo "fluxo" – em um modelo parecido ao que ocorria no antigo quadrilátero da droga.

Localizada a menos de 600 metros da Cracolândia original, a Praça Princesa Isabel tornou-se o principal ponto de concentração de usuários, logo após a dispersão provocada na megaoperação policial no domingo. Na quarta, contagem da GCM apontou cerca de 300 pessoas no local, por volta das 21h30. Às 3h35 de ontem, no entanto, havia 600 usuários na praça, número próximo dos 800 que ficavam aglomerados no quadrilátero antigo.

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Anteontem, o secretário estadual da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, admitiu que a droga continuava chegando à região, embora, segundo ele, em uma escala muito menor do que antes. Para fazer entregas, traficantes usariam motocicletas. Investigação da Polícia Civil aponta, ainda, que o crack continua saindo da Favela do Moinho, a menos de um quilômetro do "fluxo", e é levado até lá por traficantes a pé.

Barracas

Cada vez mais numerosos, os usuários começaram a montar barracas na praça. Antes da operação, elas eram usadas para promover a "feira livre" da droga na Cracolândia e as "franquias" chegavam a ser comercializadas por cerca de R$ 80 mil pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que administrava os pontos. Por volta das 16h30 de ontem, 15 barracas já estavam erguidas no local.

Usadas na montagem, armações e lonas são entregues na praça por carroceiros, que descarregam o material às vistas de todos. Enquanto isso, equipes municipais de Saúde e Assistência Social circulam em busca de pessoas dispostas a se tratarem. Há, ainda, duas bases fixas da PM.

"Agora que eles subiram as barracas está igual ao que era na Dino Bueno", diz a comerciante Thaynara Christian, de 24 anos, que trabalha em um açougue na frente da Princesa Isabel.

Segundo ela, a concentração de usuários elevou a sensação de insegurança e afugentou a clientela. "Entravam umas cem pessoas por dia aqui. Nesta semana, não passou de 20. Está todo mundo com medo de passar pela porta."

Lixo

Cinco dias após a ocupação da praça, é possível ver muito lixo acumulado. Ruas próximas viraram banheiros ao ar livre. "Ninguém aguenta o fedor", diz a aposentada Marlene Francenildo, de 57 anos, vizinha da praça. "Antes, eles ficavam confinados lá. Agora, a gente fica ilhado, sem poder sair de casa à noite." Marlene conta que também aumentaram os casos de furto de fios na região. "Eles sobem no poste e cortam. Ontem (quinta), fiquei sem luz até as 13 horas."

Segundo os moradores, a concentração de usuários aumenta após as 18 horas. João Hagop Chamlian, proprietário de uma concessionária vizinha, classifica a cena como "dantesca". "A gente tem mantido os ferros para baixar as portas, porque, às vezes, eles passam correndo. O movimento, aqui, caiu 70%."

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 22 pessoas foram presas na região da Nova Luz após a operação realizada no domingo. O policiamento na região foi reforçado com 212 policiais, que se somam aos 120 que já atuavam na área.

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