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Quando era presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), no fim dos anos 1990, Luiz Antonio Barreto de Castro costumava dizer aos críticos da soja transgênica que o abordavam em audiências públicas e nas reuniões do colegiado em Brasília: "Está aqui meu RG; se alguém passar mal comendo essa soja, eu quero ser preso", conta o pesquisador, um dos pioneiros da biotecnologia no Brasil. "Estou solto até hoje."

A soja transgênica Roundup Ready (RR), da Monsanto, foi aprovada por unanimidade pela CTNBio em setembro de 1998, sob fortes críticas de entidades ambientalistas e de defesa do consumidor. Vinte anos depois, as polêmicas que cercam os alimentos geneticamente modificados persistem na opinião pública, mas não no campo. Quase 100% da produção brasileira de soja, milho e algodão agora é transgênica, com 53 milhões de hectares plantados - uma área equivalente a duas vezes o Estado de São Paulo.

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A taxa de adoção da tecnologia chegou a 92% para a soja, 87% para o milho e 94% para o algodão, o que rendeu aos produtores um lucro acumulado no período de R$ 35,8 bilhões, ligado à redução de gastos e aumento da produtividade proporcionados pela tecnologia, segundo um levantamento inédito da consultoria Agroconsult, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade.

Considerando os benefícios para a economia brasileira como um todo - incluindo na conta, por exemplo, o aumento no comércio de máquinas, insumos agrícolas, e criação de empregos -, o ganho coletivo é ainda maior: R$ 45,3 bilhões.

"Os ganhos com a tecnologia extrapolam a fazenda e acabam beneficiando toda a economia", diz a coordenadora do estudo e sócio-analista da Agroconsult, Débora Simões.

Outro benefício é a redução no uso de defensivos agrícolas, que representa uma das principais vantagens estratégicas da tecnologia. Segundo o estudo, o uso de sementes geneticamente modificadas evitou que 839 mil toneladas de herbicidas e inseticidas fossem aplicadas sobre as lavouras dessas três culturas nos últimos 20 anos.

Quase todos os transgênicos aprovados até agora para a agricultura no Brasil - 76 produtos no total - são plantas geneticamente modificadas para serem resistentes a herbicidas ou insetos. O objetivo com isso é facilitar o manejo e melhorar o controle de pragas, o que acaba beneficiando também a produtividade das lavouras - apesar de os genes em si não aumentarem a produtividade das plantas. Segundo o estudo, os transgênicos foram responsáveis por um incremento de 55,4 milhões de toneladas na produção brasileira de grãos desde 1998.

"O produtor não vai pagar mais por uma tecnologia que não lhe traz benefício", diz Adriana Brondani, presidente do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), entidade que encomendou o estudo. "Foi uma revolução no campo", diz o produtor Almir Rebello, presidente do Clube Amigos da Terra em Tupanciretã, interior do Rio Grande do Sul - região em que a soja transgênica começou a ser plantada no País, antes mesmo de 1998, usando sementes contrabandeadas da Argentina (onde a soja RR já estava legalizada havia dois anos). "A facilitação do manejo foi algo impressionante."

Biossegurança

Tudo isso, sem nenhum registro de malefício à saúde humana ou ao meio ambiente, segundo especialistas ouvidos pelo Estado. "No mundo inteiro os transgênicos só trouxeram benefícios", diz Barreto de Castro, ex-chefe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Ele foi o primeiro presidente da CTNBio, órgão responsável por regulamentar a avaliar a biossegurança de transgênicos no Brasil, criado em 1995.

"Até o momento, não existem evidências concretas de que estes produtos possam causar malefício aos seres humanos, animais, vegetais ou ao meio ambiente", diz a atual presidente da CTNBio e professora da Universidade Católica de Brasília, Maria Sueli Felipe. "O processo de análise da biossegurança de organismos geneticamente modificados é rigoroso e absolutamente transparente."

O principal desafio no campo é o manejo das pragas resistentes, que surgem com o uso contínuo de qualquer pesticida - um desafio que, segundo especialistas, não é exclusivo dos transgênicos, mas é potencializado pelo modelo de produção ao qual eles estão associados, que envolve grandes áreas plantadas com uma mesma cultura e tratadas com o mesmo produto.

No caso do milho ou algodão transgênicos resistentes a lagartas, a orientação é para os produtores sempre plantarem uma parte da sua área com variedades convencionais (chamada de refúgio), para reduzir a população de insetos resistentes. Mas isso nem sempre é feito, por diversas razões.

No caso da soja resistente ao glifosato, há poucas alternativas, como fazer rotação de culturas e usar outros produtos para eliminar as ervas daninhas resistentes - tomando o cuidado de não prejudicar a soja. As empresas de biotecnologia, por sua vez, investem no desenvolvimento de plantas resistentes a outros herbicidas. Já há variedades de soja resistentes a até três produtos, além de resistência a insetos. "Solução existe, mas não é algo trivial, que você vai na prateleira e compra. É algo que exige planejamento", afirma o coordenador de Tecnologia e Inovação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré.

Insegurança

Entidades que já questionavam a segurança dos transgênicos na década de 1990, porém, continuam céticas com relação à tecnologia. "É tudo ainda muito obscuro", diz a nutricionista Ana Paula Bortoletto, pesquisadora em alimentos no Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). "Há muitos interesses comerciais se sobrepondo aos reais fatores de segurança."

"Nossa posição se mantém; somos contrários à maneira como esse tema é tratado no Brasil", diz Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em Agricultura e Alimentação. Segundo ela, há muitos conflitos de interesse envolvidos - inclusive dentro da CTNBio - e as liberações "ainda são feitas sem a devida responsabilidade".

Rubens Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, diz que o uso de agrotóxicos aumentou no País nesses 20 anos, e não há certeza sobre a segurança alimentar dos transgênicos, pois nem tudo é rotulado ou monitorado para isso.

'Cardápio' mais variado

Soja, milho e algodão. A receita transgênica é basicamente a mesma há duas décadas; com algumas variações regionais - uma alfafa aqui, uma canola acolá -, mas nada muito além disso, fora do mundo das commodities. Novas tecnologias, porém, prometem ampliar o cardápio de plantas geneticamente modificadas disponíveis para o consumidor nos próximos anos.

Todos os transgênicos colocados no mercado até agora foram desenvolvidos pela técnica de DNA recombinante, na qual genes de uma espécie são transferidos para outra em laboratório, usando diversas ferramentas de engenharia genética. Uma tecnologia eficiente, mas trabalhosa, que exige a geração de milhares de plantas experimentais (chamadas eventos) para se chegar ao produto desejado.

Some a isso o peso de uma regulamentação rigorosa, e o resultado são anos de pesquisa e milhões de dólares em investimento, que só grandes empresas costumam ter fôlego para encarar. Por isso o mercado de transgênicos é dominado por um pequeno grupo de multinacionais.

Com a entrada em campo das novas técnicas de edição genética, as regras do jogo começam a mudar. Coletivamente chamadas de Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão (Timps), elas permitem fazer modificações pontuais no genoma de um organismo, com o objetivo de desligar, diminuir ou aumentar alguma característica genética dele. "Achamos que é uma ferramenta que vai redemocratizar a biotecnologia a nível mundial", afirma Celso Moretti, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A mais promissora das Timps é a técnica conhecida como crisper (Crispr), desenvolvida nos últimos cinco anos, que utiliza uma classe especial de enzimas para alterar, inserir ou apagar informações em pontos específicos do genoma - funcionando como um editor de textos molecular.

Tecnicamente, o crisper é consideravelmente mais simples, rápido e preciso do que as técnicas de DNA recombinante convencionais. E, como a modificação é feita no genoma da própria planta - sem a necessidade de transferir genes entre espécies -, a expectativa é de que as variedades criadas por essas novas metodologias não sejam classificadas como "transgênicas" e, portanto, não precisem passar por todos os testes e processos regulatórios que regem o desenvolvimento e a comercialização desses produtos.

Atores

"Isso coloca de volta no jogo uma série de atores que vinham atuando como coadjuvantes, mas poderão se tornar protagonistas", afirma Moretti. Entre eles, a própria Embrapa. A empresa lançou em julho um edital de R$ 10 milhões, para estimular cientistas da casa a trabalhar com crisper e outras técnicas de edição genética.

"Não vamos mais precisar de tanto tempo e tanto investimento para desenvolver novos produtos", diz o pesquisador Elibio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, um pioneiro da transgenia no Brasil e entusiasta das Timps. "Certamente vai contribuir para aumentarmos a diversidade de organismos geneticamente modificados no mercado."

O cardápio de transgênicos hoje é pequeno, segundos os pesquisadores, nem tanto por uma dificuldade técnica, mas principalmente porque o custo para se fazer todos os testes e obter todas as licenças para colocar um produto no mercado é alto demais.

Das 76 plantas transgênicas aprovadas pela CTNBio em 20 anos, só quatro foram desenvolvidas no Brasil: um feijão resistente a vírus, uma soja resistente a herbicidas, uma cana-de-açúcar resistente a lagartas e um eucalipto que cresce mais rápido e produz mais madeira. "As dificuldades que existem hoje para liberar um produto transgênico são muito grandes", explica Luiz Antonio Barreto de Castro, pesquisador aposentado da Embrapa. Ele defende uma modernização da Lei Nacional de Biossegurança - que ele mesmo ajudou a criar, em 2005.

"Se o sistema fosse mais realista e valorizasse a ciência brasileira, não há a menor dúvida de que já teríamos feito muito mais", diz o biólogo Paulo Arruda, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em genômica e biotecnologia.

Regulamentação

Em julho, o Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu que plantas com características geradas por edição genética são equivalentes a transgênicos e, portanto, devem ser regulamentadas como tal. Pesquisadores de diversos países, incluindo europeus, afirmaram que a decisão carece de lógica científica. "Não faz sentido dizer que mudanças genéticas pontuais, que acontecem aos montes na natureza, são o mesmo que transgenia", defende Arruda.

No Brasil, a CTNBio decidiu em janeiro que produtos gerados por Timps devem passar por uma consulta à comissão, que decidirá, em uma análise caso a caso, se eles se encaixam na definição legal de transgênicos do País. "Cada produto poderá ser considerado transgênico ou não, dependendo das suas características", diz a bioquímica Maria Sueli Felipe, presidente da CTNBio.

A primeira decisão com base nessa resolução foi dada em junho. A CTNBio concluiu que duas leveduras da empresa GlobalYeast, geneticamente modificadas para melhorar a produção de bioetanol, não eram organismos transgênicos. "Acredito que vamos receber muitas consultas desse tipo daqui para a frente", afirma Sueli. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os alimentos produzidos com plantas geneticamente modificadas são seguros para o consumo humano e não causam danos ao meio ambiente, de acordo com análise feita por 50 cientistas e publicada ontem pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. O documento diz, por outro lado, que não há evidências de que a tecnologia de engenharia genética seja capaz de aumentar o rendimento da produção agrícola.

Cerca de 20 cientistas elaboraram o relatório de 400 páginas, após consulta a mais de mil estudos científicos e avaliação de mais de 20 anos de dados sobre doenças e plantações. O foco do relatório foram culturas transgênicas importantes na economia americana.

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O relatório conclui, com base em análises químicas, que os alimentos transgênicos não oferecem riscos à saúde. O grupo também avaliou a incidência de determinadas doenças, comparando suas taxas de ocorrência na América do Norte, onde os transgênicos são parte da dieta desde 1996, e na Europa Ocidental, onde os alimentos biotecnológicos estão pouco presentes. A conclusão é de que "não há evidências de aumento na incidência de câncer, obesidade, doença hepática, autismo, doença celíaca ou alergias alimentares".

Sobre os impactos ambientais, o relatório diz que "não há evidência conclusiva de uma relação de causa e efeito entre culturas transgênicas e problemas ambientais". O uso de variedades resistentes a insetos, segundo o documento, levou a uma redução do uso de inseticidas químicos. O uso de variedades resistentes a herbicidas, por outro lado, levou ao aumento do uso de agrotóxicos.

Segundo o relatório, novas técnicas como a edição de genomas - usada para fazer pequenas modificações genéticas nas plantas - estão deixando cada vez mais tênue a fronteira entre as plantas transgênicas e as convencionais. Isso estaria tornando insustentáveis os sistemas regulatórios existentes, como o controle dos rótulos de produtos com base em plantas transgênicas. Os autores recomendam a criação de um novo sistema que tenha mais foco nos atributos de cada cultura, em vez de voltar a atenção para a maneira como cada uma delas é criada.

O relatório conclui que o uso da biotecnologia trouxe benefícios econômicos a fazendeiros - como a proteção contra insetos -, mas não parece ter acelerado a taxa de rendimento de culturas como milho, soja e algodão. "A conclusão, depois de ler o relatório, é que as plantas transgênicas são mesmo apenas plantas. Elas não são a panaceia que clamam alguns proponentes nem o temível monstro apontado por outros", comentou Wayne Parrott, professor de Ciências do Solo da Universidade da Georgia, segundo o jornal The New York Times.

Isenção

O documento diz que nenhum dos autores atua em empresas de biotecnologia que produzem transgênicos, embora alguns já tenham desenvolvido plantas geneticamente modificadas e tenham sido consultores dessas empresas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão Europeia autorizou a importação e comercialização no bloco de 19 organismos geneticamente modificados (OGM), dois dias depois de propor aos Estados membros uma reforma que permite a eles proibir o uso em seus territórios.

"Antes de sua autorização para ingressar no mercado, foi estabelecida a inocuidade de todos os OGM aprovados hoje", afirma um comunicado da Comissão.

Estes transgênicos destinados à alimentação humana ou animal se somam à lista de 58 produtos já permitidos na UE, com autorizações válidas por dez anos.

De forma concreta, o acordo diz respeito a dez novas autorizações de diferentes variedades de milho, soja e couve das multinacionais americanas Monsanto e DuPont, alemães Basf e Bayer, assim com o algodão da Bayer, e sete renovações de licença para milho, couve e algodão, além de dois tipos de flores transgênicas.

Apesar do destaque dado pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) aos transgênicos, no final de seu discurso, durante o lançamento do Plano Safra, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff ignorou o tema em sua fala, que durou mais de 30 minutos. À saída da solenidade, questionada pelo Estado se era contra os transgênicos, cuja cultura é condenada pelos ambientalistas, a presidente Dilma limitou-se a responder: "claro que não (não sou contra)".

A presidente não quis responder, no entanto, por que não tratou do tema no discurso, e justificou que não concederia entrevista porque estava rouca. Na semana passada ela usou a mesma desculpa para não falar com os jornalistas ao final da cerimônia em defesa do trabalho decente na Copa.

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A senador Kátia Abreu defendeu as sementes geneticamente modificadas em seu discurso e condenou o "rancor e preconceito" em relação a estes produtos. A soja e o milho são os grãos genericamente modificados mais cultivados no País. Conforme dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) de 2011, as sementes geneticamente modificadas desses dois produtos foram responsáveis por quase um terço da renda bruta gerada na lavoura - R$ 57,9 bilhões (30,8%) do Valor Bruto da Produção (VBP), de R$ 188,2 bilhões.

O ministro da Agricultura, Neri Geller, em sua entrevista após a cerimônia, não detalhou quanto o setor vai receber no plano safra lançado ontem, mas disse que vai tratar com "todo carinho" esta cultura. Segundo o ministro, o apoio aos transgênicos está previsto no acesso às novas tecnologias. "O governo tem toda a atenção não só com os transgênicos, mas com todo processo de inovação tecnológica", disse.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região proibiu, nesta quinta-feira (13), a venda do milho transgênico Liberty Link, produzido pela Bayer, nas regiões Norte e Nordeste do país. A venda só poderá ocorrer após estudos serem apresentados à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). O relator da decisão, o desembargador Alfredo Silva Leal Júnior, destacou que não foram feitas pesquisas suficientes e que, por terem diferenças em seus ecossistemas, as duas regiões deveriam ter sido analisadas de acordo com suas características específicas.

“Os estudos não foram feitos em todos os biomas brasileiros e nem tiveram abrangência geográfica capaz de dar conta dos aspectos relacionados à saúde humana, à saúde dos animais e aos aspectos ambientais em todas as regiões brasileiras. Não é possível escolher apenas alguns pedaços do território nacional, segundo a conveniência comercial ou o interesse econômico do interessado para as pesquisas sobre a biossegurança do milho transgênico”, destacou Leal Júnior em sua decisão.

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A sentença refere-se a uma ação civil pública ajuizada em 2007 contra a União pela Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Orgânica (AS-PTA), Associação Nacional de Pequenos Agricultores, Terra de Direitos e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Na ocasião, as entidades argumentaram que os estudos feitos com milho transgênicos eram insuficientes, principalmente com relação a possíveis danos à saúde humana. A ação pedia que a comercialização fosse proibida em todo o Brasil.

Após uma primeira sentença proibir a venda apenas no Norte e Nordeste, as autoras recorreram. A sentença foi reformada e a comercialização acabou sendo liberada em todo o país. No entanto, como o acórdão não foi unânime, foi possível um segundo recurso, chamado embargos infringentes, que resultou na decisão atual.

Na decisão desta quinta-feira, o desembargador acatou ainda pedido das entidades de ampla publicidade dos documentos apresentados nos requerimentos de liberação comercial do milho à CTNBio. Ele terminou que a comissão edite norma quanto aos pedidos de sigilo das empresas sobre informações de interesse comercial, prevendo um prazo para analisar os dados e decidir quais devem ser resguardados. “[O objetivo de proteger as informações de interesse comercial] não pode impedir aos interessados, aos demais agentes públicos e à sociedade em geral o direito e informação e participação”, disse.

A assessoria de comunicação da Bayer informou que a empresa aguardará notificação oficial da decisão da Justiça para se manifestar sobre o assunto.

A Suprema Corte dos Estados Unidos se negou a examinar, nesta quarta-feira, uma apelação que visava a evitar que a gigante do agronegócio Monsanto processasse agricultores que cultivaram de forma não intencional plantas contaminadas com sementes geneticamente modificadas patenteadas pela empresa.

É a segunda vez que a mais alta instância judicial americana se coloca ao lado da Monsanto em sua luta contra os agricultores sobre os direitos de uso de sementes patenteadas, depois de uma decisão ao seu favor, em maio de 2013, referente a um fazendeiro de Indiana.

Neste caso, a Associação de Produtores de Sementes Orgânicas e Comércio (OSGATA, na sigla em inglês) pediu que a Monsanto se comprometesse a não processar os agricultores se, inadvertidamente, eles cultivassem plantas com traços de sementes geneticamente modificadas, patenteadas pela multinacional.

Ao rejeitar a ação, sem fazer comentários, a Suprema Corte manteve a decisão de uma corte federal de apelações, para a qual a iniciativa da OSGATA era injustificada porque a Monsanto já tinha dado garantias vinculantes de que não processaria os agricultores quando só houvesse vestígios de suas sementes transgênicas.

A Monsanto tinha argumentado que atender o pedido dos produtores orgânicos permitiria aos agricultores violar intencionalmente suas patentes.

A empresa apresentou mais de 100 ações judiciais nos Estados Unidos contra vários agricultores, alegando que eles plantaram suas sementes sem pagar por isso.

O laboratório do médico José Xavier Neto está cheio de roedores. Cerca de 2 mil camundongos, acomodados em modernas "gaiolas" de plástico transparente, do tamanho de uma caixa de sapatos, com entrada e saída de ar individuais. Por fora, parecem todos iguais. Limpinhos, impecáveis e ativos, correndo de um lado para outro como personagens curiosos de um desenho animado. Por dentro, porém, há diferenças essenciais entre eles. São animais transgênicos, que tiveram um ou mais de seus genes modificados antes de nascer.

Inaugurado em setembro de 2010, como parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, em Campinas, o Laboratório de Modificação do Genoma (LMG) - que Xavier coordena - foi criado para prestar um serviço essencial à ciência brasileira: a produção de modelos animais geneticamente modificados. Uma ferramenta básica para o avanço das pesquisas médicas e biológicas de diversas áreas, mas historicamente muito pouco usada no Brasil.

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"Estamos falando de uma tecnologia que existe desde 1981", ressalta Xavier, referindo-se ao ano em que foram produzidos os primeiros camundongos transgênicos no mundo. Desde então, o genoma do camundongo já foi completamente sequenciado e praticamente todos os seus genes - 95% dos quais são iguais aos do homem - já foram modificados de uma forma ou de outra para a investigação de processos biológicos básicos e aplicados a doenças humanas.

Só o Laboratório Jackson, um dos maiores fornecedores de camundongos transgênicos do mundo, nos EUA, tem um catálogo com mais de 6 mil variedades e vendeu, só no ano passado, mais de 3 milhões de animais para pesquisadores de 56 países.

No Brasil, porém, a "moda" não pegou. O primeiro camundongo transgênico do País só foi produzido em 2000, na Universidade de São Paulo (USP), e mesmo depois disso nunca se estabeleceu um serviço de produção de linhagens capaz de abastecer a ciência nacional. O jeito é importar linhagens prontas (solução cara e burocrática), desenvolver linhagens próprias (inviável para a maioria dos laboratórios) ou se limitar a fazer pesquisas in vitro (solução mais simples, porém de menor impacto científico). "Definitivamente perdemos o bonde dessa tecnologia", diz Xavier. "Não só ela não foi incorporada como não se desenvolveu uma cultura de usar esses animais aqui."

O LMG foi pensado para reverter esse quadro, operando simultaneamente como centro de pesquisa e prestação de serviços, produzindo animais transgênicos customizados para pesquisadores de todo o País. Se um cientista precisa de um animal transgênico, ele faz a encomenda, fornece as especificações, o LMG produz o animal e manda para ele. Tal qual um escritório de engenharia executa um projeto para um arquiteto. Só que a engenharia, neste caso, é genética. E a arquitetura, biológica.

As duas primeiras encomendas - feitas por Lygia Pereira, da USP, e Francisco Laurindo, do Instituto do Coração (Incor) - começaram a ser produzidas neste mês. O serviço é gratuito para projetos de pesquisa pública.

Antes de abrir o balcão, porém, o LMG já produziu cerca de 50 linhagens de camundongos transgênicos, utilizando nove genes diferentes, para projetos de pesquisa internos do laboratório. Vários deles, voltados para pesquisas cardíacas, relacionadas ao desenvolvimento e ao funcionamento do coração - herança, em parte, dos 21 anos em que Xavier foi pesquisador do Incor.

Outras 15 linhagens foram importadas do Laboratório Jackson, por US$ 6,5 mil (cerca de US$ 230 por animal). O Estado presenciou a chegada das últimas quatro, no início do mês: oito camundongos em uma caixa de plástico com comida e água em forma de gel. São animais com um grau a mais de complexidade transgênica. Eles têm uma enzima no organismo que funciona como um interruptor molecular, que permite aos cientistas ligar ou desligar as modificações genéticas onde e quando desejarem. Por exemplo: só no tecido cardíaco ou só na fase adulta do animal.

A ideia é cruzar esses bichos com as linhagens customizadas do laboratório, combinando o interruptor já embutido nos pais com os genes que serão colocados no genoma dos filhos. "O bicho já vem com o interruptor, a gente só acrescenta a lâmpada", compara Xavier.

Engenharia genética

Para produzir os animais transgênicos, os cientistas injetam em seus embriões pedaços de DNA especialmente montados em laboratório (chamados "construções"), contendo o gene de interesse da pesquisa e uma série de outros códigos genéticos associados ao seu funcionamento.

Seja qual for o método aplicado, a ideia é que essa construção se integre ao genoma do embrião e passe a funcionar como se fosse parte original dele - algo como embutir um software genético no sistema operacional do bicho. Dependendo do que estiver escrito nesse software, ele pode executar uma série de funções, como inibir a ação de algum outro gene ou ordenar a superexpressão de uma proteína cuja função os cientistas desejam estudar. "O limite é a imaginação do pesquisador", diz Xavier.

Manipulações que não podem ser feitas em seres humanos. Mas que, pela semelhança genética entre homens e camundongos, podem dar contribuições diretas para o conhecimento da biologia humana e para a cura de doenças.

As ninhadas primogênitas das duas primeiras encomendas são esperadas para outubro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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