Tópicos | Escritório do Crime

Conhecido após ser suspeito da morte da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL), o Escritório do Crime teria assassinado três políticos do Rio de Janeiro. É o que aponta o livro "Decaído", do jornalista Sérgio Ramalho, que conta a história do ex-chefe do grupo Adriano da Nóbrega.

A obra que será lançada nesta sexta (5) atribui as mortes do deputado estadual Ary Ribeiro Brum (2007), e dos vereadores Nadinho de Rio das Pedras (2008) e Alberto Salles (2009) ao grupo de extermínio.

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A morte de Ary Barros teria sido encomendada pelo ex-sócio, o empresário Lindemberg Sardinha Meira, na compra de um hospital em Papucaia. A motivação seria um rombo de R$ 800 mil nas contas da sociedade. Nadinho de Rio das Pedras, como era conhecido Josinaldo Francisco da Cruz, tinha envolvimento com milícias, enquanto Alberto Salles teria denunciado a atuação de milicianos semanas antes de ser executado.

O envolvimento com a família Bolsonaro também foi citado no livro. Antes de se envolver com o crime, Adriano da Nóbrega era capitão do Bope e possuía uma relação próxima com a família do ex-presidente, sendo condecorado pelo atual senador Flávio Bolsonaro (PL) e tendo familiares em seu gabinete. Adriano fugiu do Rio de Janeiro e foi morto em fevereiro de 2020 pela Polícia Militar da Bahia.

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A morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes segue sem respostas após 1.461 dias. O assassinato da vereadora há quatro anos ainda não tem justificativa nem a identificação do mandante, mas expôs a atuação criminosa das milícias no Rio de Janeiro e provocou suspeitas que abalaram o Planalto.

Na última quarta (9), os pais de Marielle, Marinete e Antônio da Silva, foram à Delegacia de Homicídios da Capital para conversar com o quinto delegado a assumir o inquérito. Duas pessoas foram presas, mas os resultados inconclusivos e os indícios de obstrução e vazamentos de informações sigilosas motivaram uma onda de protestos e a cobrança internacional por uma resposta digna das autoridades brasileiras.

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Nesta segunda-feira (14), quatro anos após o assassinato, a memória das duas vítimas foi homenageada em uma missa na Igreja da Candelária e o pedido por Justiça será reforçado em um evento aberto ao público no Circo Voador.

ESCRITÓRIO DO CRIME

As investigações sobre a morte da parlamentar eleita com mais de 40 mil votos chegaram ao policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz, apontados como executor e motorista do carro que emboscou o de Marielle, de onde saíram 13 tiros. Desses, cinco acertaram a cabeça da vereadora e três as costas de Anderson.

A arma do crime e o carro clonado usado pelos suspeitos ainda não foram encontrados. Contudo, a participação levou a descoberta de ações do Escritório do Crime, uma milícia responsável por matar sob a encomenda de políticos e bicheiros. O ex-capitão da PM Adriano Nóbrega e o major Ronaldo Paulo Pereira seriam os comandantes do grupo ilegal de agentes de Segurança.

FAMÍLIA BOLSONARO

Bem antes do caso Marielle, major Pereira e Nóbrega foram agraciados com a maior condecoração do Legislativo estadual a pedido do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Em 2005, Adriano era acusado de homicídio e recebeu a medalha Tiradentes no batalhão prisional. Questionado, Flávio confirmou que solicitação e disse que Adriano era um "herói".

O filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro também tinha a ex-esposa e a mãe do ex-capitão em seu gabinete na Assembleia Legislativa. Ambas são suspeitas de serem funcionárias fantasma entre os assessores que devolviam parte do salário no suposto esquema de 'rachadinha' mantido pelo atual senador. O Ministério Público do Rio de Janeiro estima que mais de R$ 6 milhões foram desviados no gabinete.

Nóbrega era procurado pela Justiça do Rio e, em fevereiro de 2020, decidiu fugir para a Bahia por medo de ser morto como "queima de arquivo", justificou o advogado Paulo Emílio Preta. "Ele disse que essa operação não seria para prendê-lo, mas para matá-lo", apontou.

O suposto líder do Escritório do Crime foi executado por policiais no sítio do vereador Gilsinho da Dedé do PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito. O ex-capitão estava com 13 celulares e quatro armas de fogo, e teria sido morto após revidar disparos na tentativa de fuga. 

CONDOMÍNIO

No dia da morte de Marielle, o registro de entrada do Condomínio Vivendas da Barra apontou que o carro de Élcio foi autorizado pela casa nº 58. A residência era ocupada por Jair Bolsonaro, que também tinha como vizinho Ronnie Lessa. Um suposto relacionamento entre a filha de Lessa e Renan, filho mais novo do presidente, chegou a ser apurado, mas o envolvimento foi negado pelos jovens.

O porteiro confirmou que a entrada de Élcio foi liberada por "sr. Jair" e as anotações de registro constataram a versão. Bolsonaro negou o envolvimento e acusou o então governador Wilson Witzel de interferir nas investigações. A acusação indicou que o chefe do Planalto teve acesso a informações sigilosas.

Em seguida, o chefe do Planalto ordenou ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro que o porteiro fosse interrogado novamente. No segundo depoimento, o funcionário do condomínio disse que teria se enganado e classificou a "confusão" como um erro da portaria.

Também morador do Vivendas da Barra, o vereador Carlos Bolsonaro recolheu os áudios originais do interfone da portaria e postou em suas redes sociais. Ele associou a voz que autorizou a entrada de Élcio a do próprio Ronnie Lessa.

A perda da prova original obstruiu as investigações e chegou a ser denunciada ao procurador-geral da República Augusto Aras. O PGR pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) que arquivasse a acusação ao alegar que não houve problema na coleta dos áudios feita por Carlos.

PLACA

A morte de Marielle foi levada ao palanque na campanha eleitoral carioca de 2018. Candidatos da esquerda criticavam a obscuridade e as falhas das investigações, enquanto a ala bolsonarista disseminou informações falsas sobre a vida e a atuação da vereadora.

Uma placa com o nome da parlamentar foi colocada na Praça Marechal Floriano em um evento com seus admiradores. Depois, o deputado estadual Rodrigo Amorim e o federal Daniel Silvera, reuniram opositores no mesmo local e quebraram a placa junto com o governador Wilson Witzel.

Na semana passada, os dois deputados tiraram uma foto sorrindo com metade da placa emoldurada no gabinete de Amorim ao lado da representação de um fuzil e uma foto de Flávio Bolsonaro.

O caso vai a júri popular e os acusados, Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, serão julgados por duplo homicídio qualificado por motivo torpe, emboscada e sem oferecer chances de defesa.

 

O delegado Daniel Rosa, titular de Delegacia de Homicídios do Rio, afirmou nesta terça-feira (30) que o grupo miliciano Escritório do Crime não tem envolvimento com a morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.

Atualmente à frente das investigações sobre o atentado, ocorrido em 14 de março de 2018, Daniel Rosa também participou da operação Tânatos, deflagrada na manhã desta terça e que prendeu dois irmãos suspeitos de estarem à frente do Escritório de Crime.

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A participação de integrantes desse grupo miliciano foi descartada porque eles cometeram outro assassinato no mesmo momento em que Marielle e Anderson foram mortos.

"Inicialmente, (a participação do grupo) foi uma das linhas de investigação. Essas pessoas foram investigadas, e concluiu-se que no momento da execução da vereadora, elas estavam no restaurante aqui na Barra da Tijuca matando o Marcelo Diotti", afirmou o delegado à TV Globo.

Diotti, que já havia sido preso por homicídio e exploração de máquinas de caça-níqueis, era visto como desafeto por seus executores.

"Em razão desse confronto de horários e de datas, foi possível, após uma investigação profunda, esclarecer que eles não participaram do homicídio da vereadora Marielle", assegurou Rosa.

Aliado político e amigo da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) disse, nesta segunda-feira (27), que a morte da parlamentar revelou um “subterrâneo” da política carioca. Segundo ele, há um projeto político que é capaz de matar e quem integra o grupo será descoberto apenas quando a polícia identificar quem mandou matar Marielle.

“É um crime contra a democracia, não é mais um homicídio, não digo isso porque ela é mais importante outros assassinados, mas a Marielle não foi assassinada com bala perdida ou com um assalto. É o crime mais planejado na história do Rio de Janeiro. Planejado politicamente”, observou Freixo em conversa com o LeiaJá, durante passagem pelo Recife.  

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“A grande pergunta é quem mandou matar? Se não soubermos não saberemos a razão política da morte dela e não saber a razão política significa dizer que tem um grupo político que é capaz de matar para fazer política que vai continuar existindo. A partir do momento que você tem um projeto político capaz de matar é muito grave”, acrescentou.

Sobre a expectativa de um desfecho positivo da investigação, agora que Jorge Alberto Moreth, chamado de Beto Bomba, entregou-se à polícia e foram descobertas, pela Polícia Federal, intervenções nas investigações, Freixo disse que “foram muitos erros nessa investigação”, mas o crime “não pode ficar sem solução”. Ele é considerado um dos chefes do chamado ‘Escritório do Crime’, apontando como o grupo miliciano envolvido no assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.

“O crime contra Marielle revela um subterrâneo do Rio de Janeiro que estava nebuloso há muito tempo. Chega numa relação de crime, polícia e política que o Rio nunca foi capaz de encarar. A Polícia Federal claramente diz ‘eles se arrependeram de matar Marielle’, talvez eles esperavam que fosse mais uma morte de uma mulher negra. A Mari virou um símbolo que eles não esperavam e desdobra num olhar para o Rio de Janeiro, de um esgoto que muita gente fazia parte. Não podemos deixar esse crime sem solução, por tudo que virou e representa. Pegar quem matou foi importante, agora tem que chegar em quem mandou matar”, argumentou o deputado federal.

A Polícia Federal encontrou provas de que houve atos de corrupção por agentes da Delegacia de Homicídios da Capital, no Rio de Janeiro, para impedir o esclarecimento de assassinatos que envolvem milicianos membros do chamado "Escritório do Crime" e integrantes da máfia do jogo do bicho na capital carioca. As informações são do site UOL. A delegacia é a mesma que investiga os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

De acordo com a reportagem, ao menos dois delegados estariam na folha de pagamento do "Escritório do Crime" e a propina era paga na sede da delegacia. Um dos delatores da investigação, o ex-PM Orlando de Araújo, mais conhecido como Orlando Curicica, já chegou a dizer que membros do "Escritório" pagavam uma mesada a alguns policiais da Delegacia de Homicídios para que algumas práticas não chegassem aos responsáveis.

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A PF agora apura se houve obstrução na investigação sobre a morte de Marielle e Anderson - a polícia já confirmou o envolvimento de milicianos com o crime. Oito inquéritos da delegacia estão sob a análise da PF por determinação da Procuradoria Geral da República (PGR).

O "Escritório do Crime" é composto, principalmente, por policiais e ex-policiais de grupos de elite da polícia, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope). O sargento reformado da PM Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos que matou Marielle e Anderson, foi do Bope.

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