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O Projeto de Lei 5467/19 reverte em benefício dos povos indígenas os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental cometida em terras indígenas.

Apresentado pela deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), a proposta está em análise na Câmara dos Deputados. O texto altera a Lei dos Crimes Ambientais e o Estatuto do Índio.

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“As queimadas na Região Amazônica foi tema que ocupou a mídia nacional e internacional recentemente, fato que suscitou também a necessidade de proteção aos povos indígenas da região”, disse Joenia. “Entres as causas não naturais que envolvem as queimadas na região, foi noticiada a atuação de fazendeiros, inclusive com denúncias de serem responsáveis por queimadas dentro de terras indígenas”, completou.

“Diante dessas situações, nada mais justo do que reverter em benefício dos povos indígenas os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental cometida em suas terras”, concluiu.

Tramitação

A proposta será analisada em caráter conclusivo pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; de Direitos Humanos e Minorias; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

*Da Agência Câmara Notícias

 

O Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) enviou um documento para a Fundação Nacional do Índio (Funai) pressionando a instituição para que cancele a demarcação de terra indígena no sul da Bahia. A iniciativa da EMBRATUR visa beneficiar um grupo privado português. Esse caso está sendo caracterizado como uma forma inédita de lobby envolvendo um órgão federal sobre outro em benefício de uma empresa privada.

O documento foi enviado pelo Instituto Brasileiro de Turismo no último sábado (26). No documento do lobby, divulgado pelo site The Intercept, o instituto escreveu para o presidente da Funai o seguinte: "A EMBRATUR vem à presença de Vossa Senhoria Manifestar seu interesse no encerramento do processo de demarcação de terras indígenas Tupinambá de Olivença, localizadas especialmente nos municípios de Una e Ilhéus, Estado da Bahia". 

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A EMBRATUR tenta justificar que a área tem um potencial desenvolvimento turístico e o Grupo Vila Galé teria intenção de investir R$ 200 milhões, o que - de acordo com a EMBRATUR - geraria mais de 500 empregos diretos e 1.500 empregos indiretos. 

O instituto de turismo disse à Funai que é fundamental o fim da demarcação das terras indígenas na região e que indicou que a fundação deveria apoiar a viabilização do "polo turístico Ilhéus-Una". 

O Ministério Público Federal (MPF) informou ao deputado federal Coronel Chrisóstomo (PSL) que não vai participar da audiência pública sobre mineração, programada para ocorrer nesta sexta-feira, 4, em Porto Velho (RO). A audiência é da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados e vai abordar a exploração, comercialização e exploração de minérios em Rondônia, bem como a exploração de minérios em terras indígenas. O tema tem relevância para várias etnias de Rondônia, mas os indígenas não foram convidados para participar da audiência pública. Por esta razão, o MPF decidiu também não participar.

Várias associações indígenas publicaram em conjunto uma nota de repúdio sobre a falta de convite para a audiência pública, principalmente por ter a mineração em terra indígena como um dos tópicos do debate. 

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“Todos os indígenas de Rondônia precisam ser provocados a se manifestar sobre a exploração mineral em terra indígena. Por isso, sugerimos ao deputado federal Coronel Chrisóstomo que os próximos eventos desta natureza sejam amplamente divulgados, com convites às associações, e não se restringindo a realização na capital do estado, pois muitas das comunidades podem não ter condições operacionais ou financeiras para vir a Porto Velho”, afirma a procuradora da República Gisele Bleggi.

A procuradora também informou que as audiências públicas da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados são muito importantes, mas não substituem a consulta livre, prévia e informada exigida pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, nem a oitiva constitucional prevista Constituição Federal, no Congresso Nacional, antes da votação de qualquer projeto de lei que venha a regular a prática de mineração em terras indígenas.

Da assessoria do MPF

A Polícia Federal deu início, na manhã desta segunda-feira (26), às ações no âmbito da Operação Verde Brasil, com o objetivo de identificar, reprimir e investigar eventuais delitos ambientais perpetrados na região da Floresta Amazônica.

A PF se junta às Forças Armadas, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA e à Força Nacional para a atuação conjunta nas áreas de fronteira, nas terras indígenas e nas unidades federais de conservação ambiental, dando cumprimento ao Decreto nº 9.985/2019, que visa estabelecer ações para a garantia da lei e da ordem.

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Na manhã desta segunda, um avião da Força Aérea Brasileira - FAB decolou da Base Aérea de Brasília levando uma equipe de policiais federais composta por delegados, escrivães, agentes e peritos criminais para a região.

Além desse efetivo especialmente deslocado para a operação, todas as Superintendências e Delegacias localizadas na Amazônia Legal estão mobilizadas em tempo integral para identificar e reprimir qualquer ação criminosa na esfera ambiental.

A PF esclarece, ainda, que em cumprimento a Despacho do Sr. Presidente da República, instaurou inquérito policial para investigar a possível existência de ações premeditadas que teriam ocasionado queimadas e focos de incêndio criminosos na área da Floresta Nacional de Altamira.

*Do site da Polícia Federal

 

A Agência Nacional de Mineração (ANM) deverá indeferir todos os requerimentos de pesquisa mineral ou lavra que atinjam territórios indígenas no Estado do Amazonas. A determinação da Justiça Federal atende a um pedido de liminar apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas.

O pedido do MP é para que a agência mantenha suspensos os pedidos de acesso à mineração em terras indígenas no Estado. Isso evitaria que, hipoteticamente, esses pedidos sejam atendidos em um momento em que a mineração nestas áreas seja autorizada em lei.

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Na decisão liminar, informou o MPF, "a Justiça reconheceu a ilegalidade praticada pela ANM em manter os processos administrativos em espera e concedeu um prazo de 45 dias para que a agência cumpra a determinação". A Justiça determinou também a proibição de sobrestamento de novos requerimentos incidentes sobre as terras indígenas, inclusive os de permissão de lavra garimpeira. O sobrestamento é a suspensão temporária de um processo até que uma outra questão que o afete seja definida e a análise do processo seja retomada.

No início de agosto, a ANM indeferiu mais de 50 processos que estavam sobrestados há anos, alguns desde 1984, por incidirem em terras indígenas do Médio Rio Negro, em municípios como Barcelos (a 399 quilômetros de Manaus) e São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros da capital).

Levantamento feito pela organização WWF-Brasil, com informações da própria ANM, apontam que há 4.073 requerimentos de títulos minerários em trâmite incidentes sobre terras indígenas na Amazônia Legal. Desses, 3.114 encontravam-se bloqueados até a definição do marco regulatório sobre mineração em terras indígenas.

Por lei, é proibida a mineração em terra indígena. O artigo 231 da Constituição Federal prevê que a pesquisa e a lavra de recursos minerais nessas áreas "só podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei". Isso significa que não cabe ao presidente Jair Bolsonaro liberar ou não esse tipo de exploração.

Criação de gado

Na semana passada, uma ação realizada no Mato Grosso pelo Ibama e Funai autuou duas propriedades rurais com áreas que invadiam os limites da terra indígena Pequizal do Naruvotu, localizada no município de Canarana, em Mato Grosso.

Segundo informações dos órgãos, foram embargados 6.310 hectares de terra, uma área regularmente desmatada para a criação de gado, impedindo a regeneração de vegetação nativa da Amazônia.

Uma das propriedades mantinha um rebanho de aproximadamente 4 mil bovinos dentro da terra indígena, causando dano ambiental a uma área de 2.181 hectares. Na outra, cerca de 1.400 hectares de vegetação secundária foram transformados em alimento para cerca de 990 cabeças de gado. As multas aplicadas aos dois casos somam R$ 17,9 milhões.

A exploração de terras indígenas para produção também é proibida por lei. Se os índios querem produzir em suas terras, podem fazê-lo em áreas definidas, mas não podem arrendar essas áreas a terceiros. As infrações foram comunicadas por ofício ao Ministério Público Federal, que vai apurar as responsabilidades em âmbito criminal. O Ibama não divulgou a identidade dos produtores que invadiram as terras.

Esse tipo de autuação é o que mais tem incomodado o presidente Jair Bolsonaro, que diz reiteradamente que vai abrir as terras indígenas para exploração pelo agronegócio e mineração. Bolsonaro também diz que não vai demarcar mais nenhuma terra indígena no País, embora haja mais de 120 áreas em processo avançado de demarcação na Funai.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira, 2, que avalia fazer uma consulta pública sobre a liberação de mineração em terras indígenas antes de enviar ao Congresso um projeto de lei sobre o tema. O objetivo é ouvir as críticas antes do início da tramitação da proposta.

"O que tenho vontade de fazer, antes de apresentar um projeto polêmico, é publicar o anteprojeto de lei, para ter críticas", disse ele, ao sair do Palácio da Alvorada no período da manhã.

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Como o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) mostrou o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal, afirmou que a proposta ainda está sendo escrita pelo governo e deve ser enviada ao Legislativo em agosto ou setembro.

"Temos que resolver esse assunto. Não dá para continuar assim. Temos, por exemplo, que explorar potássio na foz do Rio Madeira (Amapá). Importamos quase 100% do potássio da Rússia. Temos problemas lá com reservas indígenas. O índio deve ser, de fato, dono de sua terra. Explorar, garimpar, se quiser, com lei, plantar, arrendar, explorar turismo. Já tem aldeia indígena aí onde o pessoal pode ficar numa boa explorando turismo em sua área, mostrando a sua tradição, sua cultura, as maravilhas naturais", disse Bolsonaro.

O presidente contestou a pesquisa do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira, que aponta que 86% da população não apoia a atividade de mineração em terras indígenas. Para ele, isso se deve a uma imagem distorcida do que é atividade. "Acredito que pode ser um número compatível. Quando se fala em garimpo, vem a imagem do cara com jato d'água, desbarrancando tudo. De vez em quando, vem com escafandro no fundo do rio. Não é assim. Esse garimpo é industrial, geralmente."

Para Bolsonaro, se não houver a regularização do garimpo no País, as pessoas continuarão explorando ilegalmente. "O garimpeiro vive disso. São seres humanos. Se você não regulamentar ou legalizar, eles vão continuar fazendo isso. Algumas vezes de forma inadequada. Queremos dar dignidade ao garimpeiro, evitar o uso de mercúrio e fazer exploração sustentável", disse.

A regulamentação que o governo pretende fazer do garimpo no País e da mineração em terras indígenas deverá buscar novos modelos de exploração e não apenas dar um "salvo-conduto" à forma como a atividade é desenvolvida hoje.

De acordo com o secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Alexandre Vidigal, o objetivo das mudanças é aproveitar as riquezas minerais beneficiando quem realiza a atividade, dentre eles, os garimpeiros e os próprios índios. O modelo de aproveitamento, no entanto, ainda não foi definido pelo Executivo.

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"Nosso pensamento não é dar um salvo-conduto para situações que sejam maléficas à coletividade. O que queremos é que nessa relação, a exploração seja do mineral, não dos envolvidos, não dos garimpeiros, não dos índios", afirmou Vidigal ao Estadão/Broadcast.

De acordo com ele, a regulamentação dos dois tipos de atividade entrou na pauta do governo porque gera riqueza e enfrenta o problema da exploração clandestina com consequências ambientais e sociais.

Um grupo de trabalho criado em 2017 por determinação do Tribunal de Contas da União deve finalizar neste ou no próximo mês projeto de lei que trata da autorização da mineração em terras indígenas. Ele é formado pelo Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente, Casa Civil, Funai e Ibama.

A Constituição permite que a exploração de minérios seja feita nessas áreas, porém, mediante regulamentação, o que nunca foi feito. Um decreto de 2004 determina que a exploração só pode ser efetivada com autorização do Congresso após discussão com as comunidades envolvidas e que parte dos recursos seja destinada à região.

O presidente Jair Bolsonaro também disse, na semana passada, que o governo pretende regulamentar o garimpo no País. Na quarta-feira, 31, ao jornal O Globo, ele afirmou que pretende criar "pequenas Serras Peladas" Brasil afora, que poderiam ser exploradas tanto por estrangeiros como por povos indígenas. Um grupo de estudo sobre o assunto foi criado no Ministério de Minas e Energia há duas semanas.

"Temos o firme propósito neste governo de transformar o patrimônio mineral brasileiro em riqueza", disse Vidigal. Questionado se o exemplo usado pelo presidente não dava uma ideia negativa, já que milhares de pessoas morreram em Serra Pelada (PA) nos anos 80 pela exploração desenfreada, Vidigal minimizou a questão e disse que Bolsonaro se refere à produção de riquezas e não ao caos do local, que ficou conhecido como "formigueiro humano".

Segundo o secretário, lideranças indígenas tem procurado o governo para pedir que se avance na discussão sobre a liberação da exploração mineral em suas terras. Mas representantes dos índios, por outro lado, têm dito que o governo ainda não os procurou para debater os termos do projeto.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira, 1º, manter a demarcação de terras indígenas com a Fundação Nacional do Índio (Funai), conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo. O julgamento desta quinta-feira, que marcou a retomada das atividades do STF neste semestre após um mês de recesso, representa a segunda derrota que o plenário da Corte impõe ao governo do presidente Jair Bolsonaro.

Em junho, os ministros do STF impuseram o primeiro revés ao Palácio do Planalto ao decidir por unanimidade colocar limites à extinção de conselhos por Bolsonaro. O tribunal determinou naquela ocasião que o governo federal não pode extinguir conselhos que tenham sido criados por lei.

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Na sessão desta tarde, os integrantes do STF decidiram confirmar uma liminar concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso. Em junho, Barroso deu uma decisão monocrática (individual) suspendendo trecho de uma nova medida provisória que transferia a demarcação para o Ministério da Agricultura. "À Funai, vinculada ao Ministério da Justiça, é quem cabe o papel de demarcação de terras indígenas. Há matérias em que vigoram as escolhas políticas dos agentes eleitos, e há matérias em que prevalecem a Constituição", disse Barroso nesta quinta-feira.

A controvérsia foi alvo de quatro ações ajuizadas por partidos políticos - PSB, Rede Sustentabilidade, PT e PDT.

O tema também expôs as tensões na relação do Planalto com o Congresso Nacional e o STF. Ao assumir o comando do governo, em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que reestruturava o governo e transferia a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura. O texto foi aprovado pelo Congresso Nacional, mas com alterações - uma delas foi justamente manter essa responsabilidade com a Funai.

Após a derrota parcial no Parlamento, o governo contrariou o Congresso e editou uma nova medida provisória, em mais uma tentativa de deixar com a pasta da Agricultura a demarcação, o que foi suspenso por Barroso. A mudança da transferência da demarcação é um pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das maiores bancadas do Congresso.

"O comportamento do atual presidente revelado na atual edição de medida provisória rejeitada pelo Congresso no curso da mesma sessão legislativa traduz uma clara, inaceitável transgressão à autoridade suprema da Constituição Federal e uma inadmissível e perigosa transgressão ao princípio fundamental da separação de poderes", disse o ministro Celso de Mello, decano do STF.

Celso fez o voto mais longo e a fala mais contundente de crítica ao governo Bolsonaro durante a sessão. Nos últimos meses, o decano tem se tornado um dos principais porta-vozes do Supremo em defesa da liberdade de manifestação e do tribunal. O ministro se aposenta compulsoriamente em novembro de 2020, quando completa 75 anos.

Autoritarismo

No julgamento sobre a demarcação de terras indígenas, Celso ainda afirmou que comportamentos ofensivos ao princípio da divisão de poderes "acabam por gerar no âmbito da comunidade estatal situações instauradoras de desrespeito concreto ao sistema de poderes limitados".

"O regime de governo e as liberdades da sociedade civil muitas vezes expõem-se a um processo de quase imperceptível erosão, destruindo-se lentamente e progressivamente pela ação ousada e atrevida quando não usurpadora dos poderes estatais, impulsionados muitas vezes pela busca autoritária de maior domínio e controle hegemônico sobre o aparelho de Estado e direitos e garantias básicas do cidadão", afirmou o decano.

"Parece ainda haver na intimidade do poder um resíduo indisfarçável de autoritarismo, despojado sob tal aspecto quando transgride a autoridade da Constituição. É preciso repelir qualquer ensaio de controle hegemônico do aparelho de Estado por um dos poderes da República", completou.

Para a ministra Cármen Lúcia, o governo Bolsonaro fez uma "agressiva confrontação" com o texto da Constituição ao reeditar uma medida provisória rejeitada pelo Congresso Nacional.

Antes mesmo da sessão, integrantes do governo já davam como certa a derrota do Planalto no STF.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pediu esforços para garantir a segurança dos índios Waiãpi, no oeste do Amapá, após a invasão das terras por garimpeiros, denunciada no último sábado (27). O cacique Emyra Waiãpi foi encontrado morto, e as lideranças locais afirmam ter se tratado de um assassinato. O Exército, a Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) estão na região investigando o caso, em parceria com a Polícia Militar do estado e o Ministério Público.

Por meio de rede social, Davi afirmou que as terras dos Waiãpi são alvo frequente de invasões por serem ricas em minério. O fato de a região ser afastada e de difícil acesso contribui para a ocorrência de conflitos. Ele considera de extrema importância a intervenção das forças de segurança diante da gravidade da situação.

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“Os esforços devem ser concentrados em garantir a segurança e o direito dos povos indígenas, que sempre viveram nessa região, direito garantido constitucionalmente”, disse o presidente.

O líder da oposição, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acompanha a situação e chegou a gravar um vídeo, no dia da denúncia, criticando a demora por parte da Funai e da Polícia Federal em reagirem à situação. Segundo ele, havia a possibilidade de uma tragédia.

Randolfe disse, ainda, que a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA) preparam uma notificação dirigida ao governo brasileiro a respeito do caso. Os ministérios da Justiça e do Meio Ambiente serão interpelados pelos órgãos internacionais, informou o senador.

“O documento irá questionar a necessidade de intervenção de forças internacionais para o episódio ocorrido no último final de semana e seus desdobramentos, uma vez que ambas as organizações não aprovam o tipo de administração que está sendo adotada pelo governo”.

O senador Fabiano Contarato (Rede-AP), presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, manifestou solidariedade aos Waiãpi e aproveitou para criticar a proposta do governo federal de liberar as atividades de mineração em terras indígenas.

“A pretexto de fomentar o desenvolvimento econômico, o projeto coloca em risco as populações locais e significa o desmonte de conquistas ambientais. Impor aos povos indígenas que aceitem garimpos nas terras em que vivem subverte a estrutura social dessas comunidades por meio da exploração de suas riquezas mineiras. Isso é mais que inaceitável, é um crime contra a humanidade”, denunciou.

Outros senadores da oposição também chamaram atenção para o acontecimento em suas redes sociais:

Eliziane Gama (Cidadania-MA)

“É inaceitável o que ocorre no território do povo Waiãpi no Amapá, relatos absurdos de invasão das terras por garimpeiros e assassinato de líderes Waiãpi. É necessária uma ação rápida do poder público. Não podemos aceitar agressões, não podemos aceitar a barbárie”.

Humberto Costa (PT-PE)

“O povo Waiãpi não era vítima de violência há mais de 20 anos. Se hoje assassinos se sentem autorizados a matar indígenas, é porque têm o respaldo e o estímulo do presidente da República”.

Paulo Paim (PT-RS)

“O assassinato do líder indígena Emyra Waiãpi, por garimpeiros, no Amapá, é uma tragédia anunciada. É preciso identificar os culpados e puni-los, conforme a lei. O aumento da violência contra os indígenas é uma constante: nos últimos 3 anos, mais de 200 foram mortos”.

 

*Da Agência Senado

 

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu liminarmente trecho de Medida Provisória do governo Jair Bolsonaro (PSL) que transferiu a demarcação de terras indígenas para a competência do Ministério da Agricultura, comandado pela ministra Tereza Cristina. O ministro acolheu pedidos em ações movidas pela Rede Sustentabilidade, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT).

A decisão faz com que a função volte, provisoriamente, à Fundação Nacional do Índio (Funai).

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O texto da MP agora suspenso pela decisão do ministro prevê que a competência da Agricultura compreende a identificação, o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos "e das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas". A mudança é um pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), maior bancada do Congresso.

Segundo Barroso, a "transferência da competência para a demarcação das terras indígenas foi igualmente rejeitada na atual sessão legislativa". "Por conseguinte, o debate, quanto ao ponto, não pode ser reaberto por nova medida provisória. A se admitir tal situação, não se chegaria jamais a uma decisão definitiva e haveria clara situação de violação ao princípio da separação dos poderes".

"A palavra final sobre o conteúdo da lei de conversão compete ao Congresso Nacional, que atua, no caso, em sua função típica e precípua de legislador. Está, portanto, inequivocamente configurada a plausibilidade jurídica do pedido, uma vez que, de fato, a edição da MP 886/2019 conflita com o art. 62, §10, CF", escreve.

"Está presente, ainda, o perigo na demora, tendo em vista que a indefinição da atribuição para demarcar as terras indígenas já se arrasta há 6 (seis) meses, o que pode, por si só, frustrar o mandamento constitucional que assegura aos povos indígenas o direito à demarcação das áreas que ocupam (art. 231, CF) e comprometer a subsistência das suas respectivas comunidades", anotou.

Derrota no Congresso

Em seu primeiro dia de governo, Bolsonaro havia editado uma MP para mudar a estrutura dos ministérios e aproveitou para fazer mudanças na Fundação Nacional do Índio (Funai). O texto transferia o órgão do Ministério da Justiça para o da Mulher, da Família e do Direitos Humanos, e tirava da Funai sua principal função: a demarcação de terras indígenas.

O Congresso, no entanto, devolveu a Funai à Justiça - junto com todas as suas competências, incluindo a demarcação. Pela nova MP, o Planalto transferiu outra vez a tarefa da demarcação para a Agricultura, mas desta vez não tira a Funai da Justiça.

Procuradoria

A Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal manifestou "perplexidade" com a decisão do governo federal de devolver a demarcação de terras indígenas ao Ministério da Agricultura.

Para o órgão da Procuradoria, a medida é um "desrespeito ao processo legislativo, afrontando a separação de Poderes e a ordem democrática" ao reeditar matéria já rejeitada pelo Congresso Nacional.

A nota da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, assinada por seu coordenador, o subprocurador-geral da República Antônio Carlos Bigonha, foi divulgada na última quarta-feira, 19, o mesmo dia em que a Medida Provisória 886 foi publicada.

Para a Procuradoria, a nova MP do governo federal "viola a Constituição, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), além de desrespeitar o processo legislativo".

A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz, determinou que os 700 indígenas remanescentes da etnia Guarani que residem no Pico do Jaraguá fiquem restritos a um território de pouco mais de três hectares. Segundo a Defensoria Pública de São Paulo, a juíza emitiu a portaria baseada em uma lei de 1999 que teria “caducado” em 1994, ou seja, para a defesa o processo correu em cima de uma lei que não existia no começo do processo e, por essa razão, a Defensoria solicitou a impugnação da decisão.

O impasse sobre a demarcação de terras indígenas começou a se intensificar em setembro do ano passado, quando um grupo de 100 pessoas ocupou a área onde estão instaladas as antenas de transmissão de emissoras de rádio, TV e de empresas de telefonia da cidade de São Paulo. Na ocasião, os guaranis ameaçaram cortar o sinal dessas antenas e desligar subestações de energia, o que afetaria também o funcionamento de trens da CPTM.

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Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a questão é de responsabilidade do governo federal. Com o recesso do STJ, as férias dos ministros que ocorrem durante o mês de janeiro e a chegada do Carnaval, é possível que a decisão só seja revista após esse período.

Índios guarani ocuparam o Parque Estadual do Jaraguá no início da manhã de hoje (13) para protestar contra a anulação do processo de demarcação de suas terras. Cerca de 532 hectares reivindicados pelos guarani mbya foram liberados pelo governo para que façam parte das dependências do espaço e sejam incluídos no processo de concessão de parques à iniciativa privada. Participaram do ato índios guarani e tupi do litoral paulista, terena e tupi do interior e indígenas de Guarulhos.

O processo de demarcação foi interrompido pelo governo federal a pedido de Geraldo Alckmin. O território indígena se sobrepõe à area do parque estadual em alguns trechos e impede que ele seja negociado. De acordo com representantes do povo guarani, a iniciativa da administração pública interfere em 25 Unidades de Conservação (UCs) que poderão ser utilizadas para práticas como ecoturismo e extração de madeira.

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A região Oeste da cidade de São Paulo possui 700 indigenas e suas terras foram reconhecidas em 1980, demarcadas por 1,7 hectare. Antes desse período, o governo estadual construiu a Rodovia dos Bandeirantes, dentro das terras reivindicadas pelas cinco aldeias que ocupam o território. Em 2013, os líderes indígenas enviaram um relatório técnico que reconhecia pouco mais de 532 hectares como sendo terras guarani. O governo estadual pediu a suspensão do processo por não ter tido a chance de contestar o pedido. 

O Brasil "fracassou" em proteger os direitos dos povos indígenas. A constatação foi feita por relatores da ONU em documentos que serão utilizados como base para um exame na sexta-feira, 5, da política de direitos humanos do Brasil, em Genebra. "É motivo de preocupação o fracasso do estado em proteger as terras indígenas de atividades ilegais, especialmente em mineração e madeireiros", indicaram relatores das Nações Unidas, citados no informe distribuído para todos os governos.

Nesta semana, em reuniões preparatórias para o exame do Brasil na ONU, governos já indicaram que o recente caso de violência contra indígenas no Maranhão reforçará o debate sobre a questão de demarcação de terras e os recursos para a Fundo Nacional do Índio (Funai). O grupo teria sido alvo de pistoleiros.

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Mas antes mesmo do caso, os documentos da ONU distribuídos aos governos já apontavam como alarmante o "nível de violência contra os povos indígenas".

A sabatina faz parte de um mecanismo criado pelas Nações Unidas para analisar a situação de todos os países e que obriga os governos a darem respostas a cada quatro anos. Para se preparar para o questionamento, a ONU elaborou um raio-x completo sobre a situação brasileira. No documento, uma das principais preocupações se refere justamente à situação dos grupos indígenas.

Congresso

Para os relatores da ONU, existe ainda "uma tentativa contínua no Congresso de enfraquecer as proteções constitucionais e legislativas de direitos indígenas". Entre os exemplos citados está o novo código de mineração e a Proposta de Emenda Constitucional 215. A emenda pretende dar ao Congresso a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas, hoje com o Poder Executivo. Um substitutivo ainda proíbe as ampliações de terras indígenas já demarcadas. Para os grupos indígenas, isso é uma tentativa de dar mais poder à bancada ruralista.

Um dos obstáculos identificados pelos relatores é a questão do financiamento da Funai. Ainda que a relatoria elogie o Brasil pelo papel "construtivo da Funai", ela se diz "preocupada" com o corte de recursos. De acordo com o informe, equipes da ONU no Brasil relataram que a Funai "tem sofrido um agressivo corte de orçamento e que hoje está em seu nível mais baixo nos últimos dez anos".

A saúde dos povos indígenas também é uma preocupação. De acordo com a ONU, apenas 57,9% das crianças são registradas em seu primeiro ano de vida. "A equipe (da ONU no país) ainda indica que crianças indígenas são as principais vítimas de mortalidade infantil no Brasil. Eles têm duas chances mais de morrer antes de completar 1 ano, com muitos casos resultando de doenças que poderiam ser prevenidas", indicou.

Documentos obtidos pela reportagem ainda mostram que governos como da Alemanha, Bélgica e outros já deixaram claro que estão preocupados com a situação da demarcação de terras e dos confrontos. Berlim chega a citar relatórios da ONU em que falam de uma regressão nas condições dos povos indígenas.

Resposta

O Brasil terá a chance de dar uma resposta a esses temas na sexta-feira, em Genebra. Uma delegação será enviada pelo governo de Michel Temer. De acordo com o Itamaraty, ela será composta pela ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, pelo subsecretário-geral de Assuntos Políticos Multilaterais, Europa e América do Norte do Itamaraty, embaixador Fernando Simas Magalhães, pela secretária-executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e por Maria Inês Fini, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

Mas num documento preliminar, o governo já indicou que admite que o "desafio do Brasil é de ir adiante com a regularização das terras indígenas". Ao mencionar uma série de medidas sociais para atender às necessidades dos povos indígenas, o governo ainda reconhece que eles "continuam entre os grupos mais vulneráveis da população brasileira no que se refere à renda, mortalidade infantil, desnutrição, saúde, educação e acesso a saneamento".

Parlamentares da oposição protocolaram uma representação contra o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) sob a acusação de ter praticado crime de racismo durante uma palestra realizada no Clube Hebraica, na zona sul do Rio, na última segunda-feira (3).

Na ocasião, o parlamentar fez afirmações preconceituosas e jocosas sobre negros, indígenas, mulheres, gays, refugiados e integrantes de ONGs. Na peça, os petistas afirmam que, durante a palestra, Bolsonaro disse que tinha ido a um quilombo e que o "afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas". "Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais."

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O deputado teria dito ainda que o governo gastava mais de R$ 1 bilhão por ano com os quilombos, e que, se ele fosse eleito presidente da República, não iria "ter nenhum centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola".

Na representação, os deputados e senadores afirmam que Bolsonaro "ainda não percebeu que o País evoluiu, a sociedade acordou e não aceita, não compactua e não silenciará jamais diante de condutas desse jaez".

O documento também registra ser "importante destacar que o representado é reincidente nas violações de direitos humanos e em ataques da espécie, de modo que sua conduta social e os caminhos tortuosos por ele trilhado agravam as ofensas aqui delineadas e certamente deverão ser consideradas na persecução penal".

Para a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que participou da entrega da representação ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o parlamentar precisa sofrer uma "punição severa", já que Constituição torna o crime de racismo um crime inafiançável.

"Ele é racista, preconceituoso, machista, ele é tudo isso. Como a gente vai aceitar que um parlamentar, que está investido de autoridade, de imunidade, que tem que representar o interesse da população, possa dizer uma coisa dessa impunemente", afirmou.

Se entender que houve crime, a Procuradoria-Geral da República poderá entrar com um pedido de abertura de inquérito contra o deputado no Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro já é réu no Supremo sob a acusação de incitação pública ao crime de estupro, por ter declarado que "não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não mereceria".

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) criticou a presença do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) numa palestra no Clube Hebraica, na zona sul do Rio, realizada na segunda-feira (3). Na ocasião, o parlamentar fez afirmações preconceituosas e jocosas sobre negros, indígenas, mulheres, gays, refugiados e integrantes de ONGs, e defendeu que todo brasileiro tenha uma arma de fogo em casa. Foi muito aplaudido e ouviu gritos de apoio, sendo chamado de "mito" por parte da plateia.

Em nota divulgada na terça-feira (4), a Conib não cita os posicionamentos expressos pelo deputado, mas diz que a comunidade judaica defende "o respeito absoluto a todas as minorias". A fala de Bolsonaro foi para um auditório lotado. O público era de cerca de 500 pessoas. Na porta, integrantes da comunidade judaica, que haviam se levantado veementemente contra a presença do deputado na Hebraica nas semanas anteriores à palestra, protestavam.

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Na Hebraica de São Paulo, a mobilização da comunidade levou ao cancelamento do mesmo evento com Bolsonaro. A reportagem está tentando uma resposta da Hebraica no Rio sobre a controvérsia, mas não recebeu resposta até a publicação desta matéria. O clube judaico foi fundado há 60 anos e oferece atividades esportivas e sociais a seus membros.

Na íntegra da nota, a Conib afirma: "A palestra de Jair Bolsonaro na Hebraica do Rio de Janeiro nesta segunda-feira, 3 de abril, provocou, como se esperava, divisão e confusão na comunidade judaica. A Conib apoia o debate político e acha que ele é sempre necessário. Ainda mais neste momento de desdobramentos dramáticos da política nacional. Defendemos, porém, que esse debate tenha critérios e seja pautado, sempre, pelo equilíbrio e pela pluralidade. Nossa comunidade abriga uma grande diversidade de pensamento, e os dirigentes comunitários precisam ter isso claro para bem cumprirem seu papel. A comunidade judaica defende, de forma intransigente, os valores da democracia e da tolerância e o respeito absoluto a todas as minorias."

Na palestra, Bolsonaro falou de sua pré-candidatura à presidência da República em 2018. "Se eu já chegar lá, não vai ter dinheiro para ONG, eles vão ter que trabalhar", "todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa" e "não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou quilombola" foram algumas das frases de Bolsonaro mais aplaudidas.

"Se algum idiota vier falar comigo sobre misoginia, homofobia, racismo, 'baitolismo', eu não vou responder sobre isso. Eu quero falar sobre como tirar o Brasil da miséria. Eu não tenho nada a ver com homossexual. Se o bigodudo quer dormir com careca, vai ser feliz", declarou.

Bolsonaro desdenhou dos protestos contra ele na porta do clube: "Alguém já viu japonês pedindo esmola por aí? É uma raça que tem vergonha na cara. Não é como essa minoria que está ruminando aqui embaixo".

Sob protestos de cerca de 100 pessoas do lado de fora do clube Hebraica, na zona sul do Rio, e aplaudido diversas vezes no auditório lotado por outras 300, o deputado federal e pré-candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSC-RJ) prometeu que irá acabar com todas as reservas indígenas e comunidades quilombolas do País caso seja eleito em 2018. Ele também afirmou que irá terminar com o financiamento público para ONGs e disse que, se depender dele, "todo mundo terá uma arma de fogo em casa".

Bolsonaro discursou por uma hora em uma palestra precedida por muita polêmica. O convite do clube Hebraica do Rio surgiu no início do mês passado, pouco depois de o deputado ter sua palestra na sede paulista da Hebraica cancelada devido ao descontentamento de parte da comunidade judaica com o evento. Mas o convite para discurso no Rio também provocou indignação.

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Mesmo assim, Jair Bolsonaro se mostrou bem à vontade. "O pessoal aí embaixo (manifestantes) eu chamo de cérebro de ovo cozido. Não adianta botar a galinha, porque não vai sair pinto nenhum. Não sai nada daquele pessoal", desdenhou, enquanto discursava no auditório localizado no sétimo andar. Foi aplaudido.

Vendo que seu discurso estava sendo bem aceito, minutos mais tarde ele voltou a fazer piada sobre os manifestantes. "Vou pedir para um assessor meu dar um pulinho aí no bar. Compra um sanduíche de mortadela que eu vou jogar pela janela."

O deputado foi incisivo, e como de costume não mediu palavras. Atacou os ex-presidentes petistas Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a cúpula do PSDB está sendo atingida pela Lava Jato e não poupou nem mesmo o seu partido.

"O PSDB, por exemplo. Eu não posso afirmar nada, mas de acordo com os delatores toda a cúpula tá na Lava Jato. Se é verdade ou não, não sei. Mas eu não vou criticar o PSDB, porque o meu PSC, quando abrir de vez a tampa da latrina...", comentou. Mais tarde, referiu-se a Dilma e Lula fazendo piada de gosto duvidoso, mas que arrancou risos e aplausos da plateia. "Tinha lá uma ensacadora de vento na presidência. Não precisa falar mais nada. Tínhamos outro energúmeno que não sabia contar até dez porque não tinha um dedo. Uma vergonha pro nosso Brasil!"

Curiosamente, logo no início do discurso Bolsonaro declarou que não se acha um bom nome pra presidir o Brasil. "Eu não sou bom, não. Mas os outros são muito ruins. Me esculacham tanto e mesmo assim eu continuo subindo nas pesquisas", ironizou.

Boa parte da "palestra", que acabou mesmo como discurso de campanha, serviu para Jair Bolsonaro criticar medidas adotadas pelos ex-presidentes petistas, sobretudo às que dizem respeito à demarcação de terras. "Pode ter certeza que se eu chegar lá (presidência da República) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou pra quilombola."

Para Bolsonaro, as reservas indígenas e quilombolas atrapalham a economia. "Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso daí", afirmou. "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles."

O presidenciável também fez críticas a refugiados. "Não podemos abrir as portas para todo mundo", disse. Mas não se mostrou avesso a todos os estrangeiros. "Alguém já viu algum japonês pedindo esmola? É uma raça que tem vergonha na cara!" (Marcio Dolzan - marcio.dolzan@estadao.com)

O Ministério da Justiça exonerou o diretor de proteção territorial da Fundação Nacional do Índio (Funai), Walter Coutinho Júnior. A demissão do diretor que respondia pela área de demarcações de terras na Funai foi publicada nesta quarta-feira (8) no Diário Oficial da União (DOU).

A decisão, oficializada pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ocorre 20 dias após Coutinho Júnior ter criticado as mudanças que o Ministério da Justiça fez no processo de demarcação de terras indígenas em todo o País.

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Segundo a Funai, o servidor é funcionário concursado pelo Ministério Público Federal no Amazonas e ocupava o cargo comissionado na Funai. Seu prazo para continuar cedido não teria sido renovado pelo MPF. Seu substituto nas demarcações será o servidor da Funai Manoel Batista.

No dia 19 de janeiro, Coutinho Júnior enviou uma carta ao presidente da Funai, Antônio Fernandes Toninho Costa, pedindo a revogação imediata de uma portaria do Ministério da Justiça.

No documento técnico, o diretor fazia duras críticas a uma série de problemas da portaria 68, que criava uma nova estrutura para acompanhar o processo de demarcação de terras, o chamado Grupo Técnico Especializado (GTE), com o propósito de "fornecer subsídios em assuntos que envolvam demarcação de terra indígena".

Em sete páginas, o diretor de proteção territorial da Funai rebatia cada um dos pontos polêmicos da proposta, relatando a surpresa com que a Funai recebeu a notícia sobre as mudanças. "É preciso assinalar que a expedição de um ato dessa natureza não chegou sequer a ser cogitada junto à Funai ou discutida antecipadamente com seus órgãos técnicos", afirmou no documento. "O que se pode constatar, de plano, é a carência de motivação técnica, ou quiçá até mesmo jurídica, para a adoção dos critérios especificamente elencados pela portaria, além, evidentemente, da ausência de clareza na sua formulação."

A polêmica e as críticas de movimentos e organizações sociais foram tão grandes em torno da portaria que, quatro dias depois de publicada, o Ministério da Justiça, ao qual a Funai é vinculada, decidiu revogar o texto e editar uma nova versão. O texto da nova portaria, porém, mantém a criação do Grupo Técnico Especializado (GTE) e sua finalidade básica, que será a de validar os trabalhos técnicos realizados pela Funai.

Na avaliação de Walter Coutinho, a portaria criou "mais uma instância formal de avaliação e intervenção no procedimento de demarcação das terras indígenas brasileiras", função que, por lei, cabe à Funai desempenhar.

O Ministério Público Federal vai pedir a revogação da portaria do Ministério da Justiça, que alterou o processo de demarcação de terras indígenas. Na avaliação da procuradoria, o teor da portaria 68, publicada nesta quarta-feira, 18, no Diário Oficial da União, é ilegal, fere a Constituição e a jurisprudência sobre o tema tratado pelo Supremo Tribunal Federal.

Com a portaria, o Ministério da Justiça criou uma nova estrutura para acompanhar o processo de demarcação de terras. O que antes era uma atribuição técnica da Fundação Nacional do Índio (Funai), passa agora a ter que ser submetido ao crivo de um Grupo Técnico Especializado (GTE), que terá o propósito de "fornecer subsídios em assuntos que envolvam demarcação de terra indígena".

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Nesta quinta-feira, 19, o coordenador da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF e subprocurador-geral da República, Luciano Maris Maia, esteve em reunião com o presidente da Funai, Antônio Fernandes Toninho Costa. A portaria das demarcações não era o tema original do encontro, mas acabou sendo debatida durante a reunião.

"Deixei clara a situação de flagrante ilegalidade dessa portaria. Vamos solicitar ao ministro Alexandre de Moraes a revogação dessa portaria", disse à reportagem o subprocurador Luciano Maris Maia. "O que é mais assustador é que essa modificação no processo não indica sinais de melhoria, mas sim transparece o objetivo de que as demarcações não ocorram. O governo não quer aprimorar ou aperfeiçoar o processo de demarcação, quer paralisá-lo."

Pela portaria 68, o grupo será composto por representantes da Funai, Consultoria Jurídica, Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. "O GTE avaliará os processos de demarcação de terra indígena submetidos à decisão, subsidiando o Ministro de Estado da Justiça e Cidadania", diz o texto. "O GTE poderá recomendar a realização de diligências, a serem cumpridas no prazo de noventa dias."

Segundo Luciano Maris Maia, a jurisprudência do STF indica que a definição de terras indígenas cabe exclusivamente ao corpo técnico da Funai. "Essa portaria coloca no caminho um agente formado por órgãos que não conhecem a causa indígena. É claramente ilegal e inconstitucional", diz o coordenador da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, que trata especificamente dos temas relacionados aos grupos indígenas, quilombolas e comunidades extrativistas, entre outros.

Surpresa

A reportagem apurou que o novo presidente da Funai, Antônio Fernandes Toninho Costa, que está há apenas três dias no cargo, foi surpreendido com a publicação da portaria. Costa se comprometeu em pedir uma reunião com o ministro Alexandre de Moraes para tratar do assunto.

Organizações ligadas aos direitos dos povos indígenas, como o Instituto Socioambiental (ISA) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), fizeram duras críticas ao teor da portaria, que reduz o papel decisório da Funai ao submeter seus relatórios a outro grupo formado por não especialistas.

Mudança de plano

Segundo o subprocurador Luciano Maris Maia, a decisão do Ministério da Justiça de publicar uma portaria sobre o assunto deve-se ao fato de o governo não ter conseguido avançar com o decreto presidencial que pretendia publicar no fim do ano passado. O inteiro teor do decreto foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 12 de dezembro. "A divulgação antecipada do plano fez o governo abortar o projeto. O que o Ministério da Justiça fez agora é tentar aproveitar parte daquele decreto presidencial para avançar no mesmo tema com uma portaria ministerial."

Procurado, o Ministério da Justiça não se manifestou até o fechamento desta reportagem.

O Ministério da Justiça criou uma nova estrutura para acompanhar o processo de demarcação de terras indígenas no País. Para especialistas e organizações ligadas aos direitos dos povos indígenas, a medida vai criar mais dificuldades para que esses processos sejam concluídos. Hoje há, pelo menos, 280 processos de demarcação em andamento em todo o País.

Em portaria publicada nesta quarta-feira (18) no Diário Oficial da União, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, autoriza a criação do Grupo Técnico Especializado (GTE), que terá o propósito de "fornecer subsídios em assuntos que envolvam demarcação de terra indígena".

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A definição de terras a serem demarcadas sempre foi uma atribuição da Fundação Nacional do Índio (Funai), que se baseia em laudos técnicos para apresentar o relatório de demarcação e submetê-lo ao Ministério da Justiça, que referenda a decisão e a encaminha à Casa Civil. Agora, porém, um novo agente administrativo passa a atuar entre a Funai e o ministério.

Para o jurista Carlos Frederico Marés, que presidiu a Funai entre 1999 e 2000, a mudança tem o propósito claro de segurar as demarcações. "O que está se criando é um nível intermediário entre o nível técnico e político. Trata-se de uma comissão para agir politicamente e burocratizar a demarcação. É um passo a mais para travar o processo", disse.

Pela portaria 68, o grupo será composto por representantes da Funai, Consultoria Jurídica, Secretaria Especial de Direitos Humanos e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. "O GTE avaliará os processos de demarcação de terra indígena submetidos à decisão, subsidiando o Ministro de Estado da Justiça e Cidadania", diz o texto. "O GTE poderá recomendar a realização de diligências, a serem cumpridas no prazo de noventa dias."

Outro ponto polêmico do texto diz respeito a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), afirma a advogada do Instituto Socioambiental (ISA), Juliana Batista. A portaria determina que o GTE deve verificar se os estudos elaborados no âmbito da Funai cumpriram "jurisprudência do STF" sobre a demarcação de terras indígenas.

"Acontece que as decisões do STF sobre demarcação de terras não têm efeito vinculante e referem-se a casos específicos", afirma Juliana. "Dessa forma, não há uma jurisprudência que possa ser aplicada a todos os casos indistintamente."

Para Marés, a tentativa de vincular os processos a decisões do STF tem o propósito de pressionar os técnicos da Funai em suas avaliações. "São medidas para causar constrangimento nos funcionários que fazem os relatórios de demarcação. Se houvesse jurisprudência do STF para todos os casos, isso nem precisaria estar na portaria. Bastaria que se cumprisse a lei", comenta.

O pedido de mais uma CPI foi protocolado na Câmara dos Deputados. Desta vez, a proposta é para a criação de um colegiado para apurar denúncias de fraudes nas demarcações de terras indígenas e quilombolas, pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

O autor do requerimento é o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS). Ele quer apurar como é feito o levantamento das terras, como ocorre a escolha do antropólogo responsável pelo trabalho e como é o relacionamento da Funai e do Incra com os demais órgãos públicos envolvidos nas demarcações. Moreira também quer investigar denúncias de influência de organizações não governamentais (ONGs) nos processos decisórios de demarcações de terras.

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"Estas são indagações que preocupam a todos os que se sentem responsáveis pela condução dos destinos do Brasil. A CPI poderá responder de modo cabal, auxiliando inclusive na elaboração de uma nova política voltada para os índios e remanescentes de quilombos mais adequada à nossa realidade”, sustentou.

Quatro CPIs já estão em funcionamento na Câmara: a da Petrobras, a da violência contra jovens negros e pobres, a do sistema carcerário e da máfia das órteses e próteses. Apenas cinco podem funcionar simultaneamente e há oito pedidos aguardando análise.

Com informações da Agência Câmara.

 

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